Uma nova tendência começa a surgir no mercado de trabalho: a junção – ou ao menos a aproximação – das áreas de Recursos Humanos e Tecnologia. Por trás dessa arrumação está o entendimento de que é preciso agregar à transformação digital uma transformação cultural dos funcionários da empresa, o que é fundamental para o sucesso da implementação dos avanços tecnológicos dentro das corporações. É hora de cada uma dessas áreas sair de suas zonas de conforto e trabalharem lado a lado. 

Esta nova forma de gestão é tema de duas matérias no jornal Valor Econômico, que ouviram novos líderes de empresas seguindo esse novo formato. O aspecto cultural da corporação é a bússola para que os líderes de áreas aparentemente muito diferentes trabalhem juntos.

“Para a inovação acontecer, o mais importante é o ambiente da companhia. Não adianta ter pessoas super inovadoras trabalhando, se, ao longo do tempo, essa inovação é tolhida através dos processos organizacionais”, disse Rute Melo Araújo, que desde 2020 é diretora executiva de Gente, Inovação e Sustentabilidade da empresa de logística VLI, cargo que também envolve a área de Tecnologia. 

“Ocupando as duas posições, eu consigo mobilizar e acelerar a empresa em direção às transformações”, disse. Ela acrescentou que o principal desafio é garantir que tanto as estratégias do RH quanto as de tecnologia sejam compatíveis. 

Diretor de RH não vai atuar como programador

A nova tendência não significa que o líder de RH passe a cuidar de programação e outros processos ligados à Tecnologia. Ou seja: o profissional de RH não vai por a mão na massa na execução de processos tecnológicos. “Mas é importante que o RH dedique algum tempo para aprender e se atualizar sobre as novidades para entender o mínimo, e para poder discutir qual estratégia de tecnologia é mais adequada para a empresa”, esclareceu Antonio Salvador, diretor executivo da área de Carreira da consultoria Mercer no Brasil. 

Ele ainda disse que o novo profissional de RH precisará saber como preparar a empresa para que ela seja cada vez mais dinâmica e consiga tirar o melhor proveito da Tecnologia. “O RH tem sido cada vez mais percebido como um agente de transformação dentro das organizações, o que acaba envolvendo a Tecnologia”, acrescentou.

Segundo Salvador, o principal benefício das diretorias de RH englobarem a área de Tecnologia é a possibilidade de olhar a transformação digital sob o aspecto humano. “Algumas companhias enxergam a implementação de novas tecnologias apenas sob o aspecto de processos, e esquecem como convencer as pessoas a se adaptarem àquela novidade”.

RH e Tecnologia criam chatbot na BRF

Alessandro Bonorino, vice-presidente global de Gente e Sustentabilidade da BRF, responde, desde 2018, pelo RH e pela transformação digital da empresa. O executivo explicou ao jornal Valor que a junção das áreas possibilitou uma cultura mais ágil dentro da companhia, voltada para o uso da informação e de dados e, claro, conduzida por pessoas, importante patrimônio da empresa.

Segundo ele, o emprego da tecnologia pode melhorar processos, reduzir custos e gerar valor. Um dos projetos realizados por Bonorino e sua equipe foi a criação de um chatbot interno, que usa inteligência artificial para responder dúvidas dos funcionários da empresa.

Future readiness

Com ambientes de trabalho envolvendo cada vez mais processos digitalizados e automatizados, o papel do RH ganhou contornos mais complexos. Liliane Furtado, professora de Comportamento Organizacional, Liderança e Gestão de Pessoas do Coppead/ UFRJ, destacou que uma habilidade que a literatura em RH tem estudado é definida como future readiness, que em tradução para o português seria algo como “prontidão para o futuro.”

A capacidade para gerenciar mudanças é uma necessidade do RH que, segundo Liliane Furtado, tem se tornado crucial, com transformações envolvendo não apenas cultura, atração, retenção e desenvolvimento de talentos, mas também habilidades relacionadas à capacidade de lidar e interagir com a tecnologia.