Os conselhos de administração ou conselhos consultivos favorecem a sustentabilidade e perenidade das empresas no longo prazo, segundo uma pesquisa inédita no Brasil, realizada pela Fundação Dom Cabral (FDC), em parceria com a NEO Executive Search. Essa opinião é compartilhada por 76% dos entrevistados, entre conselheiros independentes, sócios e CEOs de um grupo de empresas localizadas no Brasil. Da amostra ouvida, 26% é de origem familiar e metade com estrutura limitada (LTDA), sendo a outra metade operando como sociedade anônima (SA).
Duas motivações justificariam a adoção da governança: a expectativa de melhorias nos processos decisórios, apontada por seis entre dez dos entrevistados; e a ampliação do alinhamento estratégico, indicada por quatro entre dez.
Apesar da avaliação positiva sobre a governança corporativa, a percepção positiva é maior (83%) entre os conselheiros independentes do que entre os CEOs (62%), o que mostra maior ceticismo do papel dos conselhos e de suas funcionalidades e eficiência. Aliás, a escolha dos conselheiros independentes é pautada, principalmente, pelo conhecimento específico desses profissionais, e é desejável que eles sejam ou já tenham sido executivos de carreira.
De acordo com Gregori Birnie, sócio da NEO Executive Search, é natural que exista uma diferença de percepções entre conselheiros independentes e CEOs, especialmente no universo das empresas de capital fechado. “Muitas organizações estão em fase de evolução de sua estrutura de governança. Nesse contexto, o CEO passa a ter uma estrutura adicional de reporte (conselho) que, em um primeiro momento, pode gerar uma sensação de perda de autonomia”, explica. Em sua avaliação, o grande desafio das organizações está na estruturação de um conselho com membros que possuam competências alinhadas aos seus desafios de futuro e que sejam capazes de compreender e influenciar os diversos agentes da governança (como o CEO, acionistas e demais stakeholders).
“Nesse sentido, quanto maior o nível de maturidade da estrutura, maior será a entrega de valor e a percepção dos diferentes participantes. Ou seja, independente da diferença de percepção, 76% dos respondentes acreditam que a governança corporativa favorece a sustentabilidade e a perenidade das empresas no longo prazo”, destaca Birnie.
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O tipo de governança também varia. No caso das sociedades anônimas, o conselho de administração é preferencial (73% da amostra) em relação ao conselho consultivo (27%). Nas sociedades limitadas, a diversificação é maior: 63% formaram conselhos consultivos e 37% têm conselhos administrativos. O estudo também apontou outro recorte particular das empresas familiares, indicando a preferência de conselhos consultivos por 52% delas. A configuração é mais presente quando o controle ainda está nas mãos da primeira geração.
Quanto maiores as empresas, menos mulheres no conselho
Ainda sobre as empresas familiares, é interessante notar que nelas existe a maior presença feminina na governança corporativa, assim como acontece entre as corporações menores. No caso de organizações maiores, a predominância ainda é de homens. A proporção geral é de uma mulher para cada três homens nos conselhos.
Para Dalton Sardenberg, professor da FDC que liderou o estudo, a importância da diversidade tem sido um tema recorrente em diversos grupos humanos, e isso não é diferente quando se discute a formação de um conselho. “A diversidade de gênero, especialmente no que diz respeito ao acesso de mulheres ao conselho, é o que costumo chamar de ‘Diversidade 1.0’. Este é um passo básico, mas não menos desafiador”, aponta.
Ele explica que a pesquisa indica que empresas de menor porte, familiares e com conselho consultivo tendem a ter mais mulheres nos conselhos, pois muitas vezes elas são sócias ou herdeiras. Porém, Sardenberg observa que um avanço importante, que tem ocorrido gradativamente, é a ampliação dos espaços para mulheres no papel de conselheiras independentes.
“Conforme nossa pesquisa revela, um dos principais fatores na escolha de conselheiros independentes é a experiência anterior como executivo. Ou seja, como ainda há uma predominância de homens nas posições executivas, isso continua sendo uma barreira para a ascensão de mulheres aos conselhos”, ressalta, explicando que em 2022, de todos os novos conselheiros contratados pelos conselhos de administração das empresas norte-americanas, aproximadamente 70% eram CEOs ou CFOs. “Contudo, os números mostram avanços, o que nos leva a acreditar otimistamente que estamos caminhando, ainda que gradativamente, para uma equidade que representará no futuro a proporcionalidade demográfica”.
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O estudo mostrou ainda que quanto maior a empresa, mais robusta é a estrutura de governança. Prova disso é que 50% das companhias com faturamento superior a R$ 500 milhões e com mais de 1 mil colaboradores já possuem algum tipo de conselho há mais de 5 anos. Somente uma em cada cinco das grandes corporações não tem outros órgãos de governança como conselhos de sócio, de família e fiscal.
E mais: o porte da empresa teria uma relação positiva com estruturas de governança mais elaboradas. Ou seja, é maior a presença de sistemas de compliance ligados aos conselhos de administração no grupo das maiores corporações da amostra. O comitê de auditoria, por exemplo, faz parte de 41% das empresas de maior porte e mais maduras.
A pesquisa mostrou ainda que o “conselho típico” destas companhias é formado por mais de 85% de homens, com 45% dos integrantes ganhando entre R$ 10 mil e R$ 15 mil. “Percebe-se uma variação na estrutura de remuneração dos conselheiros de acordo com o porte (pequenas, médias e grandes), tipo de empresa (Ltda ou SA de capital fechado) e tipo de conselho (consultivo ou administrativo)”, aponta Birnie. em sua avaliação, “quanto maior a complexidade e responsabilidade, maior o reconhecimento”.
“O Brasil é um mercado em evolução e com um potencial gigantesco, devido ao alto volume de empresas, muitas delas ainda em fase inicial na jornada da governança e que não possuem conselhos estruturados. Em contrapartida, a oferta de conselheiros é inversamente proporcional, sendo um ecossistema robusto de profissionais extremamente qualificados”, destaca.
Porém, Birnie reforça que a análise sobre o valor da remuneração é complexa pois, diferente da carreira executiva, o conselheiro pode atuar em dois ou mais conselhos ao mesmo tempo e, como citado anteriormente, é um mercado que está desalinhado em relação a oferta e demanda.
O estudo foi desenvolvido em duas etapas. A primeira foi uma pesquisa qualitativa com nove presidentes de conselhos de empresas de diferentes portes e que serviu como base para elaborar a etapa quantitativa. A segunda fase foi realizada entre março e abril de 2024 e contou com 438 respondentes, sendo que 221 estavam dentro do público-alvo da análise (empresas de capital fechado). Participaram, desta etapa sócios (proprietários), conselheiros e presidentes de conselhos, CEOs ou membros de famílias acionistas.