Os governos, sozinhos, não conseguem dar conta de toda a complexidade que o mundo adquiriu, e, por isso, é necessária a participação tanto das empresas quanto das organizações sociais para vencer os desafios acerca do bem-estar geral. É o que avalia Marta Pimentel, diretora de Educação Executiva da Nova Escola de Negócios e Economia, de Lisboa, durante a Conferência de Diretores da Unicon (um consórcio global de escolas de negócios). Neste ano, a conferência foi sediada pela Fundação Dom Cabral, em Nova Lima (MG).

A Nova Escola de Negócios e Economia é uma universidade pública, que tem um conjunto de 63 empresas que atuam como parceiros estratégicos. “As empresas ganharam um protagonismo muito grande no mundo, já entendemos que os governos sozinhos não conseguem dar conta da complexidade dos desafios que estão em pauta. Tem de haver uma combinação de governos com empresas e ONGs. Só este tripé vai dar conta de resolver problemas sistêmicos”, defendeu Marta.

Marta comentou que existem hoje as chamadas “forças imparáveis”, sobre as quais dificilmente conseguimos agir. “Há as forças imparáveis da tecnologia, que revoluciona as nossas formas de vida, as forças imparáveis das mudanças climáticas e das dimensões da sustentabilidade, e as forças imparáveis ligadas à dimensão da condição humana”, explicou, completando que estamos vivendo uma agenda muito ligada ao bem-estar físico e emocional e à saúde mental. 

A volta da macrovisão profissional

Peter Methot, dos EUA, lançou luz sobre uma mudança de visão na área de educação empresarial. Reitor associado em Educação Executiva na Rutgers Business School e presidente do Conselho de Administração da Unicon, Methot destacou que, no passado recente, os alunos buscavam especialização profunda, em vez de formação mais generalista. 

“Se olharmos o cenário há dez anos, a opção era pela especialização profunda, e não por negócios em geral. Agora, há uma guinada novamente para o macro, sinalizando que precisamos de grandes pensadores, com olhar macro”, disse. O educador também destacou a rapidez com que as mudanças ocorrem no mundo da educação. 

Ele raciocinou que as coisas que demoravam dez anos para mudar, agora mudam muito mais rápido. Atualmente, portanto, aprendemos, testamos e ganhamos escala com mais rapidez em todas as esferas da sociedade. E não é diferente nas escolas de negócios. “Essa tendência levou, inclusive, escolas muito burocráticas a se tornarem mais ágeis”, comentou Methot, acrescentando que o Brasil “tem um contexto único” nesse sentido e é onde as escolas estão construindo uma conexão entre a economia, o meio ambiente e a sustentabilidade.

Escolas de negócios e a educação para o mundo do trabalho

Mohamed AbdelSalam, da Universidade Americana, no Cairo, explicou que a educação no Egito sofreu os efeitos da desvalorização da moeda egípcia no ano passado. “Os orçamentos das universidades e escolas de negócios foram muito afetados”.

AbdelSalam destacou que a educação no Egito vem adquirindo um foco na profissionalização,  em áreas como marketing, indústria e saúde. “E isso cobre uma lacuna do mercado de trabalho, pois a educação em geral não treina as pessoas para o trabalho. Elas descobrem como trabalhar ao chegar ao emprego”, finalizou. 

Em linha com os demais palestrantes, o presidente executivo da Fundação Dom Cabral, Antonio Batista, analisou o ambiente em que as escolas de negócio estão inseridas e afirmou que “há uma nova agenda para a educação executiva, que está relacionada à sustentabilidade, inclusão, bem-estar, diversidade, ética, consumo e crescimento sustentável”. 

“O capitalismo foi capaz de nos trazer ao atual patamar de bem-estar, mas quanto mais crescemos, mais aumenta a desigualdade social. A sociedade está mudando rápido, assim como o papel das empresas. As companhias estão assumindo tarefas completamente novas para elas. Isso é uma grande evolução e apresenta novos desafios para os executivos e para as escolas de negócio”, discorreu Batista.