Lançado em julho de 1994, no governo de Itamar Franco, o Plano Real completa 30 anos. A iniciativa tirou o Brasil dos primeiros lugares do ranking da mundial da inflação e nos colocou na 54ª colocação entre 167 países, segundo reportagem do Valor Econômico. Dados do jornal mostram que o aumento de preços entre 1995 e 2024 foi de 593%, já considerando métricas de projeções globais do FMI para esse ano.
No balanço de prós e contras, o Plano Real trouxe resultados importantes. Em matéria sobre o tema, o portal G1 destaca que a entrada de circulação do real trouxe cenários de inflação nos quais os índices ruins são considerados aqueles em que o IPCA chega a 10% na janela de 12 meses. Lembrando que, nas décadas de 1980 e 1990, o país vivia uma hiperinflação que chegou a ultrapassar os 2.500% ao ano.
Plano Real após 30 anos
Para Paulo Paiva, professor associado da Fundação Dom Cabral (FDC) e ex-ministro do Trabalho e do Planejamento e Orçamento no governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-1999), o Plano foi um sucesso em termos de desindexação da economia brasileira, com especial destaque para a desindexação dos salários. De acordo com ele, a iniciativa eliminou a hiperinflação e estabeleceu as bases para a estabilidade da economia.
O especialista abordou a estruturação do Plano, no artigo “A extração do ovo da serpente no Plano Real: Como foi transitar da indexação para a livre negociação dos salários”, publicado em maio desse ano pelo Instituto de Estudos de Política Econômica/Casa das Garças (IEPE/CdG).
Em função do recorte na desindexação dos salários, as principais observações do artigo de Paiva estão centradas nesse tema. A primeira dela é sobre o impacto do programa de estabilização no bem-estar das pessoas e a consequente aprovação, fatores que teriam criado um ambiente favorável de confiança da população.
Ele também ressalta a abertura de diálogo entre o governo federal de então e as organizações sindicais como outro ponto que favoreceu o Plano Real. A interlocução permitiu a criação de uma agenda positiva de interesse o movimento sindical, como a regulamentação da prática do banco de horas, que era usual nas negociações dos sindicatos de metalúrgicos do ABC. No artigo, Paiva chama a atenção para a presença de lideranças sindicais lúcidas e abertas à negociação, independentemente de posições ideológicas ou partidárias.
Outro ponto positivo do Plano Real, na área trabalhista, envolveu a manutenção da política de participação em lucros e resultados (PLR), que seria fundamental para a construção do modelo de desindexação. “A prudência em seguir o caminho inverso da indexação mostrou-se justo para os trabalhadores”, argumenta o especialista no artigo.
Paiva também lista outras duas características do programa de estabilização, liderado pelo ministro da Economia de então, Fernando Henrique Cardoso. A primeira delas é a manutenção da política cambial, que teve contribuição importante para que a desindexação ocorresse. Para ele, qualquer risco de volta da inflação poderia trazer de volta as demandas por indexação e acabar com o sonho da estabilização da moeda.
A segunda envolveu a negociação coletiva, estimulada pela PRL, o que contribuiu para “extrair o ovo da serpente”, que estava hibernando no Real como nova moeda.