Que as empresas estão, cada uma à sua maneira, tentando minimamente adequar suas atuações e alinhar seus modelos de negócio às demandas que surgiram nos últimos anos a partir da efervescência da pauta ESG – ou sustentabilidade; resiliência, responsabilidade social corporativa, inovabilidade, qual seja a denominação preferida – não é segredo para ninguém. Os conselhos e demais instâncias da governança corporativa não podem mais se dar ao luxo de colocar as questões ambientais, sociais e de governança em segundo plano.
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Pesquisa Global do Competent Boards Institute de 2023 indica que competências tradicionais, como finanças e experiência setorial, estão abrindo espaço para conhecimentos básicos de ESG, proficiência digital e visão de longo prazo fundamentada em valores dentro dos conselhos. A pesquisa também demonstra que 71% dos entrevistados esperam um envolvimento crescente do board na supervisão dos riscos ESG e tecnologias digitais, com a utilização de Inteligência Artificial, com foco na previsão de cenários disruptivos para o negócio. A pesquisa demonstra, ainda, uma ênfase notável na educação continuada, com 88% dos entrevistados sublinhando a importância do letramento sobre as tendências da sustentabilidade. Além disso, 73% dos conselheiros reconhecem uma lacuna de conhecimento das práticas ESG.
Outro ponto de destaque diz respeito, exatamente, à formação desses conselhos. A diversidade dos participantes é uma preocupação latente, incluindo gênero, etnia, idade e experiência profissional. As empresas estão sendo pressionadas a garantir que seus conselhos reflitam a sociedade.
Estão na pauta também, de forma recorrente, desafios como: prestação de contas e padronização de relatórios; o interesse em vincular a remuneração executiva ao desempenho ESG, como forma de pressioná-los a adotar práticas mais sustentáveis e responsáveis; a gestão de riscos que possam afetar a reputação das organizações, bem como o seu desempenho financeiro e sustentabilidade no longo prazo; e a necessidade de um marco regulatório. Essas pautas, que pareciam não ter lugar na agenda, agora não podem mais ser ignoradas pelos conselheiros.
Inovação é diferencial
Há também o crescimento da demanda por inovabilidade. Enquanto o ESG trata de uma estrutura de gerenciamento de risco e de investimento que busca avaliar os desafios e oportunidades que os fatores ambientais, sociais e de governança representam para o valor de uma empresa, a inovabilidade indica a capacidade de uma organização alavancar a sustentabilidade como forma de inovação, novos negócios e diferenciação.
De acordo com o relatório 2022 da Global Sustainable Investment Alliance, US$ 30,3 trilhões representam o estoque global de ativos de investimento sustentável. De acordo com a Bloomberg, o investimento global na transição energética atingiu recorde de US$ 1,8 biliões em 2023, aumentando 17% em relação a 2022. Enquanto isso, no Brasil, o número de empresas que compõem o Índice de Sustentabilidade (ISE) da B3 mais do que dobrou nos últimos três anos, alcançando 70 ações, em comparação com a média de 30 na última década.
Como vimos, os conselhos nunca estiveram tão engajados, realçando ainda mais o seu dever fiduciário como indutores desta agenda no mundo dos negócios. Conselheiros que se capacitarem no entendimento das melhores práticas de ESG e inovabilidade serão aqueles que mais se beneficiarão desta tendência secular, com benefícios claros para os negócios, stakeholders e a sociedade em geral.
* Carlos Penteado Braga é Professor Associado da FDC e coordenador do Programa ESG na Sala do Conselho