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Novos desafios para as escolas de negócios

Temas como ESG, sustentabilidade e avanço tecnológico integram os caminhos de várias instituições, mas muitas enfrentam percalços econômicos, como mostram representantes de instituições de várias partes do mundo

escolas de negocios © - Shutterstock
por Redação 20 de julho, 2023
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As escolas de negócios vêm enfrentando muitos desafios nos últimos anos, e eles devem persistir. É o que mostraram cinco representantes e dirigentes de instituições espalhadas por vários países. A incorporação de temas como ESG, sustentabilidade, avanço tecnológico, diversidade e economia verde ao ensino, além da tentativa de maior integração das escolas à sociedade, é um caminho que vem sendo seguido, em maior ou menor grau, pelas instituições. Muitas, aliás, enfrentam obstáculos que vão desde a desvalorização da moeda do país ou inflação até a dificuldade de as empresas encontrarem os talentos desejados.

O Vicedecano de Relaciones Corporativas da Uniandes School of Management, da Colômbia, Juan Pablo Zuluaga, afirma que o país tem muitas similaridades com o Brasil, devido às diferenças de nível de renda da população e também ao fato de ambos terem líderes de esquerda – o ex-guerrilheiro Gustavo Petro foi eleito presidente da Colômbia em junho de 2022.

Mas, de acordo com Zuluaga, mesmo antes da mudança de governo, o tema sustentabilidade tem tido um foco grande nas escolas de negócios e também nas empresas. “Neste momento, as empresas estão enfrentando o problema da sustentabilidade de uma forma abrangente, bem como as questões ambientais, sociais e financeiras’’, disse.

Escola de negócios e um centro de estudos de sustentabilidade

Segundo Zuluaga, 16 faculdades da Uniandes School of Management estão trabalhando diretamente no tema no momento. Foi criado, também, um centro para desenvolvimento da sustentabilidade, que inclui a discussão de suporte financeiro para aplicar as estratégias relacionadas. “Pode-se dizer que criamos um centro nevrálgico para finanças sustentáveis”, afirmou o dirigente, acrescentando que existem outros programas ligados ao tema. “Estamos fazendo algo para toda a cadeia de suprimentos, treinando os gestores, acompanhando e medindo como eles estão mudando suas empresas para a sustentabilidade”, explicou.

Na área social, a Uniandes School of Management iniciou um programa de longo prazo focado em relacionamento com comunidades vizinhas carentes. Muitas ações de urbanização estão sendo promovidas pelo poder público, e a universidade está ajudando os membros da comunidade a desenvolverem competências. Há programas também em outras regiões pobres e de difícil acesso no país, onde pessoas são treinadas para algumas habilidades, como trabalhar na indústria automotiva.

Cresce interesse pela educação generalista

Peter Methot, diretor-executivo de Educação da Rutgers Business School, nos Estados Unidos, chamou a atenção para uma tendência que vem se reforçando nos últimos anos: o interesse maior pela educação com foco mais macro, ao contrário da educação especializada. 

“Há 10 anos, houve uma mudança real da educação generalista de negócios para a especialização profunda e técnica. Mas estamos vendo um retrocesso nessa orientação agora, de volta para o macro. É como se as empresas dissessem: precisamos de pessoas que sejam grandes pensadores, que possam ver toda a organização para serem mais estratégicas”, explicou Methot.

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© – Shutterstock

Junto com a tendência para o macro, as empresas estão mais atentas e querem mais foco nos cursos com aspectos ESG e seu papel na sociedade. Temas como supply chain, tecnologia, gerenciamento de pessoas e green economy também estão em alta e compõem algunso dos muitos elementos que estão sendo incorporados à educação e desafiam as escolas de negócio.

“O que estamos experimentando são empresas que começam a se interessar por esses novos tópicos, com acessos rápidos e provocativos. As empresas começam a querer que seus líderes pensem de forma maior e mais ampla em torno de grandes desafios sociais e sobre qual papel eles vão desempenhar nesse cenário global”, detalhou o educador.

Escolas muito burocráticas devem se modernizar

As mudanças exigidas atualmente ajudaram grandes escolas altamente burocráticas a se tornarem mais ágeis e sintonizadas com as necessidades dos negócios. No passado, uma mudança curricular poderia levar até dez anos, segundo Methot, mas hoje precisa acontecer mais rapidamente.

As mudanças pedagógicas, acrescentou o gestor, também têm levado à criação de centros de excelência nas universidades, onde os alunos podem aprender e testar. Methot explicou que a Rutgers Business School é estadual, ligada ao estado de New Jersey. São quase 20 mil alunos e, por essas características, há um foco na formação de pessoal local.

Peter Methot também comentou sobre a educação executiva no Brasil. Para ele, o país tem um contexto único, principalmente em termos de meio ambiente, com a Amazônia. Por isso, ele vê uma oportunidade para as escolas de negócio brasileiras construírem uma consciência de conexão entre economia, meio ambiente e sustentabilidade, com forte impacto na discussão global sobre os temas. 

O mundo está mudando rápido

Melanie Barnett, diretora executiva do Unicon, chama a atenção para o desafio de adaptação das escolas de negócio diante de um cenário de muitas mudanças. “O mundo está mudando rápido. E então você conecta isso à ideia de que tudo o que uma empresa realiza é feito pelas pessoas que dela fazem parte dela. Parece uma equação simples, mas é muito importante. O pessoal e os talentos precisam estar equipados com a capacidade de pensar progressiva e de modo estratégico para a inovação. Investir no desenvolvimento de seus talentos é investir em liderança e habilidades de gestão”, defendeu Melanie.

A educadora argumentou que as escolas de negócio oferecem o que nenhuma outra instituição pode promover: “A primeira – e talvez a mais importante oferta – é que os membros do corpo docente são literalmente os maiores especialistas do mundo nos tópicos que interessam às empresas. Eles vão ajudar a responder às perguntas como: ‘como podemos ser melhores gerentes? Como podemos contribuir para a sociedade?”, disse.

Embora não conheça muito sobre o Brasil, Melanie destacou que iniciativas como a da Fundação Dom Cabral (FDC), de apoiar moradores de comunidades, e todo o aprendizado em torno disso, podem ser um exemplo para outras escolas de negócio no mundo.  

escola de negocios metodos
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Outro ponto destacado pela educadora é o ambiente de aprendizagem que uma escola de negócios cria. “As escolas de negócios estão inovando continuamente, inclusive nas abordagens pedagógicas, porque tanto ensinamos quanto pesquisamos”, argumentou.

Para quem pensa apenas em análises e métodos pedagógicos, Barnett cita um importante ingrediente para o sucesso do trabalho de uma escola de negócios: a emoção. “Há pesquisas que mostram como a emoção é importante no local de trabalho, na execução das tarefas, e também no aprendizado”, sentenciou a educadora.

Formação básica x formação executiva

Mohamed Abdelsalam, diretor-executivo da American University in Cairo, no Egito, contou que o país vive uma situação extrema, devido à desvalorização monetária que ocorreu nos últimos meses. No período de aproximadamente 18 meses, a moeda perdeu quase metade de seu valor, situação que afetou também a educação executiva. Para enfrentar a desvalorização, as empresas tiveram de direcionar mais recursos aos trabalhadores e reavaliar os recursos para a educação de negócios, movimento feito pela American University in Cairo.

O dirigente explicou que, ao contrário da maioria dos países, no Egito a maior parte da educação executiva é financiada pelos próprios alunos, e não pelas empresas. “Temos visto que essa parte dos negócios continua crescendo, porque há muitos desafios no mercado de trabalho e as pessoas querem se desenvolver, para se tornarem mais competitivas”, informou Abdelsalam.

Outra situação vivida no Egito é uma grande necessidade de educação básica e universitária específica para diversas áreas, ficando as escolas de negócios “ofuscadas”. Mas a educação executiva é forte em áreas como gerenciamento de saúde. “A educação para negócios é necessária porque, no Egito, como em muitos países em desenvolvimento, os profissionais que dirigem hospitais são médicos treinados para diagnosticar e tratar doenças, e não para gerenciar negócios”, argumenta Abdelsalam.

Ele avaliou que, apesar da crise financeira do país, é significativa a busca por jovens profissionais que não estão satisfeitos com o nível educacional que tiveram na graduação tradicional e então querem fazer um upgrade em suas habilidades, recorrendo à educação executiva tanto para o mercado local e regional, quanto para o mercado internacional.

Em termos de ESG, diversidade e economia verde, Abdelsalam ressaltou que a demanda educacional ainda não é consistente. Há poucos programas específicos, mas a universidade vem inserindo esses tópicos nos programas regulares, de forma a envolver e convencer as pessoas sobre a urgência dos temas. 

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Sobre o Brasil, ele disse acreditar que existam possibilidades de intercâmbio educacional em temas específicos, para cobrir problemas dos dois países. Ele citou que o Egito tem a oferecer, por exemplo, um programa bem-sucedido de gestão hospitalar e qualidade na área de saúde – o que já é alvo de intercâmbio com a Escola de Negócios de Edimburgo, na Escócia, onde é ministrado um MBA online. Já na área de agricultura, onde o Brasil é forte, a contribuição pode ser grande com o Egito, que é deficiente no tema.

Desencontro de objetivos nas escolas de negócios

Singapura, por sua vez, vive uma situação peculiar, segundo Yuk Meng Foo, vice-diretor e responsável pelos programas de educação executiva na NUS Business School. O pior desafio do momento, de acordo com ele, é a inflação crescente, que afeta os negócios e a educação como um todo. Mas há também um desencontro de objetivos entre o mercado contratante e os trabalhadores.

“As empresas dizem que não conseguem encontrar os funcionários, mas as pessoas estão dizendo: estamos bem aqui”, afirmou Foo. “Há um desencontro em termos das habilidades que as empresas procuram, que são profissionais muito especializados. Talvez falte um pouco de flexibilidade no mercado de trabalho, as empresas não estão conseguindo aproveitar e investir em upgrade na mão-de-obra disponível”, comentou.

Em termos de educação executiva, Foo classificou o momento em três partes. A primeira envolve grandes companhias, que procuram a escolas de negócios visando tornar seu pessoal mais ágil, mas com algumas características de pequenas empresas.

A segunda compreende pequenas companhias que querem aprender processos como os adotados pelas grandes, pois estão crescendo rápido e não sabem como se organizar. E a terceira, bem na linha que demonstra o futuro comentado por demais especialistas nesta matéria, envolve os indivíduos diretamente, buscando qualificação e requalificação, para se adaptar para o futuro.




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