Como produzir aço sem ferir o meio ambiente e gerando lucro, em um cenário de matéria-prima rara e escassa? A resposta pode estar em criar negócios baseados em readequação estratégica, inovação e ESG, que permitem produzir uma espécie de aço verde em um setor que reflete uma dinâmica desafiadora, em busca de soluções sustentáveis e eficientes. As soluções devem fazer parte dos planos de negócios das empresas.
No cenário global contemporâneo, o aço desempenha um papel central no desenvolvimento e na infraestrutura da sociedade, sendo uma das matérias-primas mais essenciais. Com uma demanda anual que já atinge 1,8 bilhão de toneladas, e com projeções indicando um crescimento adicional de 25% até 2040, o setor siderúrgico se destaca como uma força motriz na economia mundial. Mas a rota mais adequada do aço depende de um minério de ferro de altíssima qualidade e relativa raridade, com baixa oferta no mercado transoceânico.
Emissão de gases de efeito estufa
Além disso, o protagonismo do aço enfrenta desafios significativos. A produção de aço é uma das atividades mais impactantes em termos de emissões de gases de efeito estufa, contribuindo com aproximadamente 7% a 13% das emissões globais. Diante do imperativo de limitar o aumento da temperatura global conforme estabelecido no Acordo de Paris, as empresas do setor buscam transformar suas rotas de produção do ferro em direção ao chamado aço de baixo carbono, mas sem que haja perda de competitividade.
Diante deste cenário desafiador, os alunos Frederico Castro e Tiago Alves, do Executive MBA da Fundação Dom Cabral (FDC), elaboraram um projeto aplicativo envolvendo a criação da empresa AçoVerde. O projeto destaca o reposicionamento dos portfólios das empresas produtoras de minério de ferro em direção ao minério de baixo carbono pelo método Direct Reduction – remoção do oxigênio do minério de ferro ou de outros materiais contendo ferro no estado sólido.
A proposta de criação da AçoVerde abrange não apenas mudanças na matriz produtiva, mas também um reposicionamento de marketing e produto, alinhado às capacidades internas da empresa. A implementação desse projeto estratégico visou não apenas atender às metas de descarbonização e responsabilidade socioambiental (ESG) da empresa, mas também capturar vantagens competitivas no mercado emergente de aço de baixo carbono.
Sucesso ao longo dos próximos dez anos
O plano de negócios estabelecido para a AçoVerde, focado em áreas cruciais como marketing, rotas produtivas e processos de aglomeração e melhoria do material, buscou assegurar o sucesso dessa iniciativa ao longo dos próximos dez anos. Ao alcançar os objetivos propostos, a empresa não só se posicionaria como um player inovador e responsável, mas também projetaria um retorno financeiro atrativo, demonstrando que a readequação estratégica é não apenas uma resposta necessária às demandas ambientais, mas também uma forma de negócio viável e lucrativa.
A ideia de estruturar uma empresa nesse sentido não apenas busca atender às demandas ambientais e compromissos ESG, mas também almeja alcançar uma TIR (Taxa Interna de Retorno) de 19%, um NPV (‘Net Present Value’ ou Valor Presente Líquido) positivo de US$ 1,9 bilhão e um ROCE (‘Return on Capital Employed’ ou Retorno sobre Capital Empregado) superior a 20%, demonstrando seu compromisso com acionistas, clientes e a sociedade. Esse caso exemplifica a importância da readequação estratégica como uma ferramenta vital para enfrentar desafios complexos e alinhar os negócios com as demandas emergentes do mercado e do meio ambiente.
Líder de um mercado em transformação
O projeto se alinha aos compromissos da empresa com seus acionistas, metas de descarbonização do escopo 3 (categoria de emissões de gases de efeito estufa) e demais obrigações no campo ESG, promovendo assim o valor compartilhado real para todas as partes interessadas. Essa abordagem integrada busca não apenas solucionar os desafios atuais, mas também posicionar a empresa como líder em um mercado em transformação.
Para o professor associado da FDC Bruno Portela, orientador do projeto e palestrante nas áreas de Estratégia, Comunicação, Marketing, Gestão Comercial, Relacionamento com o Cliente e Transformação Digital, a principal virtude do projeto aplicativo é a estratégia para deixar um produto mais sustentável e, ao mesmo tempo, mais competitivo no mercado de aço de baixo carbono, num cenário em que a empresa depende de um minério de ferro raro para sua produção e precisa se adequar às metas do Acordo de Paris.
“Trata-se de um estudo de caso de readequação estratégica, que busca inovação na prática do negócio e envolve etapas como Análise do Cenário, Benchmarking, Desenvolvimento da Proposta de Valor, Posicionamento no Mercado e Plano de Negócios”, afirma Portela.