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Cotistas têm desempenho similar ao dos demais estudantes

Pesquisas de universidades públicas mostram que pretos, pardos e indígenas começam cursos com deficiências, mas avançam e igualam notas às dos não-cotistas

cotistas © - Shutterstock
por Redação janeiro 10, 2024
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A área de educação tem uma boa notícia para comemorar: as notas dos alunos cotistas, que ingressam no ensino superior em vagas reservadas para pretos, pardos e indígenas (PPIs) são equivalentes às dos demais estudantes. Essa é principal conclusão de vários levantamentos realizados em universidades estaduais e federais do país, feitos em parceria com os coletivos PoliNegra, de estudantes negros da Escola Politécnica da USP, e Unicamp Black, que reúne universitários pretos e pretas da Unicamp.

O bom desempenho dos alunos cotistas refuta o argumento dos críticos ao sistema, que defendem que as deficiências da educação básica destes alunos causam um desnivelamento entre os estudantes, comprometendo a excelência do ensino superior.

Caminho dos cotistas é árduo

© – Shutterstock

Mas nem tudo é perfeito e fácil no cenário ocupado pelos cotistas. A pesquisa mostra que muitos alunos cotistas têm dificuldade de aprendizado – originada no Ensino Médio – no início dos cursos superiores. Porém, essas lacunas vão sendo preenchidas ao longo dos anos, o que torna o desempenho de cotistas e não cotistas semelhante ao final dos cursos. “A diferença entre os dois grupos não desaparece totalmente, mas as notas convergem no final do curso”, diz o professor Rodrigo Zeidan, da New York University Shanghai (China) e da Fundação Dom Cabral (FDC), e um dos autores do artigo ‘Ação Afirmativa Baseada na Raça e no Rendimento nas Admissões ao Ensino Superior: Lições da Experiência Brasileira’.

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O estudo de Zeidan, elaborado juntamente os pesquisadores Silvio Almeida, hoje ministro dos Direitos Humanos, Inácio Bó, da Universidade de Macau, e Neil Lewis Jr., da Cornell University, analisou 53 pesquisas sobre o desempenho destes alunos nos últimos dez anos. As conclusões mostram, de fato, que nos testes iniciais os cotistas geralmente apresentam notas inferiores aos demais alunos, mas ao longo do curso o desnível se torma cada vez menor.

Estudos apontam um consenso científico

O resultado do estudo surpreendeu o especialista. “Os dados surpreendem porque configuram um consenso científico, com baixo nível de discordância entre os estudos analisados. Pouquíssimos estudos identificaram um desempenho acadêmico ruim dos alunos cotistas,” analisa Zeidan.

Conclusões semelhantes foram observadas pelo professor e doutorando Caio Vinicius Silva, na Universidade Federal da Bahia (UFBA), estado em que a população é predominantemente negra, sendo a única do país a apresentar maior número de autodeclarados pretos (22,5%) do que brancos (18,7%). No estudo ‘Políticas de cotas na UFBA – Uma Investigação Sobre o Desempenho Acadêmico de Estudantes Cotistas e Não-cotistas (2005-2019)’, o especialista afirma que a excelência acadêmica não estava ameaçada pelos cotistas.

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Preconceitos ainda existem

Mas os cotistas ainda são alvo de preconceito. O estudante de Medicina Jônatas Magalhães dos Santos, por exemplo, percebeu isso em vários momentos. O primeiro deles foi quando ele, baiano de Salvador, se classificou em primeiro lugar no curso de Medicina da USP no grupo de pretos, pobres e indígenas (PPI), em 2020. Na classificação geral (Ampla Concorrência), ele seria o terceiro colocado. Nas reportagens sobre seu desempenho, ele leu comentários como “a nota não vale porque é de cotas”, além de questionamentos irônicos e preconceituosos, como “tem certeza de que você não é descendente de japoneses?”.

Como funcionam as cotas

As cotas raciais e sociais visam corrigir desigualdades históricas para grupos discriminados e que não tiveram as mesmas oportunidades no ensino básico. As ações já eram adotadas no ensino superior público, mas a norma federal de 2012 impulsionou o movimento.

Pela legislação atual, 50% das vagas de cada curso, em cada turno, devem ser reservadas para alunos de escolas públicas. Dentro das vagas reservadas, uma parte das cadeiras deve ser destinada para estudantes de escola pública que façam parte do PPI, na mesma proporção desses grupos entre os habitantes do estado onde se localiza a instituição, conforme os dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Isso significa, por exemplo, que a proporção de vagas para alunos de escola pública é a mesma em todas as universidades federais do Brasil (metade). Já a proporção de pretos, pardos e indígenas será maior, por exemplo, na Bahia do que em Santa Catarina. Para além da promoção da diversidade social e racial nas universidades, a política mudou a perspectiva de uma enorme parcela de jovens, que passaram a ver nas universidades uma possibilidade de futuro.




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