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Juntas, as 13.151 favelas brasileiras formariam um país maior que Portugal ou Romênia, ou quase do tamanho do Chile, em quantidade de habitantes. Segundo o Data Favela, há mais de 17 milhões de pessoas vivendo nesses locais atualmente e, pela primeira vez, elas foram demonstradas organizadamente como uma “nação empreendedora”, já que a grande maioria dos adultos (76%) moradores de favelas brasileiras já teve, quer ter ou já tem um negócio.
O empreendedorismo foi o tema da primeira edição da Expo Favela, um evento realizado em abril e que tomou três andares do complexo de negócios Word Trade Center, em São Paulo. Ao todo, foram mais de 350 expositores e a organização contabilizou que 31 mil visitantes passaram para vê-los durante os três dias do evento.
Segundo Celso Athayde, fundador da Central Única das Favelas (Cufa), CEO da Favela Holding e idealizador da Expo Favela, o movimento tem como objetivo a ressignificação da favela e das pessoas, tanto as que estão na favela quanto as do asfalto. “As favelas produzem R$ 120 bilhões por ano no Brasil. Ela produz e consome e o mercado precisa olhar para isso como oportunidades de negócios”, disse ele em reportagem da TV Globonews.
Athayde tratou ainda da necessidade de investimento e qualificação desses empreendedores, motivo pelo qual a Cufa e a Fundação Dom Cabral firmaram parceria no desenvolvimento da “Escola de Negócios de Favela”, cuja ideia é justamente potencializar empreendedores da base da pirâmide.
“Tivemos 20 mil empreendedores inscritos e fomos selecionando até chegar aos 350 que expuseram na Expo Favela. São empresas das áreas de economia, tecnologia, startups e outras que reúnem um mix de empreendedorismo capaz de se comunicar com várias vertentes da sociedade”, destacou.
Os expositores selecionados, além de apresentarem os seus negócios durante a feira, participaram de um outro processo seletivo, do qual houve dez vencedores que participam do Reality Show Expo Favela – O Desafio, em veiculação no Programa É de Casa, da Rede Globo de Televisão. O vencedor dessa etapa receberá a premiação de R$ 80 mil para investir no próprio negócio.
“Em palavras da Cufa, foi evidenciado que, “se era para fazer parceria com uma escola de negócios, que fosse a melhor da América Latina”. Nós da Fundação Dom Cabral estamos muito felizes com essa posição para a parceria, na qual esses dez primeiros empreendedores formarão a primeira turma da Escola de Negócios de Favela”, diz Ana Carolina Santos de Almeida, líder do Movimento Pra>frente, da Fundação Dom Cabral.
Em um artigo publicado pela Exame, Athayde destacou que “a Escola de Negócios de Favela conta com tecnologias e inteligência modernas, capazes de oferecer e permitir trilhas para esses empreendedores e empreendedoras, que não tinham acesso a essas ferramentas, para além de um fluxo de caixa”.
Renato Meirelles, fundador do Instituto Locomotiva e do Data Favela, pontuou que “os moradores de favelas, em vez de lamentar a falta de políticas públicas e o estigmatismo histórico que vem do asfalto, estão empreendendo”. Em detalhes, a pesquisa do Data Favela, liderada por ele, mostra que, dos 76% que têm, tinham ou querem ter um negócio, metade já se classifica como empreendedor. Isto equivale a mais de 6,4 milhões de pessoas.
“O estado não está na favela”
Focando nos negócios que perduraram ou já aconteceram, ou seja, naqueles que estão de pé hoje em dia, 41% dos moradores adultos das favelas têm um negócio ativo. Entre eles, a informalidade é um dos problemas diagnosticados, pois apenas 37% têm CNPJ.
“O estado não está na favela. Para você conseguir um CNPJ, você tem que sair da favela. Você tem que enfrentar, por maior que tenha sido o modelo do Simples, uma série de dificuldades com documentos. Quando você abre um negócio, a primeira coisa que você encontra não é uma oportunidade de crédito. A primeira coisa que você encontra é um fiscal na sua porta”, disse Meirelles em publicação da Agência Brasil.
O relato é para defender que a maior dificuldade encontrada por quem pretende abrir um negócio na favela é a falta de investimento. “A pesquisa deixou claro que falta financiamento, falta grana, falta crédito. Os bancos hoje não oferecem crédito de acordo com a necessidade da favela. Também falta conhecimento de como conseguir expandir o seu negócio através da tecnologia, por mais que nove, em cada dez moradores da favela, tenham acesso à internet atualmente”, destacou Meirelles.
Já Celso Athayde, que vem defendendo a ideia há alguns meses, chegou a publicar, na edição de dezembro de 2021 de sua coluna na Exame, que “não tem dúvida de que a favela produzirá uma empresa unicórnio”.
Vai surgir um unicórnio
A visão dele não é isolada. Em novembro passado, uma reportagem do jornal El País mostrou que uma startup de Paraisópolis (SP) já vinha atraindo políticos e investidores: a Favela Brasil Xpress captou cerca de R$ 1,3 milhão com uma espécie de vaquinha virtual com potencial de retorno financeiro aos doadores. A empresa foi listada na Bolsa de Valores (B3) e é uma das cotadas a se tornar unicórnio ao estar criando “CEP” para a favela.
Em suma, a Favela Brasil Express está resolvendo um problema antigo: de oito, a cada dez territórios de comunidades de São Paulo, quando se compra pela internet a entrega não chega às casas das pessoas, elas ficam em um centro de distribuição. O que a startup fez foi criar uma uma estrutura de entregas, formada em sua maioria por moradores da região, para que as compras cheguem ao destino final.
A reportagem do El País, demonstra que, em seis meses, foram feitas 170 mil entregas, o que girou cerca de R$ 40 milhões em oito territórios de favelas em São Paulo.