O vício em jogos online, ou ludopatia, é um problema crescente no Brasil, afetando a saúde mental, financeira e a produtividade nas empresas.
Dados alarmantes do Banco Central de 2024 revelam que, apenas nos primeiros oito meses do ano, cerca de 24 milhões de brasileiros gastaram R$ 20 bilhões por mês em jogos de azar. Jovens entre 20 e 30 anos são os mais impactados, com homens mais propensos ao vício, porém, enquanto os mais novos gastam R$ 100 mensais, os mais velhos chegam a ultrapassar R$ 3.000.
Os efeitos incluem queda de produtividade, absenteísmo e até fraudes, especialmente nas pequenas e médias empresas.
Ignorar o problema pode causar perdas financeiras e deterioração do clima organizacional. Gestores e líderes de RH devem adotar medidas preventivas para mitigar esses impactos.
O vício, o cérebro e as consequências

Jogos de azar estimulam o sistema de recompensa do cérebro, liberando dopamina tanto na vitória quanto na expectativa de ganhar. Essa dinâmica cria um ciclo vicioso, intensificado pelo fenômeno do “quase ganhar”.
A publicidade e o apoio de influenciadores digitais reforçam essa armadilha, vendendo a ideia ilusória de sucesso financeiro rápido.
Isso compromete o desempenho profissional e a vida pessoal, com colaboradores endividados, distraídos e ausentes. Estima-se que cerca de 20% dos apostadores utilizam o dinheiro que deveria ser destinado a necessidades básicas, como contas de luz, aluguel e alimentação.
A situação é ainda mais alarmante quando percebemos que muitos apostadores são pessoas de baixa renda, que já enfrentam dificuldades financeiras.
Em uma média empresa que atendi recentemente, aumentou consideravelmente a quantidade de colaboradores buscando a demissão para que, com as verbas rescisórias e FGTS, pudessem pagar dívidas adquiridas em jogos do tipo bets, entre outros.
Como as empresas podem agir
Conscientização
Promovendo campanhas internas para informar os colaboradores sobre os riscos do vício em jogos. Utilizando palestras, workshops e materiais educativos para esclarecer os impactos financeiros, emocionais e sociais desse comportamento.
Apoio ao colaborador
Disponibilizando programas de assistência psicológica e financeira, como o acesso a psicólogos ou consultores financeiros. Parcerias com instituições especializadas em dependência de jogos também podem ajudar.
Monitoramento ético
Estabelecendo políticas claras que previnam fraudes e o uso inadequado de recursos corporativos, como o uso de ferramentas da empresa para apostas. Certificando-se de que as práticas de monitoramento respeitem a privacidade e a ética e priorizando o bem-estar dos colaboradores.
Clima organizacional
Fomentando um ambiente que valorize a saúde mental e o bem-estar. Isso inclui a promoção de práticas de trabalho saudáveis. Um ambiente acolhedor pode ser um fator protetor contra comportamentos de risco.
Reconhecer o impacto do vício em jogos e agir preventivamente é algo essencial para proteger os colaboradores e garantir um ambiente de trabalho saudável e produtivo.

* Marcelo de Elias, professor convidado da Fundação Dom Cabral e integra o Centro de Inteligência em Médias Empresas da FDC.