Traduzido de forma livre como mentalidade, o termo inglês mindset também vem sendo aplicado no entendimento do comportamento das empresas. No artigo publicado na edição de março/abril da revista DOM Contexto, da Fundação Dom Cabral (FDC), a pesquisadora Solange Mata Machado destaca a diferença entre um mindset de crescimento e um mindset fixo e como eles podem ser associados às corporações.

Segundo a especialista, as empresas inovadoras tendem a ter uma mentalidade de crescimento, incentivando a flexibilidade e a autonomia. Por outro lado, organizações tradicionais geralmente focam na estabilidade e no controle, o que favorece um mindset fixo.

“As startups, por exemplo, desenvolvem culturas organizacionais que fomentam a inovação e a criatividade, incentivam a autonomia, os relacionamentos sociais e não valorizam a hierarquia ou o status. Essas dimensões incentivam o mindset de crescimento”, defendeu ela. “Por outro lado, as organizações tradicionais, criadas com base no comando-controle, tendem a desenvolver o mindset fixo, pois privilegiam o status e a certeza em detrimento da autonomia”, complementou Solange, que é PhD e pós-doutora em Neurociência Aplicada pela Universidade Federal de Minas Gerais, além de doutora e mestre em competitividade e inovação pela FGV. Solange ainda integra o Núcleo de Inovação e Empreendedorismo da Fundação Dom Cabral.

Mindset afeta o desempenho organizacional

A pesquisadora destaca que os estímulos externos têm atraído a atenção da neurociência, inclusive no caso dos ambientes e culturas organizacionais. “A cultura organizacional é uma experiência diária na vida dos seus colaboradores. Todos os estímulos externos (epigenéticos) formados pelos valores, processos e rotinas ao serem vivenciados diariamente moldam o mindset das pessoas”, argumentou.

Quando as pessoas estão se candidatando para uma posição, ou estão fazendo uma entrevista para um novo emprego, elas inferem as características que serão percebidas como as valorosas pelos seus empregadores ou entrevistadores, segundo Solange. “A mudança de comportamento internalizada irá refletir nas crenças pessoais e poderá gerar efeitos duradouros que interferirão no seu mindset”, explicou.

O mindset, no caso, afeta os resultados do desempenho organizacional e, inclusive, vem sendo estudado com suporte da neurociência e de outras áreas científicas. Uma dessas vertentes de estudo analisa a neuroquímica da inovação. O estresse emocional e as tensões do ambiente de trabalho, por exemplo, podem reduzir a capacidade cognitiva, o que aumenta os custos organizacionais.

A diminuição da capacidade cognitiva também impacta diretamente a inovação. “Universidades como Stanford, UCLA, Berkeley, MIT, Columbia e as universidades europeias têm promovido a integração dos seus laboratórios de neurociência, neurobiologia, saúde mental e outros para desenvolvimento de pesquisas aplicadas ao mundo organizacional”, destacou a pesquisadora da FDC.