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Impacto positivo e legados sustentáveis
A indústria que gera gases de efeito estufa, em todo o mundo, tende a implementar mudanças e pesquisar processos que purifiquem sua produção. Essa é a opinião de Thayla Zomer, professora da Fundação Dom Cabral (FDC) e pesquisadora nas áreas de Inovação e Sustentabilidade.
Thayla participou de podcast conduzido pelo curador de conteúdo da FDC, Thomaz Castinho, sobre Gestão Corporativa de Carbono, e discorreu sobre como as indústrias têxtil e petrolífera, por exemplo, vêm desenvolvendo esforços para tornar seus processos produtivos mais limpos, incorporando a gestão climática a suas culturas.
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“A indústria petrolífera vem vivendo uma grande revolução tecnológica, a partir da diversificação de negócios, visando uma transição energética mais limpa. A Inovação é algo poderoso e é importante que essas organizações incorporem a gestão climática à cultura da empresa”, disse Thayla ao podcast.
Inovação ambidestra
Thayla contou que, na Europa, um grupo de 400 empresas que deseja reduzir suas emissões de gases se uniu para adotar metas e conduzir uma transição produtiva viável. O movimento foi batizado como Inovação Ambidestra, uma vez que serão mantidos os dois lados da moeda – a produção não vai ser interrompida, mas muitas inovações a tornarão mais limpa. A especialista acredita que esta será uma tendência que amadurecerá também no Brasil.
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Em paralelo a muitos movimentos globais para tornar a produção industrial mais limpa, há muitos caminhos a serem percorridos até a produção que envolva menos emissões no mundo. Thayla deu uma verdadeira aula sobre o que é Gestão Corporativa de Carbono e sobre cada estágio que ela envolve.
A professora explicou que essa gestão nada mais é do que um conjunto políticas, estratégias e ações adotadas por organizações, para medir e mitigar suas emissões de gases de efeito estufa, cujo controle é essencial para minimizar os efeitos de mudanças climáticas. Essas emissões são classificadas em três escopos:
- Escopo 1 – emissões diretas, geradas na produção do produto.
- Escopo 2 – emissões provenientes da compra de energia para o processo produtivo.
- Escopo 3 – emissões na cadeia de valor da organização, desde a extração de matéria-prima e a fabricação do produto até o seu consumo e descarte pelo consumidor. Esse é o escopo onde há maior dificuldade de minimizar as emissões.
Grande inventário é necessário
Para contribuir para um mundo mais limpo, a empresa precisa primeiro fazer um grande inventário de suas emissões, o que inclui a queima de combustíveis fósseis, a produção de eletricidade e de outros itens da cadeia de valor.
Após o inventário, é hora de definir “metas claras e mensuráveis” – que podem ser de curto, médio ou longo prazo – para reduzir os gases de efeito estufa. Thayla destaca que as organizações devem definir metas alinhadas com os estudos globais, que estabelecem o aumento de temperatura em até 1.5º.C até 2030, já que, acima dessa temperatura, os danos seriam irreversíveis.
Processo deve ser holístico
Definidas as metas, é preciso planejar as iniciativas para redução das emissões, estabelecendo diretrizes como a otimização dos processos produtivos, eficiência energética e redução adequada de resíduos. “É necessário que os projetos sejam adotados de forma holística, não só do ponto de vista interno da empresa, mas também da cadeia de valor. As organizações precisam se envolver com os demais stakeholders”, ensina Thayla. Em paralelo, também é necessário o envolvimento em projetos de compensação de emissões na atmosfera, como ações de reflorestamento e captura de carbono.
Economia circular
Na grande revolução empresarial que está por trás dos projetos para redução de emissões, surge o conceito de economia circular, que envolve o reaproveitamento de produtos, reduzindo também o seu descarte. A professora cita o exemplo das fábricas de bebidas na Europa, nas quais o fabricante oferece um incentivo pela devolução de garrafas vazias.
“A visão europeia tem adotado uma postura de responsabilidade por todo o ciclo de vida do produto. No Brasil, isso ainda é incipiente, mas há uma tendência de que passe a ser assim, com o tempo”, aposta a professora.
Thayla Zomer tem pós-doutorados pela University of Cambridge (UK) e Technical University of Denmark (Dinamarca), PhD em Manufacturing and Management pela University of Cambridge (UK) e Mestrado em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).