Geografia não é destino, mas é quase. Singapura fica localizada na ponta da península da Malásia, na rota marítima do estreito de Malaca. Até o começo do século XIX essa rota não era de grande importância, mas o crescimento do comércio entre o oriente e ocidente fez com que, hoje, cerca de 40% do tráfego marítimo passe pelo estreito  de Malaca.

Esse movimento levou os britânicos a colonizar a ilha de Singapura, no começo do século XIX, transformando a ilha eventualmente em uma fortaleza. Em 1965, o país se tornou independente. 

A partir daí, a intensificação do movimento de offshore, isto é, a mudança das indústrias do Ocidente para o Oriente, aumentou o trânsito marítimo na região. Matérias primas iam para Japão, China e Coréia do Sul, lá eram transformadas por manufatura e depois voltavam na forma de produtos industrializados. 

Singapura prosperou como o porto-chave de comércio e centro logístico, dada a sua posição de passagem quase obrigatória nestas rotas marítimas.

Um Tigre asiático

Esse movimento permitiu que quatro países que adotaram economias de mercado prosperassem e fossem denominados de tigres asiáticos: Singapura, Hong Kong, Taiwan e Coréia do Sul. 

Mas Singapura, além da posição geográfica diferenciada, também tem impostos relativamente baixos (17% para empresas, 22% para indivíduos, e 9% para Vendas), o que atraiu grandes fortunas. 

O fato de ser uma nação insular com pouco menos de 6 milhões de habitantes, permite uma defesa militar mais enxuta, e um Estado relativamente barato, de modo que gastos governamentais equivalem a cerca de 15% do PIB. 

Junte-se a isso o fato de que Singapura é um dos países com menor corrupção do mundo. Os casos de corrupção são investigados pelo CPIB (Corruption Practices Investigation Bureau). Os índices de criminalidade também são bastante baixos, sendo que as penas por tráfico de drogas são bastante severas.

Todos esses fatores fazem de Singapura um dos locais mais interessantes do mundo para se estabelecer uma empresa. Atualmente, ela ocupa o primeiro lugar do ranking de competitividade do IMD.

Singapura diversificou sua economia para incluir industrialização e até refino de petróleo, mas sempre com um olhar de exportação, já que o mercado interno é muito pequeno. O índice de comércio dividido por PIB é um dos maiores do mundo, estando acima de 300%.

As pequenas e médias empresas são consideradas a espinha dorsal da economia de Singapura, e isto cria uma disputa muito forte por mão de obra capacitada para atuar no mercado global. Os salários anuais são altos, sendo em média cerca de US$ 69 mil. 

Porém, devido à limitação geográfica e à pequena população, o país tem de procurar soluções tecnológicas. Apesar de investir cerca de USS$ 11 Bilhões em pesquisa e desenvolvimento (P&D), esse valor não chega a ser um dos maiores do mundo. Até mesmo em percentagem do PIB isto representa 1,9%, o que, comparado a Taiwan (3,6%) e Coréia do Sul (4,8%), mostra uma fragilidade comparativa. 

Risco militar

Um grande problema para Singapura está na crescente ameaça da China em sua busca de recursos naturais, e isso tem estimulado um aumento do seu poderio militar, em particular o poderio naval.

A China declara que boa parte do Mar do Sul está sob o seu território, e faz isso com base em um mapa chamado de a linha de nove traços (nine-dash line). Além disso, a China depende muito de matérias primas que passam pelo estreito de Malaca, incluindo petróleo vindo do Golfo Pérsico e comida e minérios vindos da América do Sul e África. Cerca de 60% a 70% das exportações chinesas também passam pelo estreito de Malaca.

A China sabe dessa vulnerabilidade e tem um projeto para criar um canal na Malásia que permitiria desviar as rotas de Singapura, reduzindo a sua importância estratégica. Por isso, geografia nem sempre é destino, pois soluções logísticas podem mudar as condições geográficas.

Além disso a China vem criando uma frota aeronaval e de submarinos para impor supremacia no Mar do Sul e, potencialmente, projetar força no oceano Índico e daí até os estreitos de Ormuz (passagem chave para o Golfo Pérsico) e Cabo da Boa Esperança, ao largo da África do Sul e chave para a ligação com a América do Sul e Oceano Atlântico

Há uma probabilidade crescente de uma guerra de grande porte acabar afetando a posição geográfica de Singapura. Vale lembrar que o Império Japonês capturou a ilha depois de uma campanha pela península da Malásia, em 1942, atacando a ilha a partir do continente onde as defesas eram bem menores.

Novamente, geografia não é destino, mas a posição-chave de Singapura faz dela um alvo óbvio em uma guerra. Apesar dos avanços tecnológicos, a maior parte das cargas no mundo são levadas por transporte marítimo, e a hidrodinâmica não mudou, pois ainda temos limitações de velocidade bastante similares às de quase 100 anos atrás.

Oportunidade e risco

Singapura, portanto, tem uma economia bastante forte para seu tamanho e é muito atrativa, mas sua limitações de espaço e população impõe dificuldades. A sua posição geográfica é inigualável, mas isto por si mesmo constitui uma vantagem e uma vulnerabilidade. De qualquer forma, Singapura continua a ser um dos locais mais atraentes para negócios e para desenvolver carreiras.

* Paulo Vicente dos Santos Alves é professor de estratégia da Fundação Dom Cabral.