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Mentiras levam profissionais de RH a atuarem como ‘detetives de currículo’

Consultoria revela que quase 70% dos recrutadores já recusaram candidatos em seleções por não serem honestos sobre experiência, habilidades e formação

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por Redação 17 de junho, 2024
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O currículo é o principal cartão de visitas de um candidato a uma vaga de emprego, e justamete por isso, deve estar organizado de forma a valorizar o profissional. O que muitas empresas não esperam é que muitos destes perfis sejam falsos ou inconsistentes, criando uma dor de cabeça para as áreas de RH. Para identificar os mentirosos, várias empresas têm recorrido a verdadeiros ‘detetives de currículo’, ou consultorias especializadas em descobrir inconsistências no documento apresentado, com o uso de tecnologia e profissionais treinados para cruzar dados e fazer investigações.

Os ‘detetives de currículo’ ou ‘detetives de RH’, como podem ser chamados, se deparam com situações inusitadas. Conforme reportagem publicada em O Globo, uma pesquisa da consultoria de RH Robert Half descobriu que 69% dos recrutadores já descartaram candidatos por inconsistências e mentiras nos currículos. Os casos mais comuns são exagero na descrição de habilidades ou conhecimentos (citado por 50% dos entrevistadores), mentiras sobre cargos anteriores (48%), informação de habilidade maior que a real em idiomas (32%), distorções sobre experiências e realizações (29%) e falso histórico educacional (26%).

Registro na OAB

Uma das mentiras mais chocantes, segundo a pesquisa, é quando o candidato afirma, no currículo, que tem registro na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), o que é obrigatório para desempenho da função de advogado, sem possuir a documentação. Essa mentira é apontada por Júlia Domiciano, gerente de Relacionamento e Recrutamento da Viseu Secondment, uma consultoria que ajuda a investigar candidatos, principalmente para escritórios de advocacia.

Cair na mentira contida no currículo pode levar as empresas a enfrentarem grandes dores de cabeça e prejuízos, como custo da demissão, reinício do processo seletivo e até perda de clientes. O Sênior Manager da consultoria de recrutamento Robert Walters, Bruno Martins, conta, por exemplo, que avaliou um candidato ao cargo de diretor comercial que apresentava em seu currículo uma performance de 120%, índice acima da meta de vendas em uma companhia.

Ao entrar em contato com a empresa, Martins descobriu que as informações sobre o candidato eram verdadeiras, mas soube que os resultados do trabalho do diretor custaram caro à empresa: a taxa de rotatividade entre os funcionários subiu mais de 30% no período, com a perda de talentos em um péssimo ambiente de trabalho. Com essa informação, a multinacional que havia contratado a checagem descartou o candidato.

“Ele não mentiu no currículo, mas era um profissional que coordenava o time com mais pressão, o que não aparece em entrevista. Seu estilo poderia trazer problemas para o meu cliente”, diz o recrutador, que atende 70 companhias.

Demanda da checagem dobrou

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Outro grupo que atua como ‘detetive de RH’, o Laudit, que atende mais de 100 companhias, usa ferramentas digitais que automatizam o levantamento de dados sobre os candidatos, em fontes como tribunais, cartórios e Receita Federal.

O CEO da empresa, Rodolpho Takahashi, conta que essa demanda dobrou nos últimos dez anos. Segundo ele, quanto mais alto o cargo, maior é a disposição da empresa de pagar para não cair na lábia dos desonestos. Takahashi conta que a Laudit foi procurada por uma companhia que contratou um diretor que não tinha sequer o ensino médio concluído. “O candidato foi tão convincente no discurso que conseguiu a vaga”, afirmou.

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Segundo o especialista, a checagem deve ser atualizada, mesmo após a contratação do profissional. “Você não consegue saber o que o seu colaborador fez em determinado período. Isso vale para influenciadores que a empresa está considerando para publicidade’’, argumenta Takahashi.

Fluência de idiomas

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No Grupo UmaUma, de entretenimento, as mentiras mais comuns encontradas pelos recrutadores envolvem fluência em idiomas e conhecimentos sobre ferramentas digitais, de acordo com a líder de RH da empresa, Fabiana Fidalgo.

Para evitar contratações frustradas, a organização decidiu investir internamente em ferramentas para investigar os candidatos, como uma plataforma de inteligência artificial (IA) que cruza dados das análises comportamental, de habilidades, de experiência e dos conhecimentos exigidos, para apontar o que não bate. Quando o sinal de alerta apita, entram em campo profissionais treinados para detectar mentiras nas entrevistas.

O que é considerado crime

Beatriz Alaia Colin, criminalista do escritório Wilton Gomes Advogados, alerta que alguns casos mais graves podem ser enquadrados penalmente. Ela avalia que mentir sobre conhecimentos em outro idioma e informática, por exemplo, não é o bastante para configurar falsidade ideológica. Mas, uma fraude na carteira da OAB, por exemplo, já seria um crime.

“Mentiras que dizem respeito a diplomas em universidades são relevantes e podem ser objeto de ações penais”, afirma. “E nos casos em que a pessoa chega a exercer ilegalmente um ofício, pode incidir, também, no crime de exercício irregular da profissão”, informa Colin.




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