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Gestão pública
O Brasil está vivendo uma transição de governo atípica e desafiadora, tendo como principal tarefa “unificar dois Brasis”. É o que mostra o episódio do Podcast FDC Debates A Gestão Pública em 2023, que discorreu sobre os primeiros dias do governo Lula, seus erros e acertos, anseios e expectativas. Os professores associados Renata Vilhena e Humberto Martins foram os participantes e se demonstraram uníssonos em relação à divisão do país e os desafios que isso representa.
“Minha maior expectativa é que se consiga acabar com os dois Brasis que se criaram, com a divisão que foi gerada. Cabe ao presidente da República unificar o Brasil’’, afirmou Renata.
Humberto Martins, por sua vez, considera que a transição não se completou, está em curso e sendo praticada com muita dificuldade. Segundo ele, há muito atropelo na composição de cargos de segundo e terceiro escalões e muitos quadros não foram preenchidos ainda. “O cenário é muito desafiador, mas não se trata de terra arrasada. Há muitos servidores competentes para preencher esses quadros”, disse.
Entre os desafios elencados por Renata para este momento está o que ela classificou como “deterioração institucional”, além de uma burocracia que se distanciou de aspectos democráticos e uma máquina de 37 ministérios a gerir. “Foram quatro anos de um Ministério da Economia atrofiado e um gap de crescimento econômico devido à Covid-19”, acrescentou Humberto.
Para ele, o novo governo traz um mindset de 10 ou 20 anos atrás, o que não é bom. “Há uma tarefa muito grande de reconstruir políticas públicas de saúde, educação, infraestrutura, etc. Mas não estamos vendo sinais dessa amplitude. Vemos um mindset de volta ao passado, de trazer todo um contexto de volta, mas a realidade não é bem assim”, disse.
Pouca informação na transição de governo
As ponderações de Renata também apontam para uma transição atribulada. Para ela, não houve um script profissional para a transição. Do lado do antigo governo, pouca informação parece ter sido transmitida para o novo governo. Do lado do novo governo, a transição envolveu dezenas, talvez centenas de pessoas, que pareciam um pouco perdidas. “Era um emaranhado de documentos e o número de pessoas envolvidas que me pareceu excessivo”, disse. “São só quatro anos e o novo governo tem de chegar chegando, dizendo a que veio, mostrando logo as diretrizes, mas não se viu isso”, completou Renata.
Segundo ela, os desafios são muitos, a começar pelo teto de gastos. “E ainda teve os ecos da Covid-19 e a doença dos ianomâmis, tudo gerando incertezas e desafios. Não vejo prioridades estabelecidas, há deficiências em toda parte. Precisamos de um ambiente econômico de segurança para avançar na velocidade necessária’’, pontuou.
Ouça o episódio completo pelas principais plataformas de streaming.
