Destacado pela inovação, o mercado de tecnologia está pecando no quesito discriminação racial. É o que indica a pesquisa Potências Negras Tec, realizada pela comunidade Potências Negras e pela Shopper Experience. Dos 1.427 entrevistados, 83% já sofreram discriminação no ambiente de trabalho, segundo o levantamento, que é inédito no país. Dos profissionais entrevistados, 69% são negros, sendo os 21% restantes pardos. 

A discriminação sofrida no ambiente corporativo envolve todas as áreas: 39% dos entrevistados disseram que as iniciativas desse tipo vieram por parte de colegas de trabalho, enquanto 35% por profissionais de RH. Outros 34% foram discriminados por chefes.

“A pesquisa é importante para abordar, com exclusividade, a realidade das pessoas negras que atuam ou desejam atuar na tecnologia”, ressalta Sônia Lesse, sócia-diretora na Profissas – Escola da Diversidade. 

De acordo com ela, as pesquisas disponíveis não mapeiam a realidade das pessoas negras no mercado de tecnologia, no qual a predominância é de pessoas brancas, em maioria homens héteros e cisgênero, sem deficiência e menores de 30 anos.

Discriminação racial também está nos cargos

A pesquisa Potências Negras Tec mostra outro dilema nos setores da tecnologia: 56% dos entrevistados disseram ocupar cargos operacionais ou cargos de assistentes/técnicos e 29% estão desempregados. Os dados também mostram que o número de pessoas negras com carteira de trabalho assinada caiu de 51% para 45% e o desemprego aumentou de 20% para 29%.Os dados da pesquisa são ainda mais impactantes quando se considera que a área de tecnologia da informação e de comunicação (TIC) é deficitária de profissionais. Há uma demanda estimada de 797 mil profissionais até 2025, mas apenas 53 mil pessoas são formadas por ano em cursos voltados para áreas tecnológicas. Por ano também, o mercado de TIC apresenta uma demanda média por 159 mil profissionais, de acordo com a Brasscom, uma  das entidades do setor.