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Relação China-Brasil envolve desafios e oportunidades

Especialistas alertam que relação entre os dois países tem boas expectativas no momento atual

relacao china brasil © - Shutterstock
por Redação fevereiro 23, 2024
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O anúncio de investimentos de empresas chinesas no Brasil deixou de ser frequente como era há alguns anos, mas isso não significa o enfraquecimento da relação entre os dois países. A mudança decorre de novos mecanismos de controle de capital implementados pelos chineses em anos recentes, o que torna mais complexo o envio de dólares para o exterior. Uma das oportunidades, inclusive, é a possibilidade de empréstimos chineses para projetos de infraestrutura, mostrando que a relação China-Brasil é dinâmica. 

Esse foi um dos pontos do seminário global Leadership in the New Geopolitical Order: China and Brazil, que reuniu os professores Rodrigo Zeidan, da New York University Shanghai e da Fundação Dom Cabral (FDC), e Patricio Giusto, da Universidad de la Defensa Nacional (UNDEF) e da Universidad Nacional de La Plata. 

Zeidan, que está baseado em Xangai, lembrou que as reservas chinesas, que já chegaram a US$ 4 trilhões, hoje se estabilizaram por volta de US$ 3 trilhões, sendo que boa parte da diferença está nos investimentos feitos no exterior por companhias chinesas. Hoje, . A maior parte deles envolve o fornecimento de insumos fabricados naquele país. 

Exemplos da relação China-Brasil

De acordo com Zeidan, eventos recentes, como o investimento da BYD no país, precisaram de autorização do governo chinês para o envio de capital, diferentemente de outras épocas. As restrições explicariam a menor participação não só na América Latina, como a desaceleração em outras regiões, como na Europa, onde os chineses compraram participação em empresas como Pirelli e Volvo. 

O especialista destacou ainda que a China é o maior parceiro de negócios do Brasil, sendo que nós somos um dos poucos países no mundo com superávit na balança comercial. Para ele, a China tem sido subestimada a curto prazo e superestimada a longo prazo. 

Zeidan explica seu ponto de vista com dados, caso da produtividade do trabalhador chinês, que seria 20% do seu contraponto nos Estados Unidos. Segundo o pesquisador, é improvável que a China continue crescendo, na próxima década, nos mesmos níveis do passado. 

Outro exemplo para ilustrar o ponto de vista do professor brasileiro é o consumo de minério de ferro: o país sozinho compra 70% da produção mundial dessa commodity, sendo a maior parte dele importado do Brasil, o que reforça a importância do relacionamento entre as duas nações. Zeidan aposta que a neutralidade brasileira é um ativo importante no futuro, principalmente se a relação dos chineses com os Estados Unidos escalar mais em relação a um tema complexo, que envolve Taiwan. 

Assim como ele, o argentino Patricio Giusto, que é diretor executivo do Observatório Sino-Argentino e especialista na China, acredita que o conflito regional, envolvendo a ilha citada,  pode evoluir. O assunto, que não estava mapeado como prioridade por outros governos, pode ter entrado em uma nova fase para as gerações atuais. 

Geopolítica na relação China-Brasil

Na lista de temas geopolíticos importantes que podem pautar a relação China-Brasil, o especialista argentino destacou que o ano de 2024 deve ser complexo em função da expansão mundial de conflitos, com reflexo na economia e déficit de lideranças mundiais significativas. Ele também chama a atenção para problemas econômicos estruturais entre os chineses, incluindo o envelhecimento da população, o decréscimo da produção fabril e do consumo doméstico. 

O Brasil, como grande produtor de alimentos e de matérias primas como minério de ferro, continua sendo um parceiro preferencial da China, de acordo com ele. Giusto, assim como Zeidan, vê oportunidades em áreas como infraestrutura e energia verde, além da possibilidade de investimentos em base tecnológica. Nesse último caso, o Brasil pode aproveitar melhor essa janela do que seus vizinhos na América Latina, até pela pujança da economia e mão de obra qualificada em áreas técnicas. 

O aprofundamento da relação também acontece com a mudança de governo, sendo que a gestão atual de Lula mantém um relacionamento mais pragmático do que ideológico com a China. O chamado fator Milei – de afastamento da Argentina – é outro ponto que pode aproximar ainda mais os chineses do Brasil. 

relacao china-brasil presidente lula com o lider chines xi jinping
Xi Jinping e Lula (Foto: Ricardo Stuckert / PR)

Para Zeidan, a China está mais agressiva em termos de competitividade. Internamente, o país oriental enfrenta o desafio de estar num cenário de Middle Income Trap, ou seja, da passagem para uma economia de maior renda – ou não. Ele vê dois caminhos: ou o país ficará estagnado nesse quadro ou evoluirá para um modelo similar ao da Coreia do Sul. 

Giusto, por sua vez, vê oportunidades de o Brasil aproveitar o crescimento da China, e também se posicionar melhor no mundo via parcerias, como a dos BRICs, com participação ativa em grupos como o G20.




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