As organizações não-governamentais internacionais (INGOs) têm enfrentado, em sua maioria, importantes desafios na implementação de estruturas governança. Essas organizações estão cada vez mais instadas a serem mais eficientes, transparentes e responsivas às necessidades de seus stakeholders, tais como voluntários, funcionários, especialistas, autoridades públicas, órgãos fiscalizadores, imprensa, beneficiários e, principalmente doadores, além da complexidade de atuação em diversas jurisdições e culturas.

De acordo com Clóvis de Aguiar Brito Filho, que pesquisou esse tema em seu projeto aplicativo para conclusão do programa Executive MBA da Fundação Dom Cabral (FDC), é muito claro, a partir de benchmarkings internacionais, que a governança corporativa (mesmo no terceiro setor) pode elevar a eficiência e nível de impacto social diante dos desafios globais, com mais transparência e prestação de contas aos seus principais stakeholders, segundo a orientadora do projeto, Mônica R. de Carvalho. 

O caso estudado por Brito Filho foi a Operation Smile, organização humanitária de saúde internacional que realiza cirurgias gratuitas para crianças com deformidades craniofaciais, como as fissuras lábio-palatinas. A entidade viu no fortalecimento da sua governança global uma saída para enfrentar os desafios que afetam o setor. A entidade, que opera em mais de 60 países e tem mais de 40 fundações locais independentes ao redor do mundo, é reconhecida por sua capacidade operacional e foco na assistência à infância. No entanto, as análises realizadas durante o planejamento estratégico institucional analisado à época, apontavam significativos pontos de melhoria relacionados à sua estrutura global de governança.

Tais pontos incluíam a falta de representação adequada de países em desenvolvimento no Conselho de Administração Global da organização, bem como a falta de coordenação e harmonização internacional entre as diferentes fundações locais independentes.

A solução encontrada para a organização, segundo Brito Filho, foi desenvolver um novo modelo de governança para aumentar a representação dos países em desenvolvimento e melhorar a coordenação entre as diferentes fundações locais. Apesar do desafio de implementação desse novo modelo, ele foi visto como essencial para a sustentabilidade da Operation Smile e a relevância do seu impacto social.

Como a governança corporativa pode ajudar as INGOs

A governança corporativa é um conjunto de princípios, regras, estruturas e processos que orientam a gestão de uma organização. Ela tem como objetivo garantir que a organização seja administrada de forma eficaz, transparente e responsável. 

Para as INGOs, a governança corporativa pode ser uma ferramenta valiosa para enfrentar os desafios na coordenação de uma organização com atuação global. Segundo a professora Mônica Carvalho, “as organizações do terceiro setor, mais que outros tipos de organizações, necessitam ainda mais legitimar suas ações estratégicas, uma vez que nesse tipo de modelo não existe a figura do ‘dono’, do acionista. O poder está disseminado entre vários stakeholders, diferente das organizações onde a propriedade é clara. Na inexistência do dono, a responsabilidade da alta administração é ainda maior”. 

Uma estrutura robusta de governança pode ajudar as INGOs a:

  • Estarem mais alinhadas com as necessidades de seus stakeholders em todas as jurisdições;
  • Serem mais eficientes, eficazes e transparentes na utilização de seus recursos;
  • Terem maior alinhamento organizacional e impacto social;
  • Ampliarem sua legitimidade e potencial de captação de recursos.

O caso da Operation Smile 

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Foto: Reprodução/ Operation Smile

O caso da Operation Smile ilustra como a governança corporativa pode ajudar as ONGs / INGOs a enfrentarem os desafios de ser uma organização global. A estrutura de governança proposta para a Operation Smile contribuiu para que a organização se tornasse mais representativa e eficaz no combate às desigualdades e na promoção do bem-estar social.A adoção de uma estrutura robusta e das melhores práticas de governança corporativa são ferramentas importantes para as ONGs que precisam enfrentar o desafio de uma atuação global.  Ao fortalecer sua governança, estas organizações podem garantir que estão mais bem preparadas para o futuro e que estão contribuindo para a criação de um mundo mais justo e sustentável. “A falta de uma governança estruturada traz sérios riscos à sustentabilidade da organização, podendo colocar em xeque sua capacidade de sobrepor possíveis desafios futuros que ameaçam o mercado de atuação das organizações não-governamentais internacionais”, pontua Brito Filho.