A acomodação em trabalhos que não trazem felicidade está deixando de ser um fator predominante no mercado atual, principalmente para profissionais com nível superior, que tem maior poder de barganha em suas relações contratuais. Levantamento realizado pela consultoria de recrutamento Robert Half, em parceria com a escola de inteligência emocional The School of Life Brasil, descobriu que “não se sentir feliz no trabalho” foi a principal razão para 44% das pessoas que deixaram voluntariamente seus empregos.
Atrás do fator infelicidade, a pesquisa levantou outros quatro motivos para as demissões voluntárias: a busca por novos desafios (42,65%), a falta de perspectiva de crescimento (33,82%), não se sentir valorizado no trabalho (27,94%) e a relação ruim com antigos gestores (19,12%).
Publicada no site da Forbes, a pesquisa faz parte do Índice de Confiança Robert Half, que entrevistou mais de 1,3 mil pessoas em março de 2023, com profissionais acima de 25 anos e formação superior completa.
Relação ruim com os gestores já não pesa tanto
Uma surpresa para os pesquisadores foi o fato de “a relação ruim com os gestores” ter ficado em quinto lugar dentre os motivos para a demissão. “A relação ruim com os gestores sempre liderou a lista de causas para um pedido de demissão em nossas pesquisas”, informa Maria Sartori, diretora associada da Robert Half. “O que acontece é que, hoje, os profissionais estão mais conscientes e seguros para detalhar os próprios descontentamentos”, analisa Maria.
Os resultados desafiam as áreas de recursos humanos e mostram que, para a retenção de talentos, não basta ter um bom pacote de benefícios e remuneração: é preciso estruturar planos de carreira e de desenvolvimento profissional. “Os profissionais querem estar em uma empresa que os valorizem, com um bom ambiente e boas trocas”, resume Diana Gabanyi, CEO da The School of Life. “Os profissionais também precisam sentir que há uma razão para o que fazem”, acrescenta.
Meio milhão de demissões voluntárias por mês
A infelicidade corporativa pode estar também por trás do elevado número de pedidos de demissão que vem sendo registrado no Brasil. Em 2022, nada menos que 6,8 milhões de brasileiros – o equivalente a 566 mil por mês – pediram demissão de forma voluntária. O número representa um terço do total de desligamentos registrados no país em 2022, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), compilados pela LCA Consultores e alvo de reportagem publicada no site InfoMoney, com informações do jornal O Estado de São Paulo.
Segundo a reportagem, o movimento no Brasil pode ser equiparável ao fenômeno que ficou conhecido globalmente, principalmente durante a epidemia de Covid-19, como the great resignation ou a “a grande renúncia”, marcado, sobretudo, por pedidos de demissão de profissionais mais escolarizados e jovens. No Brasil, entre os trabalhadores com pós-graduação, a demissão voluntária superou os 50%.
Leia mais nesta matéria:
– Great Resignation: gerações Z e Y estão criando uma nova era do trabalho
“Hoje, os trabalhadores com mais qualificação não ficam mais presos a um trabalho de que não gostam. Há dois ‘Brasis’ no mercado de trabalho formal. A grande maioria envolve uma mão de obra pouco qualificada, mas quem tem um pouco mais de qualificação, tem poder de barganha”, disse Bruno Imaizumi, economista da LCA e responsável pelo levantamento.