O universo da inovação envolve vários caminhos e um deles é o aporte de capital de  grandes corporações em startups. O movimento pode ser resumido na sigla CVC, do inglês Corporate Ventures Capital, e vem sendo acompanhado pela Fundação Dom Cabral (FDC), cujo relatório mais recente sobre o tema acaba de ser divulgado. 

Intitulado Efeito do Corporate Venture Capital para Inovação, o material é resultado de dez entrevistas em profundidade com executivos diretamente ligados à prática de CVC. Eles são um extrato de uma amostra inicial de 52 profissionais responsáveis pelo CVC em suas corporações. A maioria dos entrevistados tem mais de três anos de experiência, sendo que metade deles atua há mais de seis anos com a prática de CVC. 

A base da pesquisa foi a dissertação de mestrado de Rodrigo Graça de Melo, apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Administração da FDC, com orientação do professor Hugo Tadeu, do Núcleo de Inovação e Empreendedorismo. Entre as conclusões do documento recém-lançado (fevereiro de 2022) está a ligação umbilical entre as empresas que adotaram o CVC com o fato de elas próprias já terem iniciativas internas consolidadas de inovação. Elas seriam ainda mais inovadoras do que aquelas que não tem essa cultura interna, na avaliação dos executivos entrevistados. 

O levantamento analisou a percepção dos entrevistados em relação a vários objetivos, desde a obtenção de retorno financeiro e de promoção da inovação, até o acesso a novos mercados e diversificação de negócios. O acesso a novos produtos e novas tecnologias também estavam na lista, assim como o estímulo da demanda e o estímulo aos fornecedores, distribuidores e franqueados. A entrada em parcerias estratégicas com a startup investida e mesmo a aquisição de uma startup investida também fizeram parte da pauta de entrevistas. 

Corporate venture capital mostra que poucas empresas investem em inovação

corporate venture

A etapa final das entrevistas com executivos buscou a compreensão da percepção deles sobre os fatores de sucesso, fracasso e limitações da prática do CVC no Brasil. “Foi compreendido ser possível a identificação dos achados como considerações interessantes sobre a prática dos mecanismos, destacando as mais predominantes pela frequência de citações, e nesse contexto, a falta de processos de Governança para a relação entre empresas investidoras e startups, impactando a absorção dos benefícios de maior destaque”, descreve o relatório. 

Para quem considera pequena a amostra de empresas pesquisadas, segue um alerta de Hugo Tadeu, orientador da dissertação que gerou a pesquisa citada. De acordo com ele, em entrevista à revista Forbes, o investimento em inovação ainda é para poucas empresas no Brasil e apenas cerca de 50 companhias que atuam no país possuem perfil para o Corporate Venture Capital ou CVC. 

Os fatores para se enquadrar no perfil incluem, por exemplo, o faturamento acima de R$ 1 bilhão e uma taxa de retorno mínima de 10%, mediante alocação de capital em startups. “O CVC, definitivamente, não é para pequenas empresas, dada a complexidade e a energia necessária para direcionar esse tipo de relação entre empresas e startups”, explicou Tadeu.