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IA não é o único caminho e tecnologias digitais demandam regulamentação

Presente na SXSW, professor contesta furor em torno da corrida tecnológica

sxsw © - Shutterstock
por Carla Zacconi abril 17, 2024
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O termo inteligência artificial (IA) vem sendo adotado de forma ampla e irrestrita e há uma corrida das empresas por investimentos em tecnologia, para que consigam alcançar todas as funcionalidades previstas pela ferramenta. Mas, será que tudo se resume à IA, um “Deus onipotente” que deve guiar todos os negócios?

O diretor do Núcleo de Inovação e Tecnologias Digitais da Fundação Dom Cabral, Hugo Tadeu, acredita que não. Após sua participação no South by Southwest (SXSW), em março, em Austin, nos EUA, um dos maiores eventos de tecnologia, inovação e cultura do mundo, o professor teceu vários comentários sobre o comportamento “manada” em torno da IA e o que é realmente importante para a condução dos negócios, sendo a tecnologia um meio e não um fim.

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Hugo Tadeu (Foto: Divulgação)

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Um dos pontos destacados por Hugo Tadeu em sua coluna no B9 é a necessidade de regulamentação em torno do uso de tecnologias digitais. O professor lamenta que pouco tenha sido debatido sobre esse aspecto na SXSW 2024 e torce para que o tema entre em pauta no evento em 2025. Ele argumenta que este seria “um bom momento para a criação de regras claras de uso da IA, sempre pensando nos benefícios para a sociedade em geral”. Um dos problemas visualizados pelo diretor é que a valorização dos preços dos ativos das empresas de tecnologia nunca obteve um crescimento tão significativo, mas com comportamento questionável, relacionado a uma possível “bolha”.

Uso inadequado de dados

“A crença por livre mercado, inclusive para a tecnologia digital, gera inúmeras oportunidades para inovações, crescimento e potencial impacto na produtividade. Por outro lado, existe a gestão do risco, uso inadequado de dados, informações não qualificadas sendo geradas a todo minuto, centralização de investimentos via fundos privados, viés nas decisões tomadas e empregos sendo perdidos”, argumenta o executivo. “Seria um bom momento para surfar a onda da IA, mas com o papel fundamental na criação de regras claras de uso”, acrescenta.

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Para Hugo Tadeu, o atual “sistema de crenças” em torno da IA precisa ser revisto. “Existe um conjunto de crenças sendo estabelecido, no qual tudo deveria passar por algum sistema inteligente, em um mundo cada vez mais rápido, com muitas atividades simultâneas e com conhecimento sendo vendido em pílulas”, explica. Segundo o professor, “o poder da IA é enorme, com amplo potencial ainda para exploração e análise”. Por outro lado, há uma vasta produção de conteúdos, alguns com qualidade questionável.

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“Riscos emergentes surgem desta corrida digital. A exposição por dados em inúmeros aplicativos de imagem, voz, vídeos e textos traz, consigo, o risco de vazamento de dados, atuação de hackers e apropriação indevida por possíveis criminosos, com inúmeras finalidades perigosas”, adverte Tadeu.

Hugo Tadeu lamenta que, em paralelo à corrida pela IA, indicadores sobre o ambiente econômico, resultados de testes educacionais e análises sobre a saúde mental e orgânica humana são questionáveis. E o índice FAANG (Meta, Amazon, Apple, Netflix e Google) nunca teve uma valorização tão expressiva. “No final das contas, para qual Deus estamos servindo? Será que tudo se resume a IA?”, indaga Tadeu. “Talvez, uma avaliação sobre as nossas crenças atuais poderia ser repensada a partir de boas perguntas, obviamente, sem o ChatGPT”, provoca.

Novo Índice da FDC e PwC

O cenário de corrida digital levou o Núcleo de Inovação e Tecnologias Digitais da FDC, em parceria com a PwC, a criar o Índice de Transformação Digital Brasil (ITDBr), a fim de sugerir caminhos importantes nesta agenda. A partir de uma metodologia única e proprietária, o índice, que foi apresentado na SXSW, considera aspectos como governança, análises de dados e tecnologias digitais, incluindo diversos setores relevantes da economia brasileira, como o agronegócio. 

O novo índice deparou-se com um primeiro desafio: a maturidade digital das organizações brasileiras é baixa. Os gargalos estariam nos modelos de governança, estratégias de negócio, prioridades na gestão de projetos, acesso à capital para investimentos e perfil do diretor de tecnologia, muito centrado em agendas estruturantes e menos na jornada do cliente.

Mas, Hugo Tadeu explica que, apesar do furor em torno de temas complexos como indústria 4.0, redes blockchain, IA, web3 e modelos generativos, o Índice baseia-se na sugestão de melhorias nos modelos de gestão mais básicos e na busca por resultados tangíveis.

‘’Nossas sugestões são mais simples, isto é, sabemos que é preciso adotar uma lista de problemas de negócios e entender quais tecnologias digitais com rápida aplicação podem ser incorporadas. O papel da alta liderança na compreensão destes assuntos é primordial, indo além do uso de aplicativos digitais. O futuro estaria em um presente muito bem-organizado e com a clareza dos resultados econômicos que a transformação digital traria para o negócio”, explica Hugo Tadeu.

Gastos em marketing estão elevados

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© – Shutterstock

Segundo Hugo Tadeu, no primeiro dia do SXSW, afirmou-se que o gasto pelas principais empresas de tecnologia do mundo em marketing estaria em patamares elevados, talvez, em níveis superiores aos investimentos em P&D. O professor questionou a ideia de inúmeros futuristas apontando a IA como um caminho único para as empresas. Ele afirma que, a partir do ITDBr, “há pistas e necessidades mais básicas, antes do futuro ser dito artificial”.

“Antes de pensar em qualquer ponto da IA, seria prudente dar dois passos para trás e estruturar temas mais elementares, como uma visão estratégica adequada, governança interna e criação de funções de liderança para tecnologia, além de organizar a capacidade de investimento do negócio, adotar indicadores de resultado, trabalhar a higienização da base de dados e formar pessoas habilitadas para o mundo que anda sendo desenhado. Caso estas dimensões de negócio não sejam trabalhadas, o risco para a não utilização das novas tecnologias digitais, em seu potencial pleno, estaria sendo desenhado”, explicou Tadeu.

Tecnologia não é finalidade, mas meio

Na linha de defesa de ações paralelas às iniciativas em torno da IA, o diretor conclui que “tecnologia não é fim para nada, mas meio para as operações de negócios”.

“No final das contas, executivos são avaliados pelos seus resultados financeiros, não pelo uso de dados e softwares. As organizações continuam com este objetivo, até porque o mundo ainda continua capitalista, a não ser que o ChatGPT tenha inventado algo melhor, do qual duvido muito”, sustenta.




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