Os dois fortes terremotos que atingiram a Turquia deixaram marcas. São quase 15 milhões de pessoas afetadas, com a morte de mais de 35 mil pessoas. Considerado um dos piores desastres da história, os dois eventos atingiram dez cidades ao mesmo tempo e levaram ao desabamento de cerca de 12 mil prédios. Os números indicam que a recuperação da Turquia não será simples e nem rápida, na avaliação de Rana Kotan, secretária-geral da Fundação do Terceiro Setor.
A representante da sociedade civil fez um detalhado relato ao Yale Insights, veículo de comunicação da Universidade de Yale, nos Estados Unidos. Para Rana, é essencial “expandir a capacidade das organizações de base que estarão se reconstruindo muito depois que as manchetes desaparecerem”. Ela lembra ainda que a atual fase ainda envolve o socorro emergencial e estão focadas nas necessidades humanas básicas como água limpa, comida e a instalação de banheiros.
Uma das informações que explicam a gravidade dos dois terremotos é que o governo turco coordena esforços de socorro e resgate de equipes de 75 países que, mas o aporte ainda não foi o suficiente. E mais: muitas ONGs estão no campo e milhares de voluntários estão ajudando, de acordo com Rana. “A sociedade civil está trabalhando com o governo, mas é uma crise tão grande que é realmente difícil lidar com tudo”, resume.
ONGs e padrões de construção na recuperação da Turquia
Como líder de uma organização para fortalecer a sociedade civil na Turquia, a especialista destaca que um se seus trabalhos é acompanhar o que as pessoas afetadas precisam e pensar, no médio e longo prazo, quando haverá necessidade de reabilitação e restauração. De acordo com ela, passada a fase aguda, os trabalhos de restauração da região permanecerão. Ela avalia que essa segunda etapa terá nas ONGs de base locais, que faziam parte da sociedade civil da região antes do desastre, uma das molas propulsoras das ações de recuperação.
Um dos pontos já esclarecidos é que muitos prédios que desabaram não foram construídos de acordo com o código de construção que evitaria ou reduziria o efeito dos terremotos. “Os padrões de construção da Turquia são altos. O problema é que eles não são aplicados de forma consistente. Você pode ver os bairros onde um município não permitiu nenhum desvio dos padrões de terremotos; os edifícios estão em boa forma. Existem poucos desses bairros”, explica.
Rana também lamenta o não aprendizado com o grande terremoto que atingiu Instambul em 1999 e matou 20 mil pessoas. “Poderíamos ter aprendido a importância de seguir os padrões de construção. Espero que exijamos cumprimento estrito agora, porque a região está em múltiplas linhas de falha”, argumenta. O assunto precisa ser levado a sério, porque para ela um terremoto com magnitude acima de 7 é quase uma certeza para Istambul nos próximos anos.