Baseada em dados da Intelligent, uma reportagem da Forbes destaca que, neste ano (2024), 60% das companhias demitiram jovens no início da vida profissional, poucos meses após sua contratação. Conforme os 996 empregadores entrevistados, os motivos mais frequentes de insatisfação com os recém-formados foram a falta de motivação ou iniciativa (50%), habilidades de comunicação precárias (39%) e falta de profissionalismo (46%). Cerca de 20% dos contratantes reclamam também de falta de pontualidade, vestimentas inadequadas e linguagem imprópria. Anteriormente, a Forbes já tinha explorado a pesquisa, com enfoque na dificuldade de liderar os nascidos na década de 1990 em diante. No entanto, os números e as considerações de especialistas trazem paradoxos nas inferências.
Entre os responsáveis por contratações, 17% se mostram hesitantes em relação à geração Z. Todavia, 59% se sentem “entusiasmados”. Até porque, segundo a McKinsey, esses jovens já chegam a 25% da força de trabalho prevista para o próximo ano.
No relatório da Intelligent, Huy Nguyen, conselheiro chefe de Educação e Desenvolvimento de Carreira, nota que os recém-formados presam autonomia, ao mesmo tempo em que esperam encontrar processos estruturados e previsibilidade. “Muitos recém-formados podem ter dificuldades para ingressar no mercado de trabalho, pois pode ser um grande contraste com o que estão acostumados ao longo de sua jornada educacional. Eles geralmente não estão preparados para um ambiente menos estruturado”, avalia.
“Vemos algumas empresas com cargas de trabalho extremas, muito hierárquicas e pouco sensíveis – o cenário oposto ao que a geração Z busca”, disse Mara Turolla, líder de diversidade e inclusão da consultoria LHH, à reportagem da Forbes.
Flexibilidade é convergência entre contemporâneos de várias gerações
Por motivos diversos, que incluem racionalidade de custos, qualidade de vida e produtividade real, a flexibilidade em relação a local e horários é valorizada tanto pelos boomers (nascidos antes da década de 1960) quanto pela geração Z. Outros critérios, todavia, têm pesos diferentes. Por exemplo, os boomers olham mais o salário, até por geralmente terem seu reconhecimento profissional mais consolidado do que os iniciantes. “O contexto ao que cada geração foi exposta pesa muito nas prioridades de cada uma”, afirmou Bruna Neves, CEO da WeWork no Brasil, em matéria da Forbes sobre expectativas das gerações.
“Os líderes não estão conseguindo lidar com a geração Z, mas o que esses jovens querem é saber que o seu líder se importa com o seu crescimento pessoal e profissional”, diz Letícia Pavim, que aos 24 anos fundou a Rede Pavim, dedicada a consultoria para avaliação e treinamento de jovens funcionários, a partir de sua experiência trabalhando em multinacionais.
Segundo a Forbes, os Z teriam ganhado fama de “desengajados” por movimentos como o quiet quitting (demissão silenciosa), que seria se restringir ao mínimo do contrato. Contudo, segundo a WeWork, para 23% da geração X (nascidos entre as décadas de 1960 e 1990), o principal anseio é ter maior qualidade em processos, planejamento e foco estratégico. Embora a consciência sobre os motivos de insatisfação varie conforme a maturidade, a falta de clareza sobre objetivos, expectativas e diretrizes parece estar na raiz das inquietações.
Os boomers, embora priorizem o salário, veem o “reconhecimento profissional” de forma mais pragmática. Seguros sobre suas competências e conscientes de seus limites, 20% (no estudo da WeWork) enfatizam que podem contribuir mais nas tomadas de decisão.
Os profissionais entre 44 e 59 anos, que compõem 25,4% da força de trabalho no Brasil, hoje priorizam equilibrar o trabalho e a vida pessoal. Caracterizados por uma relação menos superficial com a tecnologia, foi a geração que construiu as bases dos atuais ganhos de produtividade e enxerga as transformações com mais objetividade.
Na geração Z, 58% dos jovens escolarizados querem trabalhar de forma híbrida ou remota e recusariam ofertas de emprego ou promoções que os fizessem trabalhar presencialmente todos os dias. “O jovem quer ter autonomia e saber que as suas ações fazem a diferença”, diz Letícia Pavim.
Segundo a pesquisa TIC Educação 2022, 98% dos jovens que acessam a Internet o fazem pelo celular e pelo menos 60% exclusivamente desta forma. Nesse contexto, a falta de habilidade com aplicativos de produtividade pode se dever menos a escolhas do que à exclusão digital. Somada à tela pequena, a navegação restrita a poucos apps induz a uma linguagem infantilizada, com ambiguidades e imprecisões incompatíveis a ambientes profissionais.