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No Brasil, petróleo ainda é importante para a segurança energética

Embora a transição para fontes renováveis seja urgente, Brasil ainda deve usar petróleo por algum tempo, para garantir a segurança energética da população

petroleo © - Shutterstock
por Redação fevereiro 7, 2024
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    Impacto positivo e legados sustentáveis

O Brasil vive um impasse entre aumentar a sua produção de petróleo e gás ou liderar a transição energética, com ações de combate às mudanças climáticas. Na Cop 28 (28ª Conferência de Mudanças Climáticas da ONU), realizada em Dubai, no final de 2023, o presidente Lula cobrou das nações desenvolvidas maiores investimentos em energias renováveis e ações de combate ao aquecimento global. No entanto, ao mesmo tempo, o Brasil continua investindo em exploração e produção de petróleo e decidiu entrar para a OPEP+. Além disso, há um constante debate sobre essas divergências com o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, liderado por Marina Silva.

As contradições passam mensagens confusas a brasileiros e estrangeiros, conforme sugere matéria publicada no Estadão. O Brasil não dá o menor sinal de que pretende reduzir sua produção de combustíveis fósseis. Segundo matéria publicada na Exame, baseada em dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP), o Brasil bateu recorde de produção de óleo e gás em novembro de 2023, atingindo 4,698 milhões de Boe/d (barris de óleo e gás por dia). A área do pré-sal foi responsável por 76,3% da produção, com um total de 3,585 milhões de Boe/d – sendo 2,825 milhões de B/d de petróleo e 120,8 milhões de m³/d de gás.

Impasse na Foz do Amazonas

Além disso, o governo se esforça para explorar petróleo na Foz do Amazonas, o que foi negado pelo Ibama e alvo de pedido de reconsideração por parte da Petrobras. O impasse gerou reações de governantes e parlamentares dos estados da região. Segundo Lula, o país não deixará de fazer pesquisas no local, antes de decidir o que fazer. Questionado durante a cúpula do G20, na Índia, o presidente disse que o trabalho estaria longe do Rio Amazonas. “Se encontrar a riqueza que se pressupõe que exista lá, aí é uma decisão de Estado se vomos explorar ou não. Mas é uma exploração a 575 quilômetros à margem do [Rio] Amazonas. Não é uma coisa que está vizinha ao Amazonas”, argumentou, em matéria publicada no G1.

Limites à exploração de petróleo

O descompasso dentro da cúpula do governo sobre produção de petróleo e defesa do meio ambiente é grande. Em entrevista ao Financial Times em dezembro de 2023, reproduzida pela agência epbr, a ministra Marina Silva defendeu a imposição de limites à exploração de petróleo no Brasil. “O Brasil é produtor de petróleo. Este é um debate que terá de ser travado. Estamos comprometidos em triplicar as energias renováveis. Mas isto não pode ser feito se não discutirmos a questão dos limites à exploração”, argumentou Marina.

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Jogando mais lenha na fogueira, a ministra defende que a “Petrobras deve deixar de ser apenas uma empresa de petróleo para ser uma empresa de energia”, investindo na produção de energias renováveis, como mostra reportagem de O Globo.

No entanto, é preciso também ponderar que no Brasil ainda existe uma grande quantidade de pessoas que utiliza carvão para cozinhar, pois não têm acesso ao GLP, e que em algumas regiões isoladas do país só há energia elétrica produzida a partir de diesel. Essas questões, relacionadas à segurança energética, também precisam entrar na conta da transição para fontes geradoras renováveis.

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O Brasil na Opep+: defesa das energias renováveis

Como parte do imbloglio, o Brasil decidiu participar da Organização dos Países Produtores de Petróleo Plus (Opep +). A Opep reúne 13 dos maiores produtores de petróleo do mundo, e a Opep + é uma espécie de grupo expandido, que agrega os 13 membros mais dez países, dos quais o mais relevante para o mercado de petróleo é a Rússia. Esses dez países aliados colaboram com iniciativas da Opep, mas não têm direito a voto na organização.

O presidente Lula sustenta que o Brasil participará da Opep + para poder influenciar a transição energética, investindo em fontes alternativas, em especial o hidrogênio verde. Lula diz que “o Brasil não será membro efetivo da Opep nunca, porque nós não queremos. Agora, o que nós queremos é influenciar”.

Matriz energética brasileira é mais renovável que a mundial

Enquanto discute o aumento da exploração de petróleo, em paralelo à elevação da produção de energia renovável, o Brasil exibe um cenário no qual ainda é muito dependente do petróleo e gás natural. Segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), com base em dados de 2022, a produção de petróleo corresponde a 35,7% da matriz energética brasileira e o gás natural, a 10,5%.

Mas é de se destacar que a matriz energética brasileira é muito mais renovável que a mundial – as fontes renováveis brasileiras representam 44,8% do consumo de energia no país, contra 14,7% da matriz mundial. Isso traz alguma coerência a tantas contradições em torno da discussão sobre combustíveis fósseis no país e à defesa internacional de Lula pelo aumento do peso da energia renovável no planeta, em especial dos países desenvolvidos.

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Além disso, diz reportagem da CNN Brasil, o Brasil lidera investimentos internacionais em energia renovável, de acordo com dados do relatório de investimentos da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD). Segundo o relatório, o Brasil recebeu US$ 114,8 bilhões de dólares em investimentos entre 2015 e 2022. Esse montante representa 11% do valor total investido para energia sustentável em economias emergentes. Uma boa notícia em meio a um cenário tão cheio de tantas polarizações.




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