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Gestão pública
A pandemia de Covid-19 deixou claro como a cadeia global de suprimentos é dependente dos países asiáticos. Os lockdowns implementados na China, por exemplo, foram capazes de atingir a economia até de grandes países como os Estados Unidos e os integrantes da União Europeia. A crise abriu uma brecha para o chamado Near-shore, movimento que busca criar parcerias entre países próximos geograficamente. A meta é reduzir os riscos da cadeia de fornecimento, mas sem aumentar muito os custos com a mão de obra.
Enquanto a União Europeia volta seus olhos para o Leste Europeu, os Estados Unidos enxergam na América Latina a oportunidade de manter a sua cadeia de suprimentos ativa. Com isso, cria-se outra oportunidade: o chamado Near-sharing, que é a possibilidade desses países mais pobres não só colaborarem com sua mão de obra, mas também ter em troca um intercâmbio de conhecimento.
Quem defende essa argumentação são os professores titulares da Fundação Dom Cabral (FDC), Fabian Salum e Paulo Vicente Alves. Eles explicam os conceitos no artigo Near-shore e Near-sharing: A oportunidade para a América Latina e Negócios. Para os articulistas, com o Near-Sharing é esperado uma maior circulação da produção de empresas, de insumos e de pessoas, integrando melhor os centros desses países.
O processo geraria uma grande oportunidade para a América Latina, que já não enfrenta mais os problemas de instabilidade política de outrora e possui um mercado já parcialmente integrado, segundo eles.
Os professores destacam que os Os Estados Unidos mostram um desejo de aproximação, buscando se afastar dos conflitos entre Ucrânia e Rússia, e China e Taiwan. Os autores apontam que os norte-americanos buscam diálogo até com a rival ideológica Venezuela, enquanto podem se apoiar em parceiros históricos na região, como Brasil, México, Argentina e Chile.
Oportunidades para o Brasil
Obviamente, o Brasil também tem oportunidades para aproveitar. Por ser a maior economia da América Latina, o país tem se recuperado da recessão econômica 2014-2015 e, apesar do crescimento tímido, a expectativa é de que o PIB do país avance 1,7% em 2022, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Além disso, o Brasil apresenta como atrativo internacional a indústria de mineração e o próprio agronegócio. O país é o terceiro maior produtor de silício do mundo (considerando as produções de ferro silício e silício metálico somadas), por exemplo, e essa é a matéria-prima usada em componentes eletrônicos, como chips de computadores, que enfrentam problemas globais de abastecimento.
Para os autores, considerando a recuperação econômica do Brasil e essa nova visão da globalização, provavelmente este seja o melhor momento dos últimos 30 anos para o desenvolvimento de oportunidades no eixo das Américas.