O uso de novas tecnologias é um processo natural para as gerações mais novas, mas isso não acontece, de forma geral, com os profissionais 60+. E isso, de acordo com o relatório Investimentos Sociais Privados e a Longevidade, da FDC, é um grande problema, já que cerca de 25% das pessoas com idade superior a 55 anos precisam (ou desejam) permanecer no mercado de trabalho, mas enfrentam obstáculos na hora de encontrar oportunidades. O estudo destaca que, para mudar este cenário, é preciso combater o etarismo, criar novos postos de trabalho e promover o desenvolvimento de competências digitais.

Para Stefan Tams, professor associado de TI da escola de negócios canadense HEC Montréal, a maioria das empresas não tem uma estratégia de construção de trabalho multigeracional. 

E, mais importante: parte delas também parece não estar ciente do papel das tecnologias complexas na gestão de desempenho dos colaboradores de diferentes faixas etárias. 

Os resultados desse desalinhamento foram apontados por ele no artigo para a MIT Sloan Management Review e incluem o menor desempenho de trabalhadores 60+. Para isso, o pesquisador realizou duas pesquisas em larga escala e um experimento de laboratório. 

Entre os problemas identificados estão o aumento do grau de dificuldade dos trabalhadores mais velhos à medida que as tecnologias empresariais tornam-se mais complexas. Além disso, existe uma sobrecarga de demandas que exigem o uso de recursos mais complexos.

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Ele destaca que mesmo ferramentas de escritório relativamente simples, como o Microsoft Excel, podem rapidamente tornar-se mais complexas e mais difíceis de usar, com a adição constante de funcionalidades mais avançadas.

Dificuldade pode reduzir desempenho e causar insatisfação

profissionais 60+ insatisfacao

De acordo com a pesquisa de Tams, os trabalhadores mais velhos usam menos funções de software do que seus colegas mais jovens e experimentam maiores níveis de ansiedade e estresse ao usá-los para executar tarefas de trabalho. Isso reduz sua satisfação no trabalho e seu bem-estar geral, e seu uso menos eficaz de tecnologias reduz seu desempenho no trabalho.

E pior do que isso: os líderes muitas vezes complicam esses problemas involuntariamente. Por um lado, eles raramente consultam todos os funcionários antes de fazer escolhas de aquisição de tecnologia. Como resultado, a perspectiva dos trabalhadores mais velhos não é levada em consideração quando uma nova tecnologia de escritório é criada ou selecionada, o que reduz tanto a utilidade da nova tecnologia para eles quanto a sua adesão. 

Profissionais mais sêniores também tendem a preferir treinamentos presenciais ao online, o que é outro diferencial em relação à situação atual nas empresas. E eles levam mais tempo neste aprendizado do que seus colegas mais jovens. 

Em seu artigo, Tams lembra que a falta de consciência dos líderes sobre essas necessidades torna o uso de tecnologias de escritório novas ou atualizadas mais difícil para os trabalhadores mais velhos em comparação com seus colegas – mais jovens e mais bem treinados -, e aumenta a sobrecarga de tecnologia que eles vivenciam.

Para combater esse cenário, o pesquisador canadense lista iniciativas importantes, como a priorização de  treinamento de tecnologia para profissionais 60+. Essa ação fornece, inclusive, proteção contra declínio cognitivo da idade. 

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Outra delas é o enriquecimento dos empregos para trabalhadores mais velhos, uma vez que a complexidade vai reforçar as habilidades desses profissionais. O suporte social também é necessário, principalmente por meio de redes de apoio dentro da corporação. A criação de tarefas estimulantes é outro conselho do especialista, fechando uma lista de quatro prioridades.