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A sociedade e o homem à frente da Inteligência Artificial

Avanços tecnológicos não podem superar prioridades para políticas públicas, investimentos, atração de empresas, soluções ESG e formação de pessoas

inteligencia artificial © - Shutterstock
por Redação junho 26, 2023
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Os holofotes totalmente voltados para os recursos de Inteligência Artificial vêm ofuscando as discussões em torno do principal propósito de qualquer avanço tecnológico no planeta: colocar o bem-estar do ser humano e da sociedade, no mundo e no Brasil, no centro das atenções. A corrida em torno dos avanços tecnológicos vem tornando opacas as iniciativas para estabelecer prioridades para políticas públicas, investimentos, atração de empresas, soluções ESG e formação de colaboradores. Alguns estudiosos sustentam que, antes da corrida rumo à AI, o ser humano e a sociedade devem estar no centro das discussões, no cerne dos esforços.

Artigo escrito para a Revista DOM, da Fundação Dom Cabral (FDC), por Hugo Ferreira Braga Tadeu, diretor do Núcleo de Inovação e Empreendedorismo da FDC e Pós-Doutor em Análise Multicritério, pela Sauder School of Business, da University of British Columbia (Canadá), e Rodrigo Penna, pesquisador do Núcleo e mestrando em Administração, pela FDC, lança luz sobre o novo cenário vivido pelo planeta, com o avanço da Inteligência Artificial.

Qualidade de vida

“Antes de pensar nos avanços tecnológicos recentes, existe a demanda pela tratativa de temas relacionados à qualidade básica de vida, com comprometimento futuro para as gerações atuais”, sustenta o artigo. “Apesar de tanto brilho pela adoção destas novas tecnologias, poucas pessoas têm questionado as suas origens, riscos e as motivações desta valorização excessiva”, acrescenta o texto.

Um dos riscos destacados pelos autores é um excesso de alocação de recursos dos principais bancos em tecnologias digitais, característica, por exemplo, do Silicon Valley Bank, especializado em serviços bancários para empresas de tecnologia e startups do Vale do Silício, que quebrou em março, gerando o temor de uma crise financeira mundial.

Existem ainda estudos que destacam mudanças de atitude de jovens, com o enfraquecimento do pensamento crítico devido à modularização de comportamento com o uso prolongado de redes sociais e algoritmos.

“Diante de tantas evidências, não seria o momento para pensar em um novo caminho para a sociedade? Um caminho que seja menos centrado em elementos artificiais e mais no humano, com ganho para o planeta por meio de novos modelos de produção?”, indagam os autores.

Bolha tecnológica?

inteligencia artificial
© – Shutterstock

A produtividade global cresceu pouco nos últimos anos, com grande concentração de investimentos em empresas de tecnologia e riscos potenciais para outros segmentos da economia, dada a distribuição desigual de recursos. “Ou seja, estaríamos vivendo um novo ciclo de especulação, uma potencial bolha tecnológica, como vivenciado no início da última década, e concentração de riqueza em alguns poucos setores da economia?”, questiona o artigo.

Os autores elencam 10 sugestões de investimento para o futuro, visando o bem-estar da sociedade brasileira. Dentre elas, a criação de um plano estratégico que contemple demandas como distribuição de renda, qualidade da educação, acesso à moradia e água potável, redução da miséria, problemas tributários e corrupção. Citam também investimentos em tecnologias para o agronegócio e crescimento de setores como engenharia espacial, mineração, saúde e o uso consciente da diversidade ambiental na Floresta Amazônica.

Celeiro de inteligências além da artificial

Os autores se referem ao Brasil como “celeiro de inteligências além da artificial”, citando importantes conquistas e projetos de inovação de empresas, que mereceriam maior atenção global para o seu protagonismo e inteligência, além da artificial.

Eles citam, por exemplo, a Embrapa, responsável por produção alimentar em larga escala e consequente crescimento econômico. “São anos dedicados à pesquisa aplicada de ponta sobre o agronegócio. A produção em larga escala de milho, soja, café, algodão e outros advém do conhecimento brasileiro e uso de tecnologias nacionais importantes”, defendem.

Hugo Tadeu e Rodrigo Penna também abordam o exemplo do SUS, argumentando que o Brasil é um dos poucos países do mundo a implementar um Sistema Único de Saúde, garantindo acesso aos mais pobres a tratamentos médicos complexos e caros. “O SUS integra hospitais, laboratórios, médicos e uma rede de atendimento com tecnologia única e padrão nacional”, destacam.

Também faz parte deste “celeiro” a produção nacional de aço. Os autores afirmam que a formação de uma indústria nacional forte é resultado de planos econômicos da década de 70, com investimentos em usinas em inúmeras cidades e consequente exportação de aço, por exemplo, para indústrias automotivas. “A qualidade do aço produzido no interior de Minas Gerais deveria ser motivo de orgulho e reconhecimento em todos os cantos do planeta”, sustentam.  

Os pesquisadores também destacam os avanços na mineração – fruto do conhecimento em universidades brasileiras –, com a exploração de minerais nobres usados em veículos elétricos, baterias, telefones celulares e chips.

E, para os que pensam no Brasil apenas como explorador e exportador de riquezas naturais, chamam a atenção para a competência de setores como óleo & gás, aeroespacial, tecnologia, alimentos, bebidas, calçados e financeiro. “Exportamos tecnologia, com destaque para empresas como Petrobras, Embraer, Hermes Pardini, Totvs, Stefanini, Inbev, Arezzo, Itaú e Nubank”, listam os autores, pinçando exemplos de uma extensa lista de organizações produtoras de “inteligências além da artificial”.




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