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Capitalismo de stakeholders está em evidência, segundo consultor

Carlos Takahashi, da Black Rock, defende perenização de negócios


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capitalismo de stakeholders © - Shutterstock
por Redação agosto 31, 2023
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Para Carlos Takahashi, chairman da gestora de investimentos BlackRock Brasil, o capitalismo de stakeholders não é necessariamente novo, mas é o que está em evidência. A avaliação do executivo aconteceu durante o episódio da série ESG na Sala do Conselho, promovido pela Fundação Dom Cabral (FDC), com mediação do jornalista Rodrigo Terra, da Fast Company.

“Esse conceito está na pauta do mundo corporativo porque vivemos numa sociedade onde o capitalismo é presente e não tem como desconectar as coisas”, explica Takahashi. Para ele, o termo capitalismo de stakeholder, que é um tipo de capitalismo em que as organizações procuram criar valor a longo prazo, considerando as necessidades de todas as partes interessadas e a promoção do bem-estar social, é também um conceito de capitalismo consciente.

capitalismo de stakeholders
Carlos Takahashi (Foto: Divulgação)

Takahashi explicou que a definição tem sido ampliada a ponto de se conectar com o ESG. Para ele, o mercado corporativo está falando de boas práticas ambientais e sociais e de uma boa governança, mas também discutindo resultados. “São coisas que não podem ser desconectadas, mesmo porque o resultado é o que vai proporcionar a rentabilidade e o retorno financeiro e, consequentemente, a sustentabilidade sobre a perspectiva de longo prazo”, argumenta.

Capitalismo de stakeholders também satisfaz os shareholders

O executivo lembrou que o processo precisa satisfazer todos os stakeholders, o que também significa satisfazer o shareholder. Da mesma forma, os objetivos precisam mostrar o que corporação está fazendo para a comunidade. “Esse capitalismo não é novo, mas a gente quer que ele avance cada vez mais alinhado à agenda ESG”, completa.

Com grande experiência no mercado, Takahashi fala com propriedade sobre o papel de ESG, uma vez que a organização em que atua tem uma defesa de investimentos sustentáveis. Ele próprio coordena um grupo que discute o tema entre executivos e participa como voluntários de várias iniciativas ligadas ao mundo ESG. Na área financeira, Takahashi participa ainda de um programa de mentoria para executivos que estão em transição para conselhos de administração.

Perenização dos negócios

Também participante do podcast sobre capitalismo de stakeholders, Carlos Braga, professor Associado da FDC, tem uma longa história no mercado financeiro, com participação ativa no Banco Real, posteriormente ABN AMRO. Segundo ele, essa instituição foi uma das precursoras de sustentabilidade no país. Hoje, conselheiro e consultor do Banco Inter para área de infraestrutura sustentável, Braga tem se posicionado como multiplicador do que ele vive na prática ao longo de anos como alto executivo.

Carlos Braga (Foto: Divulgação)

Brincando que já viveu o lado de Darth Vader, antagonista da série Guerra nas Estrelas, Braga avalia que transicionou há muito tempo para o campo de Lucas Skywalker, o protagonista do clássico de ficção científica. “Estamos tentando puxar o sabre de luz para uma jornada construtiva”, brinca o professor.

Segundo ele, a aplicação da agenda ESG deve acontecer porque não existe conflito entre performance e perenidade. “Capitalismo de curto prazo é performance, mas tudo que envolve ESG são práticas que nos levam à pererenização dos negócios. É um pouco a dinâmica do curto prazo contra o longo prazo e, no longo prazo, para estarmos todos aqui, precisamos ter uma licença para operar, ter boa reputação e boas práticas de fazer o bem para a sociedade”, argumentou.

Braga avaliou que os exemplos mostram que as empresas que não se posicionarem no longo prazo, inclusive tendo uma licença para operar, não estarão no mercado em pouco tempo. Ele ressaltou que o ESG faz parte de uma jornada de perenização dos negócios sustentáveis, onde quem está na direção precisa ligar o “farol baixo, para sair dos buracos do caminho, mas também acionar o farol alto para ver as curvas que se aproximam”.

Práticas ambientais alinhadas às sociais

Os dois participantes da conversa mediada pela Fast Company discutiram ainda sobre os conceitos por detrás das três letras que compõe sigla ESG. Para Takahashi, o E, de meio ambiente, em inglês, é o que ganha mais destaque, mas ele lembra que é a governança que sustenta todo o processo de aplicação do ESG na prática. “Não adianta você ter boas práticas sociais e boas práticas relacionadas ao meio ambiente se você não tiver uma boa governança”, argumentou.

Para ele, em muitos casos o que se verifica é que o processo de adoção de ESG começa com uma prática inadequada, mas as “três letrinhas” precisam andar juntas. Ele exemplificou que não se pode ter práticas ambientais que não caminhem no mesmo sentido de práticas sociais.

“Não adianta ter o melhor planeta, se não cuidar das pessoas que vão viver nesse melhor planeta. As coisas estão intrinsecamente conectadas, mas é claro que tudo começou, nos últimos anos, com a preocupação climática, o que levou à consideração sobre novas alternativas às fontes de energia e, pouco antes da pandemia, o alerta começou a ficar mais evidente”, complementou.

A avaliação do conjunto, segundo Takahashi, trouxe o posicionamento das corporações também em nível financeiro. A conexão entre esse universo e a necessidade de mudanças para combater as ameaças climáticas se percebe na análise de risco. Os investimentos tornaram-se seletivos e passaram a avaliar as boas práticas ambientais e sociais, entre outras, dos potenciais investidos.

Outro desdobramento positivo é a série de oportunidades trazidas com o novo cenário. Traduzindo: investir em inovação e em quem promove a inovação, a começar na área energética, é um bom desdobramento da pressão por mudanças climáticas. O crescimento de green bonds é um exemplo. “Tudo o que implica uso de novas formas de energia traz uma agenda de inovação muito forte, o que também é de extrema relevância”, explica.

Papel dos conselheiros na agenda ESG

Braga, por sua vez, argumentou que as informações listadas por Takahashi levam novamente a se pensar o papel dos conselheiros nessa agenda. “Depois de uma longa formação olhando números, avaliando resultados e certamente a questão do compliance, eles notam que aparecem novos desafios. Esses executivos precisam olhar para as questões climáticas e se perguntar como elas “dialogam” com eles”, diz.

Para o professor da FDC, riscos agudos e crônicos estão impactando negócios, empresas e vidas. Os desafios são particularmente maiores em setores que envolvem recursos naturais. De forma geral, o mercado corporativo também é protagonista: as três mil maiores empresas do mundo são responsáveis por praticamente 40% das emissões de gases de efeito estufa, segundo Braga.

“Essa agenda, então, tem CNPJ, tem CPF e não é apenas uma agenda governamental. Precisamos ter uma licença social e boas práticas, que hoje são abundantes, assim como as alianças na busca de compartilhamento”, resume o executivo.

Ele ressaltou o papel importante dos conselheiros nesse processo, pois são profissionais que podem colocar sua experiência acumulada para ajudar na agenda ESG, ao mesmo tempo que tem a capacidade de buscar novas capacitações e deixar um legado para suas companhias e para a sociedade.

“Temos uma enorme oportunidade para o Brasil. Na Europa está tudo construído e os Estados Unidos estão lutando para reduzir as emissões”, destacou Braga. “Aqui, estamos repletos de oportunidades para termos uma indústria limpa, com uma vocação ambiental e agrícola. Temos uma agenda genuína de negócios para buscar um crescimento sustentável e sair do nível de crescimento de 1% nas últimas décadas”, concluiu.




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