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Nada de herói: o novo líder é um facilitador

Líderes conscientes, com propósitos claros e que sejam equilibrados emocionalmente são mais capazes de se adaptar às mudanças do ambiente corporativo

lider do futuro © - Shutterstock
por Redação fevereiro 19, 2024
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Os líderes atuais enfrentam desafios que demandam uma nova abordagem e uma compreensão mais profunda do ambiente em que atuam. Afinal, os paradigmas tradicionais de liderança já não são suficientes para engajar equipes e manter resultados de alta performance. Diante do impacto da tecnologia, da pressão por resultados e das mudanças na dinâmica do trabalho, os líderes se veem confrontados pela necessidade de se adaptar e desenvolver habilidades essenciais, como equilíbrio emocional, tomada de decisão coerente e empatia.

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Izabela Mioto (Foto: Divulgação)

Em conversa com o Seja Relevante, Izabela Mioto, professora associada da Fundação Dom Cabral (FDC), revela não apenas os desafios enfrentados pelos líderes, mas também oferece insights valiosos sobre a importância do autoconhecimento, da inteligência emocional e do diálogo para enfrentar os obstáculos e promover um ambiente de trabalho saudável e produtivo. Neste contexto, segundo a especialista, que compõe o corpo docente do programa Liderança de Impacto, oferecido pela FDC, é fundamental compreender as tendências futuras da liderança e os erros comuns a serem evitados para alcançar o sucesso no mundo empresarial em constante transformação. Confira a entrevista:

Quais são os principais desafios que os líderes enfrentam atualmente em um ambiente empresarial em constante mudança?

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O estilo de liderar que deu certo por algum tempo, já não é eficaz para engajar pessoas e gerar resultados sustentáveis e de alta performance. O impacto da tecnologia trouxe um ritmo diferente para as demandas. O mundo parece ter acelerado para além da capacidade humana e os questionamentos por parte da nova geração são cada vez mais intensos. Por isso, a coerência tem se tornado essencial nos processos de gestão. Líderes conscientes, com propósitos claros e equilibrados emocionalmente serão muito mais capazes de dar conta dessas mudanças. Temos gerações que nasceram conectadas e outras, ainda em posições de gestão, que estão aprendendo como se relacionar com esse mundo tão ágil e conectado. Nessa perspectiva, o diálogo se faz cada vez mais necessário. Perspectivas diferentes podem ser complementares e muito produtivas, desde que se tenha um mesmo propósito.

O número de pautas que são direcionadas aos líderes mudou?

Sim, um exemplo disso é que as lideranças de hoje precisam lidar com os altos índices de adoecimento emocional. Depressão, crises de ansiedade e o esgotamento, conhecido como síndrome de burnout, passam a ser pauta da liderança. Por isso, é importante que o líder aprenda como conciliar produtividade com ambientes emocionalmente seguros, deixando de se comportar como um super-herói e passando a ser um facilitador, que reconhece e sabe lidar, inclusive, com as próprias vulnerabilidades.

Como a pandemia impactou esse processo?

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Com a pandemia, houve a necessidade de remodelar as nossas formas de trabalho e o home office, que parecia distante até então, se tornou essencial. Ao mesmo tempo, a tecnologia passou a ser a maior aliada para que os processos continuem sendo bem executados pelas equipes. A dinâmica de alguns mercados mudou, novas tecnologias se fizeram presentes e o líder precisou de um processo de adaptação em um curto espaço de tempo. A incerteza, novas dinâmicas da vida cotidiana e a pressão de se chegar aos resultados por meios diversos, acabou por impactar o equilíbrio emocional das pessoas. Assim, a atenção do líder para suas equipes precisou ser redobrada para que o alinhamento e o engajamento não fossem prejudicados. Muitos líderes se viram diante das suas vulnerabilidades e ainda precisaram aprender a lidar com as vulnerabilidades das pessoas. Nesse momento, aqueles que tinham uma inteligência emocional mais bem desenvolvida e uma atenção mais dedicada às suas equipes, conseguiram passar com melhor equilíbrio e menos turbulências por esse momento tão inesperado. O maior impacto foi o exercício de uma liderança que precisou aprender novas tecnologias, mas também precisou aprender sobre a diversidade presente na dinâmica do ser humano. Saber lidar bem com pessoas passou a não ser mais opcional para aqueles e aquelas escolheram enveredar por carreiras que envolvam gestão de pessoas.

E hoje em dia, quais habilidades se tornaram mais importantes para um líder ser bem-sucedido?

O equilíbrio frente ao ritmo e pressão que são impostos é uma delas, sem dúvida. Nunca se falou e se buscou tanto o autoconhecimento. Enfim, a inteligência emocional faz toda a diferença. Outra habilidade está nas tomadas de decisão coerentes. Isto envolve a clareza do propósito em cada tomada de decisão, mobilizando e integrando as pessoas sobre o impacto de suas atitudes para o que se deseja atingir. A adaptabilidade frente às constantes mudanças é uma terceira habilidade que listo. Quando se tem um propósito claro, o norte não é perdido e flexibilizar fica mais fácil.

Há outras?

Sim. A postura assertiva, com líderes que se comunicam com autenticidade e são capazes de levar a sua verdade, sem perder o respeito pelos seus interlocutores, é uma delas.  Outra habilidade diz respeito à colaboração. Os líderes precisam utilizar mais as lentes da curiosidade ao invés das lentes da certeza, liderando com perguntas de compreensão e abrindo espaço para ouvir outras perspectivas que podem até ser diferentes das suas. A capacidade de manter diálogos constantes se faz importante para iluminar pontos cegos nas tomadas de decisão.

Como identificar e preparar futuros líderes?

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As empresas precisam ter processos bem estruturados para identificar e preparar lideranças. Quando se tem uma cultura que esteja atenta ao dia a dia, indo além de “o que” aquele líder entrega, mas sim entendendo “o como” ele se conduz frente às entregas, cria-se algo eficaz para isto. Observar se esse líder é capaz de sustentar os resultados no curto, médio e longo prazos com o mesmo engajamento também é um bom balizador. Uma organização que deseja preparar líderes de alto impacto já entendeu a importância de investir em processos de autoconhecimento. A minha experiência tem demonstrado o salto qualitativo que se é possível observar na liderança quando se aprofunda no autoconhecimento. Simples assim: é impossível eu gerar uma boa conexão e gestão do outro se eu não tiver uma boa conexão e gestão comigo mesmo.

Quais são os problemas gerados por essa falta de autoconhecimento?

Dar feedbacks sem antes questionar sobre suas posturas e o quanto elas interferem em comportamentos inadequados das pessoas é um indicativo da falta de autoconhecimento do líder. Afinal, é essencial ouvir genuinamente como as pessoas de sua equipe se sentem frente às suas atitudes. Julgamentos precipitados e rígidos também geram desconexão. Outra falha é não abrir espaço nas agendas para questionar o que pode ser alterado. Isto inibe a inovação. Além disso, alguns líderes deixam de exercitar um bom trânsito político na ‘arena organizacional’. Somos interdependentes e muito do que se constrói e se sustenta como resultados faz parte do estabelecimento de relacionamentos que geram boas conexões. 

O que faz de um profissional um bom líder?

Um bom líder é aquele que é capaz de manter o equilíbrio em momentos de pressão e tensão, sem perder de vistas os propósitos e os resultados. Que consegue se manter alinhado aos valores organizacionais, conduzindo-se com respeito e transparência em seus processos de decisão. Isso tanto mediante a seus líderes, quanto pares e equipe. Ele também mantém a coesão da sua equipe, fazendo com que a comunicação flua de maneira respeitosa.

Quais são os erros mais comuns que os líderes cometem?

Um dos erros mais cometidos é comunicar ou impor decisões sem incluir as perspectivas das pessoas que fazem parte de tais decisões. Quando se tem o diálogo, o líder corre o bom risco de iluminar alguns ‘pontos cegos’ e melhorar a qualidade de suas decisões, bem como de promover mais engajamento.

Como alinhar os propósitos pessoais dos colaboradores com os objetivos da organização?

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A maneira de alinhar objetivos pessoais com os organizacionais é o autoconhecimento: quanto mais as pessoas se conhecem, mais tomarão decisões alinhadas às suas necessidades e, consequentemente, haverá mais motivação para atingir os resultados necessários. O que faz sentido para uma pessoa em um contexto organizacional, pode não fazer para outra. Por outro lado, culturas fortes, onde a comunicação e a prática de seus valores se tornam claras, também facilita os processos de alinhamento de propósitos.

Como liderar equipes com diferentes perfis e culturas e tirar proveito da diversidade para gerar melhores resultados?

Essa resposta é simples, mas a ação que ela envolve é complexa. Em primeiro lugar, o líder precisa estar ciente de si, ter a segurança necessária para transitar na diversidade, com a compreensão que o diferente não é errado, mas pode ser complementar. Não há outro caminho que não seja a empatia e a clareza do propósito. O exercício da empatia não seria se colocar no lugar do outro, como muito já ouvimos. Mas sim a tranquilidade de visitar outras perspectivas com a intenção de compreender o porquê o outro pensa, sente ou age de determinadas maneiras. Compreender não significa concordar, mas o caminho da compreensão é essencial para que o interlocutor se sinta em um ambiente emocionalmente seguro e abra espaço para ser influenciado pelo líder na direção de um propósito que conecta a todos.

Por que a inteligência emocional é importante em líderes e colaboradores?

Sem dúvida, a inteligência emocional, em minha perspectiva, é a soft skill mais importante para uma liderança de alto impacto e que seja sustentável. Com um bom autoconhecimento, as pessoas são capazes de compreender melhor as suas motivações intrínsecas. Fazendo escolhas mais respaldadas na motivação intrínseca, o combustível para ser resiliente em momentos de alta pressão aumenta, e isso faz com que o foco no que é importante não seja perdido. Uma equipe com inteligência emocional, aumenta seus níveis de empatia, trazendo suas lentes de percepção para perspectivas distintas, melhorando a ética do cuidado nas relações e a sociabilidade. Isto é a capacidade de encontrar os pontos em comum para fortalecer as redes de relacionamento e o alinhamento tão necessário para a conquista dos resultados.

Aprender a ter uma boa relação consigo mesmo é essencial para se ter uma boa relação com as outras pessoas, e é isso que a inteligência emocional potencializa em líderes e colaboradores. Com inteligência emocional, a ‘roda gira mais leve’ e é possível atingir os mais altos potenciais que estão disponíveis.

Quais são as tendências para o futuro da liderança?

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Muito se tem falado sobre liderança humanizada. Eu, particularmente, não fico confortável com esse termo, porque se tem gente, tem que ser humanizado. Mas muitos de nós esquecemos da humanidade que nos cabe. Por vezes, levamos ao extremo a conquista dos resultados. Uma tendência importante é o próprio líder perceber que ele é humano e tem limites a serem respeitados. Os líderes precisarão compreender cada vez mais sobre a complexidade e interdependência, liderando a partir do futuro que emerge, com flexibilidade para rever decisões e crenças.




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