Você sabia que a credibilidade determina quem é você? E não importa se estamos falando do âmbito pessoal ou profissional. A confiança que você passa pode, inclusive, determinar o seu salário. Muitos indivíduos deixam de prosperar, na vida e na carreira, pelo simples fato de não transmitirem credibilidade. Tudo o que fazemos deixa marcas e experiências em todos os que nos rodeiam, sejam líderes ou liderados, sejam pares ou colegas, ou, até mesmo, familiares. 

Cada vez mais, as empresas buscam profissionais diferenciados para agregarem em suas estruturas, compondo, assim, o time de talentos para a entrega de resultados e aderentes à cultura organizacional, composta por práticas, símbolos, hábitos, comportamentos, valores éticos e morais, além de princípios, crenças, cerimônias, políticas internas e externas, sistemas, jargão e clima organizacional. Nesse sentido, as lideranças e a área de recursos humanos observam os profissionais que não possuem a aderência esperada e, usualmente, são esses que estão nas listas de demissões. O contrário também é válido, ou seja, quem não se sente parte da cultura, tende a pedir demissão e buscar empresas mais compatíveis com seus valores e práticas. 

Entenda a sua demissão

Usualmente, profissionais são demitidos devido a problemas relacionados à entrega de resultados ou ao comportamento, sendo raros os casos em que o processo de demissão ocorre de forma inusitada, surpreendendo o colaborador totalmente. Antes, é preciso que o gestor direto de quem foi demitido tenha fornecido sequenciais feedbacks sobre as falhas de performance e/ou de conduta. Ou seja, normalmente, o descontentamento da liderança imediata já é sinalizado em diversos momentos anteriores à decisão de desligamento.

Ainda assim, todo processo demissional é desafiador. Afinal, um vínculo pré-estabelecido é quebrado. Todavia, cabe ao profissional refletir sobre os motivos que levaram à sua demissão e analisar o que poderia ter feito de modo diferente e refletir sobre as lições aprendidas, para não repetir os erros na próxima empresa. Nesse sentido, entrar em um ciclo de reclamação é muito perigoso. Da mesma forma, culpar a organização pelo insucesso demonstra imaturidade, falta de resiliência e, sobretudo, ausência de autopercepção e autoconhecimento. Entendendo, com clareza, todo o percurso que culminou na sua demissão, o profissional terá maior chance de êxito nos processos seletivos de que participará. 

Em meio ao mundo digitalizado, todos possuem um celular à mão. Nesse cenário, não é raro ver profissionais filmando a própria demissão para divulgá-la nas redes sociais, se posicionando como vítima e criando uma onda de protestos online. Você pode até conquistar alguns “likes” e ganhar fama por alguns segundos ou, quem sabe, conquistar um espaço em algum jornal e/ou revista. Mas como headhunter, preciso lhe dizer que sua imagem corporativa ficará arranhada, impactando seu maior patrimônio, ou seja, a sua credibilidade.

Fotos: Reprodução/ TikTok

É você quem escreve o seu próximo capítulo

No intenso processo de construção da carreira, dedicação e assertividade são ingredientes essenciais para quem quer ter relevância no âmbito corporativo. A postura das pessoas é observada em todos os momentos, seja por pares e liderados, seja pelos líderes ou clientes, de modo que tudo que é feito ou falado vai deixando marcas e revelando quem elas são como profissionais. Por isso, enquanto muitos se preocupam excessivamente com o futuro, vale ressaltar que o hoje é o mais importante, e é o que definirá onde estaremos daqui a alguns anos. Nesse sentido, é essencial ter atenção ao comportamento em uma demissão, para não comprometer sua credibilidade. 

O colega que assiste ao seu processo de demissão pode ser, no futuro, a pessoa que convidará você para assumir uma posição em outra empresa ou até alguém que o recomendará para novos projetos. Portanto, a atenção à sua imagem corporativa é fundamental, o que nem sempre é observado nessa etapa de conclusão das demandas após a demissão. 

O assunto é relevante, uma vez que, com as constantes reestruturações que têm sido promovidas pelas empresas, diminuindo o número de pessoas e mantendo a busca por mais resultados, ser demitido é uma situação que pode acontecer com qualquer colaborador. Além disso, aceitar a dispensa não é simples. No entanto, mesmo nessa circunstância, é preciso cautela para preservar a imagem profissional bem gerenciada, ou seja, manter a boa percepção das suas competências e personalidade, construída ao longo do período em que trabalhou na organização.

Assim, todo cuidado é pouco. É comum as pessoas extravasarem o sentimento de raiva ou frustração após serem demitidas, principalmente falando mal da antiga empresa ou do ex-líder. Essa atitude não é aconselhável, mesmo que existam motivos para tal, pois esses comentários dizem muito sobre você. É fundamental entrar e sair de uma empresa pela porta da frente, o que significa passar por esse momento de forma respeitosa. Isso é fundamental para assegurar a imagem e a credibilidade que conquistamos e para que possamos nos apropriar de ex-pares, ex-líderes e ex-liderados como referências aos futuros empregadores. Lembre-se de que essa fase é transitória. Manter a calma, ter autocontrole e deixar a mente ocupada são atitudes essenciais.

Também é oportuno usar essa experiência para analisar os motivos que levaram a ela e, se for o caso, repensar algumas atitudes. Seu desempenho ficou a desejar? O que poderia ter sido feito diferente? Houve falta de algum conhecimento técnico ou da fluência no idioma inglês? Primeiramente, tente obter informações do seu líder e da área de recursos humanos sobre as causas para a sua demissão. É possível que tenha ocorrido em função de uma redução estrutural, o que tem sido muito comum hoje em dia, mas pode ser porque você não estava entregando seus resultados, apresentava alguma postura inadequada e até devido a um déficit de determinada competência ou habilidade. 

Do estagiário ao presidente, muitos são demitidos não por falta de qualificação ou de conhecimento técnico, mas, sim, por questões que são elementares – ou deveriam ser. Ao subestimar o básico, acabam cometendo erros graves, inclusive, gerando prejuízos à empresa. Portanto, diante de todas essas informações, quem entra em uma lista de corte de pessoal precisa agir com inteligência emocional e aproveitar o momento para refletir sobre a sua própria carreira. 

É preciso usar as avaliações para redesenhar a trajetória profissional, bem como para definir o que deve ser ajustado para a retomada. Vale ressaltar que, em um processo de demissão, alguém foi escolhido. Se foi você, é bem provável que tenha algo a melhorar. Então, fique atento a isso para não ocorrer novamente em seu próximo emprego e jamais filme um processo de demissão para postar em suas redes sociais. Somente você irá escrever o próximo capítulo da sua vida. Como sabiamente disse o escritor Fernando Pessoa: “Um livro onde qualquer um escreve torna-se um livro sem credibilidade”.

David Braga (Foto: FDC/Divulgação)

David Braga é CEO, board advisor e headhunter da Prime Talent, conselheiro de Administração e professor convidado pela Fundação Dom Cabral.