As políticas de responsabilidade ambiental, social e de governança corporativa, resumidas na sigla ESG, não são um modismo e precisam ser certificadas nas organizações que se dizem alinhadas ao tema. O raciocínio é de Celso Lemme, professor de finanças e sustentabilidade do Instituto COPPEAD, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Segundo ele, a agenda ESG cada vez mais faz parte do plano estratégico das empresas, mas não se limitam a elas.

“Paralelamente, os consumidores em geral esperam que elas façam algo efetivo, considerando até que as companhias têm obrigação de fazer algo dentro das questões de governança ambiental, social e corporativa”, explica Lemme.

ESG precisa ir além do modismo

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Apesar do apelo dentro e fora das corporações, a agenda ESG precisa de um freio de arrumação. O pesquisador lembra que a maioria das empresas alinha os diversos temas da agenda socioambiental, como eficiência energética, tratamento de resíduos e relações trabalhistas às exigências ESG. O desafio é que elas não dão a atenção necessária ao conjunto da sua cadeia produtiva, envolvendo fornecedores, consumidores e outros participantes.

Para Lemme, é necessário incorporar o conceito de cadeia de valor à agenda ESG, voltando a atenção para etapas que ocorrem antes e depois das operações que estão sob controle total da empresa. E ele dá como exemplo a indústria pecuária, que hoje responderia por cerca de 50% da emissão de gases de efeito estufa (GEE) no setor agrícola.

“Ao fazer um inventário de emissões de GEE, os grandes frigoríficos constatam que grande parte está associada ao escopo 3, mais especificamente à cadeia de fornecedores. Isto traz um desafio para os seus programas de redução de emissões, exigindo esforço de rastreamento de origem do gado, bem como seleção e qualificação de fornecedores”, explica.

Outro caso real envolve a indústria automobilística, onde os desafios de escopo 3 acontecem na outra ponta da cadeia de valor, após a etapa de venda. Explicando: a preocupação volta-se para os impactos ambientais e sociais dos automóveis nos centros urbanos, incluindo a destinação do lixo eletrônico gerado pela indústria de tecnologia e comunicação.

“Precisamos ver o todo para maior segurança na avaliação da estratégia corporativa”, alertou, pontuando que, novamente, “ESG não é um modismo e sim uma mudança de comportamento da sociedade”.