Expressões como ecossistema de inovação, hubs de inovação e inovação aberta fazem parte do repertório contemporâneo de organizações que buscam se conectar com o meio externo para alavancar suas iniciativas de inovação. No entanto, muito além dos modismos e da hype sobre o tema, tal abordagem não é novidade no universo da Pesquisa & Desenvolvimento (P&D).  Criados nos anos 1990, os ICTs são instituições neutras que se posicionam entre as universidades e as empresas com o objetivo de realizar e incentivar pesquisas científicas e tecnológicas. A relevância e desafios enfrentados pelos ICTs, especialmente após a pandemia de Covid-19, foram alvo de projeto aplicativo apresentado por três alunos – ou ‘aluminis’, como são chamados – ao  Executive MBA da Fundação Dom Cabral (FDC), apontando caminhos para que essas instituições prosperem.

O projeto ‘Governança e Gestão Estratégica da Inovação Aplicada ao Desenvolvimento de Negócios no Contexto de Institutos de Ciência e Tecnologia (ICT) Privados’ foi elaborado por Astrid Heinisch, Diretora Executiva da FITec, Luis Eugênio, Diretor de Parcerias Estratégicas do Grupo Oncoclínicas, e Pedro Vergueiro, gerente de educação executiva na FDC, sob orientação do professor convidado da FDC Rodrigo Baroni. Os alunos destacaram os cenários diversos e dificuldades para os ICTs, como a pandemia, na qual a inovação tecnológica se tornou o caminho para a sustentabilidade dos negócios nos mais variados setores. O estudo foi apresentado em 2022, ainda durante a pandemia.

Papel relevante na inovação tecnológica

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Segundo o projeto, os ICTs privados, certificados pelo Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) para Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I), têm papel relevante e positivo na promoção da inovação de base tecnológica do país. Os ICTs buscam alinhar a necessidade da pesquisa sobre tendências tecnológicas e os desejos dos clientes, com a urgência do mercado para o lançamento de novas soluções. Eles podem atuar em projetos para empresas na fase de entendimento dos desafios, a concepção de soluções, desenvolvimento de protótipos, validação com o público-alvo e execução.

“Para que ocorra uma boa interação entre eles é necessário que os institutos compreendam as demandas empresariais e suas estratégias, tornando a comunicação das duas partes mais fácil. As empresas, então, devem apresentar tudo que precisam aos ICTs, que por sua vez fazem pesquisas e discutem propostas, tornando possível que, juntos, possam desenvolver soluções para as demandas apresentadas”, explica Rodrigo Baroni, professor convidado da FDC e orientador da pesquisa. No entanto, essas entidades têm se deparado com o desafio de se posicionar diante das mudanças relacionadas aos processos de inovação nas organizações parceiras e nos próprios clientes, dos mais diversos setores da economia. 

Outro ponto desafiador é o de novos entrantes no ecossistema de inovação que buscam, sem a tradição e a densidade e amplitude das conexões dos ICTs com universidades, se aproximar de empresas com projetos de inovação aberta. “Infelizmente, muitos destes novos entrantes não têm a dimensão da complexidade de se articular os diferentes timings e mindsets das universidades e empresa na construção de parcerias longevas de P&D”, pontua Baroni. 

Diante dos desafios enfrentados, o projeto propõe a adaptação dos processos operacionais dos ICTs privados tradicionais para se beneficiarem das oportunidades de negócios em inovação tecnológica no cenário atual. Com base em análise desenvolvida junto a ICTs e em entrevista realizada com José Luis de Souza, presidente-executivo da Fundação para Inovações Tecnológicas (FITec), o projeto aponta diversas medidas. 

A FITec é uma fundação privada sem fins lucrativos, um ICT privado, credenciado por diversos órgãos e habilitado a celebrar convênios com empresas beneficiárias das Leis de Incentivo à Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológicos. Criada na década de noventa, originária da indústria, a FITec dispõe de vasta experiência de mercado e grande qualificação em áreas como Transformação Digital, Inteligência Artificial (IA), Visão Computacional, Ciência de Dados, Internet das Coisas (IoT). Atua em projetos de inovação tecnológica nos mais diversos setores da indústria, saúde, energia, mineração e outros. 

Soluções propostas

O trabalho sugere a adoção de métodos de vendas complexas, como o SPIN – S: Situação (envolvendo liderança, decisores, parceiros, receita e mercado); P: Problema (perguntas que levam o cliente a identificar seus problemas, como “a solução que você apresenta é de fácil utilização?”); I: Implicação (qual seria o impacto da solução do problema); e N: Necessidade (momento em que o cliente identifica a necessidade e, portanto, o momento de oportunidade para o projeto). O projeto sugere ainda o método da Receita Previsível ­– saber quanto a empresa ganhará em um determinado período de tempo.

O estudo mostra que, os ICTs tradicionais, principalmente aqueles da década de 1990, se estruturaram fortemente, por meio de laboratórios, e desenvolveram experiência e conhecimento, capazes de sustentar a inovação. Mas não se tinha certeza se, no novo cenário, os atuais processos funcionariam. As oportunidades de inovação tecnológica foram estrategicamente aproveitadas pelos ICTs, mas o trabalho remoto e a interação com os clientes e parceiros impunham desafios no desenvolvimento de novos negócios envolvendo, por exemplo, confiança, entendimento e cumplicidade. A construção de parcerias era baseada em relacionamentos face-a-face com contínuas interações e abertura entre as partes envolvidas.

Modelo de gestão

Foi identificada, portanto, a necessidade de uma adaptação no modelo de gestão que permitisse aos ICTs potencializar a assertividade das soluções ofertadas. Foi elaborado um modelo para adaptar os processos de captação e desenvolvimento de projetos de inovação tecnológica à nova realidade, aproveitando as oportunidades de forma eficiente e sustentável.

Usando a FITec como benchmarking, ficou patente a necessidade de um modelo de gestão que permitisse aos ICTs: visão diferenciada da inovação; potencializar a cooperação com parceiros e clientes; e estruturação de ofertas de projetos de forma propositiva. O modelo baseia-se em estágios de análise do negócio e aprovações internas para o progresso da negociação, execução e finalização dos projetos. O projeto foi desenvolvido e validado no contexto dos desafios de ICTs privados, mas a metodologia pode ser aplicada a qualquer empresa cujo negócio seja o desenvolvimento de projetos de inovação tecnológica.