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O emprego dos sonhos, para muita gente, envolve boa remuneração, flexibilidade no horário produtivo e nenhum (ou curtos) deslocamentos de casa para o local de trabalho. Estas características foram amplificadas em um novo movimento batizado como lazy job – ou ‘trabalho preguiçoso’, em português. É difícil saber se o conceito pode ser avaliado como uma tendência, sendo talvez mais adequado classificá-lo como um movimento, que surgiu nos EUA, após a influenciadora americana Gabrielle Judge, de 26 anos, nomear o seu trabalho como #lazygirlsjob, em uma publicação que viralizou no Tik Tok.
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Gabrielle, uma representante da chamada geração Z – pessoas nascidas a partir dos anos 1990 até meados dos anos 2010 – busca estimular suas seguidoras a procurarem trabalhos menos estressantes, remotos e bem remunerados. Conforme publicado em reportagem no site da Exame, que entrevistou Gabrielle, o princípio do lazy job cresceu com a pandemia de Covid-19, quando muitos profissionais adotaram o trabalho remoto, e envolve basicamente quatro premissas:
- trabalho com horários flexíveis (de preferência remoto ou híbrido);
- bons salários, de acordo com o mercado;
- trabalho menos estressante;
- foco no equilíbrio entre o trabalho e vida pessoal (a proposta é ter tempo para cuidar da saúde física e mental, não apenas trabalhar).
O lazy job assemelha-se, em alguns aspectos, ao quiet quitting, movimento que pode ser traduzido como “saída silenciosa”, ou “renúncia silenciosa”. No entanto, em vez de envolver indiretamente um pedido de demissão, o lazy job busca a prática de trabalhar apenas o necessário para sua função.
Lazy job pede boa remuneração, sem esforço excessivo
Vitor Silvério, gerente sênior de Parcerias Estratégicas da empresa de Recursos Humanos Robert Half, analisa o novo conceito de lazy job.
“A ideia é ter um emprego com boa remuneração, mas que não exija esforço excessivo, como ficar muito tempo após o expediente ou perder muito tempo no trânsito, permitindo que as pessoas tenham energia para investir em outras atividades além do trabalho,” afirma o gestor.
O executivo comenta que o lazy job representa uma resposta dos profissionais a desgastantes anos de trabalho e demandas intensas, mas, como todo modelo de trabalho, é preciso identificar os pontos negativos que podem ser gerados ao mercado e ao profissional. Dentre eles, Silvério destaca o risco de o movimento levar à estagnação profissional e afetar a motivação, com falta de ambição que inibe crescimento na carreira. Além disso, não se dedicar tanto ao trabalho pode impedir o desenvolvimento de novas habilidades e competências.
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Ideia de ‘trabalho preguiçoso’ é relativa
Mas, apesar da tradução literal, o conceito de lazy job não está necessariamente associado à ‘preguiça’, como mostra a própria trajetória de Gabrielle Judge. A moça não fica parada no ponto e, mesmo tão jovem, acumula bastante experiência e atividades profissionais paralelas.
Gabrielle Judge contou à Exame que, após conseguir um emprego dos sonhos em sua área de formação, Ciência da Computação, na Universidade do Colorado, antes da pandemia rumou para outro emprego em uma boa empresa que oferecia ótimos benefícios, mas alguns fatores a incomodavam.
“Muito do tempo ocupado no escritório não é produtivo. Me vi em uma sala separada fazendo reuniões online o dia todo. E percebi que os deslocamentos ocupavam muito do meu tempo pessoal”, contou a influenciadora.
Em menos de um ano, Gabrielle decidiu deixar esse emprego e criar seu próprio negócio. Investiu no modelo de trabalho que ela nomeou como lazy girls job.
“A tendência do lazy job inspirou muitos novos empreendimentos para mim, como minha próxima palestra TEDx, um contrato de livro e a arrecadação de fundos para construir uma startup de Inteligência Artificial, para criar mais transparência em torno do equilíbrio entre vida profissional e pessoal”, revelou a profissional.
Lazy Job pode ser modelo para muitos profissionais
Muitas pessoas questionam por que a palavra girls surgiu associada ao novo conceito de lazy job. Gabrielle explicou que só incluiu o termo ‘meninas’, no nome, porque 70% dos seus seguidores são mulheres, mas argumentou que esse estilo de trabalho pode ser adotado por todos os gêneros. Para a influenciadora, o lazy job é uma “mentalidade” que exige autoconhecimento.
“A geração mais jovem está interessada em progredir através da aprendizagem de novas competências e da procura da melhor oferta de emprego. Isso vai contra o status quo tradicional, então há muitos sistemas de crenças que você precisa reconstruir para ingressar no estilo de vida profissional de um lazy job. É por isso que faço tanto conteúdo sobre isso e nunca fico sem ideias”, disse Gabrielle.
Movimento gera tanto críticas quanto apoio
Ao comentar o novo conceito, a coaching executiva Milena Brentan disse que há tanto críticas quanto apoio ao movimento.
“Enquanto uns falam que a geração Z foi muito mimada pelos pais, outros defendem mais qualidade de vida. A geração Z nasce olhando para si nas redes sociais e no ambiente físico de uma maneira só. É uma geração que nasceu em um cenário de crise de meio ambiente e guerras, além de avanços da tecnologia. Dizer que o lazy job é um comportamento de uma geração mimada é muito simplista. Lideranças de RH precisam avaliar como fazer para que essa geração trabalhe cada vez melhor,” argumentou Milena, acrescentando que o “lazy job não é necessariamente bom ou ruim, é uma tendência que precisa ser refletida, pois cada geração provocou uma disrupção de comportamento no mercado de trabalho”.
Quais são as principais características de cada geração
Nesse contexto, Milena analisa as principais características de cada geração no mundo do trabalho.
Baby Boomer (nascidos em torno de 1945 a 1964): essas pessoas cresceram em um contexto pós-guerra. Com a necessidade de estabilidade econômica e reconstrução após a guerra, a lealdade ao trabalho era um valor fundamental. A tecnologia da época era limitada e as oportunidades eram mais escassas. Essa geração tinha fidelidade ao trabalho e mantinha-se em um único emprego por longos períodos.
Geração X (nascidos em torno de 1965 a 1984): essa geração viveu o surgimento das primeiras formas de tecnologia, como computadores e comunicação eletrônica. Essas pessoas se destacaram por sua independência e adaptabilidade.
Geração Y, ou Millennials (nascidos entre 1985 e 1997): marcada pela ascensão da tecnologia e da Internet. Essa geração buscava propósito em seus trabalhos, valorizando o equilíbrio entre vida pessoal e profissional, e desafiava a hierarquia tradicional.
Geração Z (nascidos em meados dos anos 1990 até meados dos anos 2010): cresceram em um mundo impulsionado pela tecnologia e conectividade constante. Eles se destacam por sua adaptabilidade, capacidade de multitarefa e busca por oportunidades diversas. A noção de ter um único emprego para a vida toda não é mais a norma.
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Milena Brentan defende uma espécie de multiplicidade e diversidade no mercado de trabalho. “Ao mesmo tempo que estamos falando da geração Z, por outro lado há o etarismo, pessoas com mais de 50 anos com dificuldade de conseguir um emprego. Muitos empregadores acham o jovem preguiçoso, mas não querem contratar o profissional mais velho. Precisamos ter uma perspectiva de resolução e buscar entender o que tem de bom em cada característica geracional,” afirma a coaching.