A transformação digital está revolucionando o setor de cadeias de suprimentos no Brasil, trazendo promessas de mais eficiência e resiliência. Uma pesquisa realizada pela Fundação Dom Cabral (FDC), em parceria com o Núcleo de Engenharia Organizacional da UFRGS (NEO-UFRGS), investigou os impactos dessa transformação e revelou que há oportunidades e desafios a serem enfrentados pelas empresas na adoção de novas tecnologias.
A automação, a análise de dados e as soluções digitais têm potencial para otimizar desde a previsão de demanda até a entrega final ao cliente. Contudo, as empresas também precisam equilibrar essa evolução tecnológica com o desenvolvimento de novas competências entre os trabalhadores e garantir o compartilhamento eficaz de conhecimento. Nesse cenário, o conceito de Smart Working (SW) se destaca como uma abordagem que alia tecnologia à flexibilidade e produtividade dos colaboradores. O SW propõe fornecer aos trabalhadores os recursos necessários para atuarem de forma eficiente e autônoma em um ambiente saudável e conectado.
O papel do conhecimento na transformação digital
O conhecimento é um ativo estratégico para qualquer organização, e seu compartilhamento — tanto de maneira estruturada (explícita) quanto informal (tácita) — é fundamental para a melhoria contínua e a inovação. No contexto das cadeias de suprimentos, a troca de boas práticas e a resolução colaborativa de problemas ajudam a criar um ambiente mais dinâmico e adaptável às mudanças do mercado.
A pesquisa da FDC e NEO-UFRGS, que envolveu 372 empresas de médio e grande porte, mapeou como as companhias estão lidando com a transformação digital e o compartilhamento de conhecimento em suas operações. Entre os setores representados, destacam-se bens de consumo não duráveis, agronegócio e autoindústria. As empresas operam em diferentes níveis da cadeia de suprimentos, com a maioria delas posicionada no primeiro nível.
Desafios e oportunidades

Os resultados mostram que as tecnologias digitais, como cloud computing, big data e Internet das Coisas (IoT), estão sendo usadas para melhorar a visibilidade e a tomada de decisões. No entanto, tecnologias emergentes, como gêmeos digitais e assistentes ativados por voz, ainda são subutilizadas. As empresas também indicaram que a digitalização tem proporcionado ganhos significativos na gestão de estoques, logística e relacionamento com fornecedores e clientes. Mais de 60% das empresas relataram melhorias nesses aspectos, com destaque para a integração de dados e a colaboração com parceiros de negócios.
Apesar dos avanços, a pesquisa aponta áreas que ainda carecem de atenção. A redução de estoques e a flexibilização dos processos continuam sendo desafios, assim como a necessidade de desenvolver ainda mais a autonomia e a colaboração entre os trabalhadores. Além disso, a automação não deve ser vista como uma ameaça à força de trabalho, mas como uma oportunidade de capacitação contínua. As empresas que investirem em treinamento e no desenvolvimento de competências digitais estarão melhor posicionadas para equilibrar tecnologia e capital humano.
Outro ponto de destaque é a rapidez da evolução tecnológica, que pode ultrapassar as conclusões atuais. Segundo o levantamento, é necessário que as organizações mantenham um olhar atento às inovações e estejam dispostas a revisitar suas estratégias frequentemente.

* Paulo Renato de Sousa é professor e pesquisador do Núcleo de Logística, Supply Chain e Infraestrutura da FDC