O RPA ou a automação robótica de processos (da sigla em inglês Robotic Process Automation) é uma tendência tecnológica que causa muita curiosidade até por estar associada à substituição do trabalho humano por robôs. Tecnicamente, o RPA é uma plataforma de software destinada a configurar e automatizar tarefas executadas de forma mecânica por humanos, mas que ocorrem em um volume significativo e estão sujeitas a erros e altos custos. Ou seja, são tarefas para as quais a redução no tempo de resposta seria uma vantagem competitiva.
Mas, o RPA não é a resposta para todas as demandas relacionadas à automação de processos, como destaca o artigo Desmistificando o RPA – o Caso iColabora.
Historicamente, o RPA faz parte da Terceira Onda da Era da Informação, que começa a partir do ano 2000, caracterizada pela gestão de processos e focada na mudança contínua. Essa fase foi antecedida pela Primeira Onda (1970-1980), cujo mote principal foi a melhoria de processo, e pela Segunda Onda, conhecida pelas iniciativas de reengenharia e que foi intermediária, ocupando os anos de 1990.
Embora a ideia de automação de processos já tivesse sido discutida desde a Primeira Onda, o tema ganhou fôlego na Segunda Onda, com os conceitos de BPA ou automação de processos de negócio, e BPMS, ou sistema de gerenciamento de processos de negócios. A tempo: pelas suas características, a BPA pode ser reconhecida como a própria transformação digital.
Dentro dessa sopa de letrinhas, é possível destacar que o RPA é parte da automação de processos de negócios (BPA), com foco em tarefas e passos repetitivos. Outra associação direta é do RPA com o EDM (gerenciamento eletrônico de documentos).
Onde for possível a automação, o RPA pode aparecer como uma alternativa para algumas tarefas ou passos que fazem parte de algum tipo de processo. Mas, se for necessário o encadeamento de um fluxo de trabalho onde haverá uma decisão técnica ou a análise de um colaborador mais profissional, o RPA já não é a melhor abordagem e aí entram os recursos de BPA/BPMS. Em resumo: o RPA é uma forte tendência, mas não é prudente encarar a automação apenas com o uso dessa tecnologia.
Robôs não são inteligentes explicam os especialistas
O RPA, por exemplo, não redesenha processos, ele apenas automatiza etapas repetitivas feitas pelos humanos. Em outras palavras, ele é capaz de nos imitar, reduzindo o tempo de desenvolvimento e ampliando a gama de funções que podem ser automatizadas em um leque bem maior de atividades de negócios.
Um exemplo prático é a integração do RPA com a Inteligência Artificial (AI), que é um avanço na forma pela qual as máquinas imitam tarefas humanas, partindo de reconhecimento de padrões, percepção visual e da fala. Para descomplicar: as ferramentas de RPA consistem em um painel de controle usado para gerir os robôs ou bots.
Ainda mais importante quando se fala em RPA é entender o que é exatamente um robô e desmistificar ideias pré-concebidas. Primeiro, os robôs não são inteligentes. Pelo contrário, eles foram desenvolvidos para seguir à risca o que foi determinado num script criado por humanos. Isso significa que se algum tipo de problema afetar o script, o robô para de funcionar imediatamente. Um terceiro ponto a ser lembrado é que os robôs dependem totalmente da disponibilidade das fontes de acesso e sempre nos mesmos formatos ou telas ou logins, para ficar em alguns detalhes.
Na prática, a tecnologia de RPA é aplicada nas corporações por meio de centros de excelência ou CoE, cujos modelos de estrutura podem ser do tipo Centralizado, Híbrido ou Federado, cada um com vantagens e desvantagens. Independente do modelo são os CoE, que conduzem a jornada do RPA dentro das empresas.
A maior parte das corporações está no modelo Federado e conta com experiências de RPA em áreas como contabilidade, recursos humanos, logística, marketing e atendimento a clientes. Uma das características desse modelo é o pouco suporte da área de TI – diferente do modelo Centralizado – onde TI é parte do grupo de trabalho.
Manutenção e autonomia são cruciais no RPA
Independente do modelo do CoE que vai implantar o RPA, não se pode esquecer do básico: trata-se de uma tecnologia de automação que requer alguns passos para a adoção bem-sucedida. O primeiro deles é o entendimento da oportunidade de aplicação e sua classificação, considerando o nível de conhecimento e a relação custo/benefício.
Após a identificação da oportunidade, o passo é escolher uma plataforma de RPA no mercado. É importante advertir que os desenvolvedores de plataformas não atuam nos projetos. Normalmente, eles fornecem apoio apenas em atividades de venda e pré-venda.
“O RPA é realmente uma excelente oportunidade em projetos de transformação e pode constituir a tecnologia de automação eficiente, mas é preciso manter em mente que ele serve às demandas de baixa complexidade, com regras e acessos estáveis a sistemas e de volume relevante que possam promover resultados representativos em escala”, destaca o artigo citado acima e que foi escrito por Karina Coleta, professora associada de Estratégia, da Fundação Dom Cabral (FDC); Fabian Salum, professor de Estratégia e Inovação da FDC; e Lauro Brito, CEO e co-fundador da iColabora, empresa membro do centro de referência em estratégia da FDC.
Uma vez implantado, o RPA também precisa de manutenção. E aqui cabe outra desmistificação: essa atividade não é mais simples que a de outro sistema e não é totalmente autônoma. Como lembram os autores, o RPA é mais simples em termos de código, mas para cuidar do ambiente produtivo, ou seja, da operação do negócio, a manutenção requer cuidados redobrados, pois é a solução mais suscetível a falhas e panes.
É preciso considerar o fato de que, à medida que as demandas aumentam, também cresce a necessidade de organizar a TI dos robôs como pré-requisito. Em relação à autonomia, os especialistas destacam que o RPA precisa de monitoramento técnico constante, já que qualquer interferência no script faz com que os robôs parem.