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Resiliência e exponencialidade criam a estratégia dual para organizações

Professor Paulo Vicente explica que o conceito envolve tanto a preparação da empresa quanto a dos indivíduos para o curto, médio e longo prazos

estratégia dual © - Shutterstock

Por

Paulo Vicente dos Santos Alves

Professor da Fundação Dom Cabral

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A década de 2020 trouxe diversos desafios para a sociedade e para o mercado. Por um lado uma série de crises ocorrendo simultaneamente, e por outro uma reação a estas crises com fortes investimentos em tecnologia que estão trazendo uma verdadeira revolução tecnológica. E ela está apenas começando.

Durante a pandemia, falei muito em empresas resilientes, isto é, aquelas que tinham a capacidade de resistir aos choques externos e sobreviver, e até mesmo prosperar. Minha metáfora na época era dos “camelos” que resistiam aos ambientes nos quais os ”unicórnios” não eram capazes de sobreviver. 

Passada a pandemia, vieram outros choques (agora de natureza militar), mudanças nas cadeias de produção, crises logísticas e o surgimento de novas ondas tecnológicas como o metaverso e a inteligência artificial, que trazem diversas possibilidades, mas ao mesmo tempo desafios de capacitação e falta de mão de obra.

A questão da resiliência não foi embora, mas surgiu a necessidade de ser capaz de, ao mesmo tempo, incorporar novas tecnologias de maneira sustentável. E aqui o termo não tem apenas uma conotação ambiental, mas sim da sustentabilidade do modelo de negócios e do fluxo de caixa sustentado. O “verde” aqui se refere também ao dinheiro.

Para isso, é preciso que a organização também seja exponencial, isto é, capazes de incorporar novas tecnologias de maneira escalável. 

A estratégia dual

© – Shutterstock

O conceito de estratégia dual se baseia em características aparentemente contraditórias, mas que, na prática, são complementares.  

A busca da resiliência se baseia no fato de que podemos antever diversas crises no futuro, sejam elas militares, logísticas, econômicas e sanitárias. 

Guerras devem permear as próximas duas décadas, na medida em que os Estados Unidos e a China entram em uma nova guerra fria. Crises econômicas ocorrem de tempos em tempos por conta dos ciclos econômicos. Novas pandemias também devem ocorrer no futuro, embora não se possa predizer quando. Crises logísticas irão ocorrer por conta da dependência das rotas marítimas de alguns poucos pontos de estrangulamento e a falta de mão de obra qualificada para as novas tecnologias deve ser um limitador por pelo menos mais 15 anos.

O ideal é incorporar estas possibilidades na própria operação e na estratégia de negócios, criando cadeias de valor mais resilientes e, idealmente, fazendo com que a crise lhe favoreça, o que se denomina de “anti-fragilidade”.

A exponencialidade se refere à capacidade de incorporar uma série de tecnologias que estão chegando, tais como a transição energética, a transformação digital, a melhoria humana, a agricultura de precisão,a  indústria 4.0, e a tecnologia espacial. 

Embora não saibamos exatamente quando e quais tecnologias irão ficar economicamente viáveis, podemos nos preparar para incorporá-las aos poucos e criar modelos de negócios que permitam escalar os seus usos, ou mesmo utilizá-las como mecanismos de escalação.

A metáfora que passei a utilizar para descrever esta estratégia foi a da evolução dos dinossauros para as aves, e em especial as de rapina. A ciência moderna entende que os dinossauros como grupo não foram completamente extintos, mas sim que evoluíram e se adaptaram para ficar mais ágeis, se transformando nas aves. Eu particularmente gosto da Coruja, que caça no escuro, e que é a símbolo de Atena, deusa da estratégia. Mas isto é apenas uma metáfora para ilustrar o conceito.

Como se preparar

A solução para adotar uma estratégia dual vem de duas linhas de ação complementares: a preparação da empresa no nível do planejamento e a preparação dos indivíduos para operarem tal estratégia.

No nível da empresa, se torna necessário o planejamento de longo prazo, aliado ao de curto e médio prazo, através de levantamento de tendências, modelagem de cenários e construção de uma visão clara de estratégias em horizontes temporais de 2, 5 e 10 anos. E em cima disto, a construção de um “mapa da estrada” em diversas linhas de desenvolvimento organizacional, tais como tecnologia, operações, mercados e marcas e estratégia e estrutura.

No nível individual, é preciso criar uma massa de pessoal suficiente para levar a cabo tais estratégias nas diversas linhas do desenvolvimento organizacional. Tipicamente, essas linhas são projetadas a partir do “mapa da estrada” e viram trilhas de desenvolvimentos individuais em termos de tecnologia, operações, marketing, finanças e estratégia. 

Os planos de carreira e os planos de desenvolvimento dos departamentos de recursos humanos devem estar alinhados a este “mapa da estrada” e, isso tudo, permite alinhar os planejamentos de curto, médio e longo prazo, criando uma estratégia dual.

* Paulo Vicente dos Santos Alves é professor da Fundação Dom Cabral, doutor em administração pela FGV.  Sua experiência profissional inclui os setores de Governo, Defesa, Aeroespacial, Educação e Energia. Já atuou em cursos internacionais pela Brown, CKGSB, HULT, INSEAD, ISB, John Hopkins, Kellog, NOVA SBE, Saint Gallen, Schulich, Skema, Skolkovo, UT Dallas, e Vlerick. 




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