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O paradoxo ESG e a transição energética

Brasil deve se beneficiar com a transição energética e o paradoxo do ESG, mas requer preparo de empresas para uma possível onda de investimentos

esg transicao energetica © - Shutterstock

Por

Paulo Vicente dos Santos Alves

Professor da Fundação Dom Cabral

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A Guerra na Ucrânia trouxe os preços das commodities agrícolas, fertilizantes, e da energia a novos patamares.

Isto trouxe novamente o raciocínio de que “tempos desesperados requerem medidas desesperadas”. Várias fontes de energia “suja”, tais como carvão, nuclear e lenha, foram reativadas na Europa.

O ano de 2023 tem batido recordes de temperaturas, e os incêndios florestais no Canadá são os maiores já vistos em décadas.

A pressão econômica gerada pela guerra forçou o abandono de políticas ambientais no curto prazo, e o discurso ambientalista perdeu força diante do desafio social e econômico.

O paradoxo ESG

Embora não seja muito claro, a sigla ESG contém uma contradição interna. Na medida em que tentamos resolver problemas ambientais em geral, criamos problemas sociais, e vice-versa.

A população humana atingiu 8 bilhões em 2022, e deve crescer para projetados 11 bilhões até o final do século. Se quisermos erradicar a miséria do mundo, tomando como base o nível de consumo de hoje, teremos de quadruplicar a produção para atender o consumo total no final do século. Em uma medida abstrata, criada aqui apenas para comparação, sairíamos de oito “pontos de recursos” para chegar a 33 “pontos de recursos”.

Para atingir tal nível de produção e consumo sem causar um desastre ecológico e nem social, será necessária uma revolução tecnológica.

Isto ocorre não só pela questão ambiental, mas também por questões econômicas e geopolíticas.

Na medida em que a pressão de demanda aumentar, os preços irão subir, criando crises econômicas e gerando poder geopolítico para países que produzem combustíveis fósseis.

A transição energética

esg transicao energetica
© – Shutterstock

O desenvolvimento de novas tecnologias para atingir níveis de produção e consumo energético muito altos está se dando em fases. A primeira começou em 2008, quando os Estados Unidos decidiram investir gás de xisto com fraturamento hidráulico. Isto permitiu ao país reduzir sua dependência de petróleo a partir de 2011, e hoje se tonar exportador de energia.

Atualmente, os EUA não dependem mais tanto de petróleo vindo do Golfo pérsico e a China e a Índia se tornaram os maiores importadores de petróleo da região, o que já alterou as relações geopolíticas globais.

O Brasil seguiu esta linha com o desenvolvimento do gás tanto a partir da Bolívia, quanto das camadas de pré-sal da costa marítima. Isto permitirá ao país, e em particular o Rio de Janeiro,  se tornar um polo de atração industrial, devido aos custos de energia mais baixos.

A segunda fase já está em curso, e é a eletrificação, junto com energia solar na superfície da Terra. O grande gargalo desta tecnologia ainda são as baterias, e, por consequência, as fontes de lítio e cobalto. Mas isto deve ser resolvido nas próximas décadas.

A terceira fase será a do hidrogênio, que pode ser feito por hidrólise da água (hidrogênio verde), a partir de gás (hidrogênio azul) ou de fissão nuclear (rosa).

A quarta fase será a de energia solar, gerada por painéis em órbita da Terra (Space-Based Solar Power- SBSP), e cujo desenvolvimento deverá ser uma consequência das novas tecnologias espaciais que estão surgindo junto com o programa Artemis.

Uma possível fase futura será a de geração de energia com fusão nuclear. A tecnologia ainda está em desenvolvimento, e pode se beneficiar de gás hélio 3, encontrado na superfície lunar.

Como se preparar

Para empresas brasileiras, o efeito geral da transição energética e do paradoxo do ESG deve ser positivo. Na medida em que o mundo abandona o carvão e aumenta o consumo de gás, isto beneficia o Brasil, que não tem grandes quantidades de carvão, mas tem boas quantidades de gás. A Argentina também pode se beneficiar bastante, trazendo prosperidade para o Mercosul.

Entretanto, embora estes efeitos possam atrair uma nova onda de investimentos no Brasil, isto implica numa preparação das empresas e dos indivíduos para esta nova oportunidade.

É preciso pensar no médio e no longo prazo em termos de planejamento ambidestro, resiliência organizacional, novos modelos de negócios, inovação, sustentabilidade e liderança organizacional.

Inevitavelmente, a realidade irá selecionar as empresas e indivíduos que estiveram mais aptos a coevoluir neste novo ecossistema.

Paulo Vicente dos Santos Alves 

(*) Paulo Vicente dos Santos Alves é professor da Fundação Dom Cabral.




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