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Dois lados da mesma moeda: inovação ambidestra para descarbonização

A resposta global às mudanças climáticas requer medidas rigorosas e ações imediatas, voltadas ao futuro e com olhar no presente

inovacao descarbonizacao © - Shutterstock

Por

Thayla Zomer

Professora da Fundação Dom Cabral

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A mitologia conta que o deus romano Janus, responsável pelas mudanças e transições, tinha duas faces: uma voltada para a frente, o porvir, e outra para trás, para o presente e para o que passou. Diante dos desafios atuais, organizações e gestores devem ser capazes de conectar ambos os olhares. A resposta global às mudanças climáticas requer medidas rigorosas e ações imediatas, voltadas ao futuro e com olhar no presente.

Em 2022, mais de um terço das maiores empresas públicas do mundo estabeleceram metas de redução de gases de efeito estufa (GEE) visando a transição para uma economia net zero, aponta estudo realizado por consultoria internacional. A transição global rumo à descarbonização abre novos mercados e cria oportunidades para as empresas, ao mesmo tempo em que impõe inúmeros riscos. Empresas com a capacidade de inovar rapidamente e que colaboram em suas cadeias de valor têm mais chances de aproveitar as enormes oportunidades de crescimento verde, mostra o estudo. Em pesquisa atual na Fundação Dom Cabral, identificamos que os riscos impostos pelas mudanças climáticas e as oportunidades que surgem nesse contexto, as quais requerem que as empresas desenvolvam uma abordagem de inovação ‘ambidestra’.

Uma postura ambidestra de inovação rumo a descarbonização

© – Shutterstock

A pesquisa em gestão corporativa de GEE na Fundação Dom Cabral analisou mudanças estratégicas em organizações que têm estabelecido metas para redução de emissões de gases de efeito estufa, progredindo no alcance das metas estabelecidas, e que tiveram melhoria de competitividade. Os resultados revelam a importância de as empresas desenvolverem uma capacidade de ambidestria para descarbonização – a capacidade de combinar a exploração de esforços de inovação orientados para o futuro com a exploração de oportunidades de inovação de rotinas e processos existentes para reduzir as emissões diretas ou indiretas de GEE. Iniciativas de ‘exploration’ e ‘exploitation’ diante dos riscos e oportunidades no contexto de mudanças climáticas estão relacionadas a mudanças estratégicas em produtos, serviços, operações e gestão de cadeia de suprimentos. Três principais iniciativas de exploração de novas oportunidades de inovação para redução de emissões e ganho de competividade merecem destaque:

1. Criação de um portfólio de produtos e serviços low carbon

A atualização do portfólio atual e transição para oferta de uma nova geração de produtos e serviços low carbon contribui para a competitividade em mercados atuais e emergentes.

2. Adoção de princípios de economia circular

A adoção de princípios de economia circular permite manter recursos em uso pelo maior tempo possível, estender a vida útil dos produtos e fechar os ciclos de recursos por meio da reciclagem. A extração e o processamento de recursos estão associados a aproximadamente 50% de as emissões globais de GEE. A transição para sistemas de produção circulares contribui para redução de emissões ao mesmo tempo em que gera benefícios econômicos e ambientais.

3. Inovação sistêmica e envolvimento de stakeholders em iniciativas de sustentabilidade

Engajar stakeholders da cadeia de valor na adoção de práticas de sustentabilidade cria oportunidades de inovação colaborativa e leva a redução sistêmica de emissões ao longo da cadeia de valor.

Redução de emissões diretas e indiretas

No que diz respeito à implementação de rotinas para reduzir emissões diretas e indiretas, algumas iniciativas merecem destaque:

Inovação e otimização de processos existentes

A redefinição ou atualização de processos-chave, como o processo de desenvolvimento de produtos, compra de materiais, processos industriais, entre outros, pode contribuir para o corte de emissões relacionadas às práticas atuais. Iniciativas para otimização das operações incluem o estabelecimento de metas ambientais para a produção, como geração de resíduos, o uso de novas tecnologias (atualizações tecnológicas) e implementação de processos produtivos mais eficientes/otimizados que reduzem o consumo de energia.

Avaliação e redesign de produtos e cadeias de suprimento

Produtos existentes podem ser atualizados para redução de dimensões, peso, substituição de materiais, por exemplo, levando a uma redução de emissões associadas. O redesign de cadeias de suprimentos também pode contribuir para redução de emissões relacionadas ao transporte.

Melhoria de eficiência energética

Melhorias de eficiência energética nas operações atuais podem levar a uma redução considerável de emissões operacionais.

As iniciativas de inovação orientadas para o futuro, implementadas ao mesmo tempo em que as organizações se esforçam para inovar rotinas e processos existentes, contribuem para redução de emissões de GEE e garantem a competitividade em mercados existentes e emergentes. Na Fundação Dom Cabral, desenvolvemos pesquisas e programas que suportam as empresas na reflexão sobre os desafios atuais e inovação estratégica dos negócios, visando manter a competividade e contribuir para o desenvolvimento sustentável.

Thayla Zomer (Foto: FDC)

Thayla Zomer é Professora da Fundação Dom Cabral




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