A pandemia reestruturou as empresas e mudou completamente os processos e as dinâmicas de trabalho. Paralelo a isso, algumas temáticas como a diversidade, inclusão, burnout, microlearning e etc nunca estiveram tão presentes no mundo corporativo.
As provocações referentes a esses assuntos nortearam as discussões em um grande encontro de especialistas na área de desenvolvimento de talentos que aconteceu este ano nos Estados Unidos: a ATD International Conference & Exposition, organizada pela Association for Talent Development (ATD). Considerado um dos eventos mais importantes em educação corporativa, a edição de 2022 destacou a contribuição de profissionais por meio da premiação em várias categorias e também trouxe temas atuais para o debate.
Paula Warick e Marisa Delfino, gerentes de Programas para Desenvolvimento de Grandes Empresas da Fundação Dom Cabral (FDC), estiveram na ATD Conference e apontaram cinco temas em destaque no que diz respeito à educação executiva:
Modelo híbrido
As novas formas de trabalho aceleradas pela pandemia foram um dos temas de destaque. Entre elas está o modelo híbrido, em que parte da jornada é cumprida na empresa e parte em casa. E a reboque dessas novas formas de trabalho, surgem também novas culturas corporativas, que precisam ser assimiladas pelos colaboradores. Por exemplo, a necessidade de engajar os colaboradores nesse ambiente. Outra mudança trazida por essa nova forma de trabalhar foi a necessidade do desenvolvimento de um ecossistema de tecnologia de aprendizado sólido.
Diversidade, equidade e inclusão
Como não poderia deixar de ser, a diversidade e inclusão esteve presente nas discussões. O evento trouxe para o centro das conversas a ampliação das organizações que valorizam a diversidade e inclusão. A premiação de Thomas Kramer como autor da melhor dissertação na área de desenvolvimento de talentos pela ATD, novamente, comprovou a avaliação das duas.
Atualmente professor assistente de administração na Penn State University, ele ressaltou que, embora programas seletivos (ou seja, exclusivos) de desenvolvimento de talentos possam beneficiar os participantes, os efeitos que esses programas têm sobre os funcionários que não são selecionados podem ser prejudiciais ao moral, à retenção e ao esforço de trabalho. O tema foi abordado em sua tese de doutorado “Os Efeitos da Justiça Organizacional Percebida das Práticas Inclusivas de Gerenciamento de Talentos no Esforço do Trabalho dos Funcionários”.
Ainda falando em inclusão, as empresas não ficaram de fora da atenção. É o caso da Cisco, com seu Talent Incubator Program for Women (CTIP-W), homenageado com o Talent Development for Good Award, que reconhece organizações que alavancaram o desenvolvimento de talentos para fazer contribuições significativas e melhorar a vida de outras pessoas. O programa, no caso, é direcionado para engenheiras que trabalham no México e foi pensado como forma de abrir oportunidades para essas profissionais.
Soft skills pós-pandemia
A pandemia trouxe a necessidade do desenvolvimento de líderes capazes de trabalhar habilidades emocionais e de saúde de seus liderados. Esses profissionais precisam conseguir assegurar a criação de um ambiente de colaboração e confiança, onde não haja o chamado bullying (ou abuso) no trabalho e haja bem estar dos empregados, sem perda de produtividade.
Tecnologia: digital e ágil
Na era dos dados, um ponto importante mencionado é o uso deles para a medição da efetividade dos programas executivos. Discutiu-se diferentes modos de medição dessa efetividade, seja pelo número de participantes, por avaliação de reação, seja por aplicabilidade no trabalho.
Ainda no campo do digital, foram citados como tendências a criação de ecossistemas unindo conteúdo e dados em vários sistemas, entre eles podcasts, PowerPoint, simulação de inbox, realidades aumentada e virtual, uso de chatbots, experiências de aprendizagem assistida por voz e até de redes sociais, como o TikTok.
Microlearning
Além desses pontos, um tema que não passou despercebido pelo evento foi o microlearning, ou seja, as soluções que enfatizam o treinamento a partir de partes menores de conteúdo, o que pode estimular o desenvolvimento de talentos no dia a dia, em vez de criar programas específicos. “O que mais vimos na feira foram iniciativas de e-learning e plataformas, ou seja, ecossistemas de aprendizagem para facilitar esse processo entre os colaboradores”, explica Paula. Para ela, a disponibilidade de tempo não é mais desculpa para investir em aprendizado, porque as novas plataformas dão a liberdade de realizar ações no tempo ideal de cada pessoa. Para a gerente, a transferência de conhecimento na prática, engajando os profissionais por meio do microlearning é uma das tendências do segmento.