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Desvio das normas por gerentes pode determinar a inovação nas empresas

Estudo mostra como cargos de gerência medianos adaptam de forma positiva as regras das empresas a que pertencem

desvio gerencial © - Shutterstock
por Redação abril 20, 2023
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Um artigo publicado pelo britânico Journal of Management Studies, do Wiley Online Library, analisa como os gerentes de nível médio “subvertem as normas organizacionais por meio de diversas formas”. Considerando o “desvio” não apenas em seu sentido negativo, mas incluindo elementos de adaptabilidade e inovação, o artigo baseia-se na “teoria das tensões estruturais”, elaborada pelo sociólogo norte-americano Robert Merton (1910-2003) e na qual a sociedade pressiona os indivíduos para que alcancem objetivos socialmente aceitos, embora eles nem sempre disponham dos meios para tal.

Com base no acompanhamento do trabalho e entrevistas realizadas em uma empresa de contabilidade brasileira, a BAMA, o artigo sustenta que o desvio decorre de pressões e normas incompatíveis entre níveis e locais organizacionais, e é realizado em operações práticas criativas e reações a normas conflitantes.

Desvio gerencial abre caminho para novas normas

O artigo examina o desvio da gerência intermediária em vários níveis de desapego e faz relação com as normas. Com base nisso, ele avança em uma conceituação multifacetada de desvio – redefinindo, reconfigurando e substituindo normas – e levando em conta suas condições de emergência, diversidade de mecanismos e repercussões na agência dos gerentes intermediários. 

O trabalho conclui que o desvio abre caminho para a formação de novas normas, reconciliando restrições contraditórias enquanto consolida o poder dos gerentes intermediários sobre e além de seus mandatos oficiais.

Tradicionalmente, segundo o artigo, o desvio é considerado prejudicial, motivado por ganhos pessoais ou políticos ou associado a sabotagem ou ilegalidade. No entanto, mais recentemente, os estudiosos reconheceram que ele pode envolver atividades criativas e inovadoras relacionadas à adaptabilidade estratégica ou inovação, o que traz resultados construtivos. 

As responsabilidades multiníveis dos gerentes intermediários se traduzem em influência sobre os pares, gerentes de alto escalão, clientes e subordinados. “A capacidade de mediar as percepções organizacionais permite que os gerentes intermediários interpretem, ajustem e remodelem as visões dominantes da realidade organizacional”, sustenta o texto.

Na pesquisa na BAMA, o foco era a interface dos gerentes intermediários entre a alta administração e os funcionários.  As observações e entrevistas ocorreram na sede da empresa no Rio Grande do Sul, e em mais três filiais. As práticas desviantes ficaram mais evidentes na agência de São Paulo.

Adaptação de normas pode gerar bons resultados

desvio gerencial
© – Shutterstock

O artigo cita um exemplo de que a adaptação de normas pode gerar bons resultados. Embora as normas organizacionais da BAMA exigissem a entrega dos dossiês à sede, a filial de São Paulo desviou esse processo, inserindo uma “pré-revisão” intermediária no nível da agência, o que resolutou em uma duplicação aparentemente redundante de atividades na divisão filial-sede. 

O procedimento adicional envolveu uma lista de verificação ad hoc e um procedimento de verificação criado pelos gerentes de São Paulo. Os auditores de São Paulo foram instruídos a entregar fisicamente seus dossiês de auditoria na agência após trabalho de campo, realizado nas instalações dos clientes, para verificação na presença dos auditores. Só após esta verificação, retificação e explanação de eventuais avarias é que os dossiês foram autorizados a ser enviados para o departamento de Revisão de Auditorias da sede.

Apesar da etapa adicional, a pré-revisão da unidade paulista reduziu os atrasos e mitigou o risco de perda dos prazos legais dos clientes. Reduziu também o envolvimento dos auditores das sucursais e dos colaboradores das áreas de apoio, que deixaram de ter de trabalhar num dossiê após a fase de angariação do cliente. 

A etapa adicionada em São Paulo permitiu ainda que a agência entregasse dossiês mais completos, robustos e autossuficientes. O problema com dossiês mal estruturados foi, portanto, tratado internamente por meio dessa prática revisada. 

O artigo conclui que a noção de tensão estrutural foi usada para examinar teórica e empiricamente o desvio da gerência intermediária, desde suas condições de emergência até sua diversidade de formas. 

Ao explorar como as práticas desviantes redimensionam, reconfiguram e substituem as normas, e ao vincular o desvio ao poder dos gerentes intermediários, o trabalho lançou luz sobre os usos estratégicos do desvio e os processos subjacentes de formação de normas. Essas contribuições destinam-se a criar as condições para um estudo renovado do desvio e sua relação com a política das normas organizacionais.




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