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Imagine Brasil reúne lideranças de diversos segmentos da sociedade para discutir um projeto de país

Fundação Dom Cabral reúne lideranças em São Paulo para fazer o balanço da iniciativa Imagine Brasil

imagine brasil Foto por: Fábio Chialastri
por Redação setembro 30, 2022

A Fundação Dom Cabral (FDC) reuniu em São Paulo membros do conselho consultivo da iniciativa Imagine Brasil e lideranças de diversos segmentos da sociedade brasileira para o compartilhamento de resultados da iniciativa. Definido como um think action tank, o Imagine Brasil contabiliza números importantes. Desde que foi criado, já produziu 11 discussões em forma de diálogo, envolvendo mais de 150 lideranças em várias áreas de atuação; 22 podcasts e oito webinars, além de três publicações, sendo uma delas um livro sobre produtividade recém-lançado. 

Foto por: Fábio Chialastri

O ponto em comum entre eles, segundo Aldemir Drummond, professor da FDC e coordenador da iniciativa é a diversidade. Responsável por resumir a produção de conteúdo do grupo, Drummond lembrou que as 150 lideranças são oriundas de 16 estados e 40% são mulheres, o que inclui desde jornalistas a ex-ministras, passando por lideranças na área de ESG. Apartidário, o grupo reunido em São Paulo tinha, por exemplo, três ex-ministros de governos recentes.  

Além da diversidade, Drummond destacou a importância de o grupo pensar a miscigenação como identidade nacional e a destacar a biodiversidade como uma das principais características do país. O Imagine Brasil também tem sido colocado como um projeto que vê a prosperidade com equidade, ou seja, maior igualdade de oportunidades e de defender a democracia como uma das aspirações nacionais. Drummond igualmente lembrou da necessidade de mobilidade social no Brasil. “As pessoas precisam sonhar que possível ascender socialmente”, destacou.

Produtividade e crescimento econômico

A síntese dos resultados do Imagine Brasil foi seguida pela avaliação dos quatro eixos que pautam o think action tank. O primeiro deles – Produtividade e Crescimento Econômico – foi avaliado por Carlos Primo Braga, professor da FDC e coordenador do livro sobre produtividade, ao lado de Paulo Paiva, também professor na instituição. 

Braga destacou que é hora de se superar as retóricas do Brasil como “país do futuro” e do modelo de milagre dos anos de 1970. A realidade é que a nossa produtividade, que vinha crescendo a taxas de 3% a 4% até a década de 1980, passou a crescer menos de 1%. 

Apesar da inovação não estar presente em todos os segmentos da economia, como deveria, Braga destacou o setor de agronegócio como um exemplo positivo de produtividade que vem aumentando cada vez mais e que está “dando de 7 x 1 no resto do mundo”. Realista e baseado em estatísticas internacionais, o professor da FDC adianta que o Brasil precisaria ter índices de aumento de produtividade de 6% ao ano entre 2022 e 2030 para aspirar a dar o salto para ser uma economia de alta renda, como fez a Coreia do Sul em décadas recentes. 

Prosperidade ambiental 

Virgílio Viana e Viviane Barreto, ambos professores da FDC, foram responsáveis pelo balanço do eixo Prosperidade Ambiental no Imagine Brasil. Viana resumiu um dos pensamentos comuns entre os conselheiros: é burrice desmatar a Amazônia, pois sem ela não há chuva e sem chuva não existe agricultura ou reserva de água para energia hidrelétrica. Para o professor, os dados discutidos no âmbito do Imagine Brasil indicam que o desmatamento só é interessante para alguns grupos criminosos, mas que a agenda ambiental é transversal e deve envolver prosperidade. 

Os números trazidos por Viana e Viviane acendem uma luz vermelha: o aumento de queimadas na Amazônia já atingiu 133 mil pontos em setembro deste ano, contra 128 mil em todo o ano passado. As mudanças climáticas mundiais podem levar ao assombroso número de 2 bilhões de refugiados ambientais no futuro, se o Acordo de Paris não for seguido. Viviane lembrou que a FDC, que recebe cerca de 29 mil alunos de educação executiva a cada ano, pode contribuir para uma maior conscientização. Outra iniciativa da escola é a jornada de conhecimento na Amazônia, uma incursão de executivos naquele ecossistema para vivenciar a realidade da região e passar esse conhecimento adiante. 

Inclusão Social

Ricardo Henriques, professor da FDC, foi o responsável pelo balando eixo Inclusão Social no encontro de São Paulo. Para ele, os avanços nessa área têm sido lentos e o Imagine Brasil vem mostrando que falta uma estratégia para enfrentar a desigualdade. Henriques lembra ainda que o desafio da pobreza passa pela revisão do fato que “organiza a desigualdade”: o racismo estrutural. 

As estatísticas atuais confirmam isso. Uma delas mostra que apenas 53 de 100 meninos negros terminam o curso secundário.  Entre as propostas de mudanças estão a reforma do ensino médio e a criação de um repertório de formação profissional no ciclo básico. 

“O Brasil está no limbo estrutural, a ponto de transformar-se numa sociedade de segunda liga sem capacidade de aspirar à primeira liga”, argumentou. Segundo ele, esse processo perigoso envolve ainda a combinação sócio-ambiental. 

As discussões mostram que, entre as alternativas de mudança está a mobilidade social e o Brasil tem uma fresta de oportunidade – uma janela de 20 anos – para começar a transformar o cenário atual. O ponto de partida, segundo Henriques, seria a diversidade, que tem o poder de produzir um campo aspiracional para mudar o modelo de desigualdade vigente. 

Governança Pública 

O quarto eixo trabalhado pelo Imagine Brasil foi o de Governança Pública, avaliado por Humberto Martins, também professor da FDC. Em sua apresentação, ele mostrou que o país tem uma gestão pública medíocre, principalmente a de pessoas. Ele usou como referência o índice de governança elaborado pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e outras métricas internacionais. “O orçamento público não reflete prioridades e é mal gasto”, complementou, lembrando que a avaliação ruim envolve, inclusive, a elaboração orçamentária e a gestão de tecnologia de informação.  

Humberto Martins | Foto por: Fábio Chialastri

Embora tenha quase 6 mil governos nos três níveis de executivo, a gestão pública patina em termos de parcerias com o setor privado, com pouco mais de 5 mil experiências documentadas. Outra área que poderia melhorar em termos de governança é a presença de organizações da sociedade civil, 15 vezes menor em comparação a economias mais avançadas, como Alemanha e Austrália. 

Martins lembrou ainda que o investimento privado em iniciativas públicas e a participação da população em ações de voluntariado precisam aumentar, reforçando o papel da governança colaborativa. 

Novo encontro em abril 

Os próximos passos do Imagine Brasil foram resumidos pelo professor Antonio Batista, presidente executivo da FDC. De acordo com ele, a iniciativa deverá apresentar um documento de posicionamento de cada eixo para a discussão dos conselheiros e das lideranças envolvidas.

imagine brasil
Antonio Batista  | Foto por: Fábio Chialastri

Sobre Produtividade e Crescimento Econômico, Batista prevê que o Imagine Brasil traga estratégias para avanço da produtividade no país como um dos foco da próxima reunião do conselho consultivo em abril de 2023.

No eixo de Prosperidade Ambiental, ele sinaliza para a criação do Centro Global Agroambiental e para a Aliança pela Prosperidade Ambiental, duas iniciativas baseadas na agenda positiva do setor no Brasil. 

O eixo de Governança Pública deve publicar o Guia de Governança Colaborativa, endereçando as melhorias possíveis nessa área com base nos diagnósticos apresentados pelo Imagine Brasil. 

Outra contribuição deve ser a proposição de reformas na legislação em relação a esse tema. O eixo de Inclusão Social, por sua vez, deverá agregar contribuições de possíveis trajetórias técnico-profissionalizantes para a juventude.




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