Não existe receita de bolo para desenvolver o processo sucessório perfeito em todas as empresas de base familiar. O caminho para a longevidade da empresa enfrenta muitas vias transversais conforme as características dos membros de cada família. Mas há consenso em alguns aspectos, e eles vão ajudar a traçar um percurso bem-sucedido.
Em uma empresa de controle familiar, o planejamento sucessório tem significado amplo, pois ajuda a perpetuar o legado do fundador através das gerações e carrega consigo desafios na coesão e preparação da família para a relação com os negócios. Esta preparação pode ser o fator determinante do sucesso, da longevidade ou o fracasso da organização.
71% das empresas de médio porte têm controle familiar
Estudo recente da Fundação Dom Cabral (FDC), focado em médias empresas, identificou que 71% das empresas de médio porte são de controle familiar. Mas somente 10% estão no controle acionário da terceira geração, ou seja, os netos do fundador.
Outro grande desafio de um negócio de controle familiar está em equilibrar o uso da emoção com os elementos técnicos demandados pela escolha de um sucessor. Para profissionalizar esta tomada de decisão, não existe uma só forma, mas algumas práticas podem ser estabelecidas, como a contratação de uma empresa externa que avalie o perfil da posição e potenciais candidatos de forma imparcial.
Atualmente, 55% das empresas médias de controle familiar possuem acordo de sócios formalizado. “Definir as regras em tempos de paz e antes delas serem necessárias é um elemento essencial para preservar a harmonia familiar, pois quando existem diferentes percepções a respeito do futuro dos negócios, as necessidades individuais podem prevalecer e dificultar a coesão”, explica Silvia Martins, diretora de programas para Famílias Empresárias da Fundação Dom Cabral.
A sucessão começa na infância
Mas, quando e como iniciar um processo de sucessão? Em uma empresa de controle familiar, sugere-se que a preparação de futuros sócios tenha início desde a infância, por meio do exemplo e da construção do senso de pertencimento, como mostra artigo da Fundação Dom Cabral publicado pela Exame.
As crianças são como “esponjas” e observam tudo para formar suas crenças ao longo da vida, bem como o orgulho de pertencer. Elas podem conhecer o negócio de forma lúdica, conviver com o fundador ou ter contato com sua história registrada em gibis, vídeos e fotos. Os rituais são importantes nesta fase.
Quando adolescentes, a aproximação dos negócios contribui com o entendimento mais pragmático do que a empresa faz, e expande as possibilidades de convergência do talento individual à escolha de carreira (podendo ser desenvolvida dentro ou fora da empresa da família).
“Independentemente da carreira que um futuro acionista escolha (dentro ou fora dos negócios) é essencial ter o entendimento dos negócios em seu DNA para tomada de decisões no futuro como sócio”, argumenta Silvia.
A velocidade de crescimento de uma família costuma ser maior que a cadência de crescimento de um negócio e sua capacidade de empregar a família. Por isso, é tão importante que membros da família proprietária sejam preparados para se conhecer e atuar com foco em seu melhor talento, independentemente da carreira e da trajetória profissional escolhida.
Um negócio tem apenas um CEO e muitas outras cadeiras que podem ser ocupadas na empresa pela família, cuidando da estratégia, coesão e sucessão para perpetuar a geração de valor financeiro, intelectual, humano e social.
Famílias empresárias longevas têm pontos em comum
A longevidade das empresas familiares, que podem ter constituições diferentes, geralmente está atrelada à prosperidade, com a presença de membros da família no contrato social. Além disso, outras características comuns são a influência da família na gestão estratégica e no processo sucessório e a transmissão da cultura familiar para os negócios.
Veja, a seguir, outros 5 pontos, listados por Gilmar Melo, professor associado e pesquisador da Fundação Dom Cabral, para a longevidade das companhias:
- Visão de futuro compartilhada.
- Regras estabelecidas harmonicamente em relação ao patrimônio e aos negócios.
- Novas gerações preparadas para o papel de acionista responsável.
- Novas gerações com alto grau de autoconhecimento para focar em sua realização pessoal e profissional gerando maior valor dentro ou fora do negócio da família.
- Capacidade de separar as dinâmicas da família das dinâmicas dos negócios cuidando do relacionamento e da comunicação.