Eventos climáticos extremos, como as fortes chuvas que assolaram o Rio Grande do Sul, entre abril e maio deste ano, têm se tornado cada vez mais frequentes, em todo o mundo. Em 2023, ondas de calor recorde atingiram Índia, China e Grécia, enquanto inundações desabrigaram milhares de pessoas na Europa e nos Estados Unidos.
Um estudo recente da World Weather Attribution (WWA) apontou que as chuvas intensas em Kerala, na Índia, aumentaram 10% devido às mudanças climáticas, tornando episódios extremos 17% mais comuns nos últimos 45 anos. O WWA também analisou as inundações no Sul do Brasil, concluindo que o fenômeno El Niño se intensificou em função das alterações do clima.
“A crise climática não é um futuro distante, mas uma realidade que já estamos vivendo”, afirma o climatologista Paulo Artaxo. “Os eventos climáticos extremos se intensificaram e já estão impactando a vida de milhões de pessoas em todo o mundo. Precisamos agir agora para evitar impactos ainda maiores no futuro.”
Em sua avaliação, as mudanças climáticas demonstram uma crise de governança global. “Isso pode ser visto de várias maneiras. Por exemplo, temos duas guerras que estão acontecendo sem qualquer possibilidade de a ONU fazer prevalecer as leis internacionais. O mesmo ocorre com as mudanças climáticas. Os mecanismos atuais nas Nações Unidas são incapazes de proporcionar uma governança ambiental e climática mínima para o planeta”.
Alerta sobre mudanças climáticas é antigo
Desde a Conferência de Estocolmo , realizada em 1972, a ciência tem deixado claro que é preciso acabar com a queima de combustíveis fósseis em todo o mundo. “No entanto, meio século depois, estamos observando um aumento nas emissões de 2% ao ano”, ressalta Artaxo.
Além disso, desde 1990, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) alerta para o aumento das temperaturas e seus impactos, como a elevação do nível do mar e mudanças nos padrões de precipitação. Apesar disso, as ações globais não foram suficientes para conter o avanço das mudanças do clima. Comparações entre os relatórios do IPCC de 1990 e 2024 (mais recente) mostram que muitos dos riscos previstos se concretizaram, com efeitos mais rápidos e severos do que inicialmente projetados.

De acordo com o IPCC, a temperatura média da Terra aumentou 0,8°C no último século, sendo 0,6°C somente nas últimas três décadas. A recomendação, desde 2018, é de que o aquecimento global não ultrapasse 1,5°C, limite necessário para evitar o derretimento irreversível das calotas polares e a desaceleração das correntes oceânicas.
Além dos danos causados pelos eventos extremos, as populações mais vulneráveis estão sendo desproporcionalmente afetadas. A produção de alimentos, a saúde pública e as moradias estão em risco. O World Economic Forum (WEF) estima que até 2050 as mudanças climáticas poderão causar 14,5 milhões de mortes e perdas econômicas de US$ 12,5 trilhões, globalmente.
Desafios e oportunidades
A redução das emissões de gases de efeito estufa é urgente. Entre as medidas necessárias para isso estão a diminuição do uso de combustíveis fósseis e carvão, o incentivo ao financiamento climático, a criação de títulos verdes e a expansão do mercado de créditos de carbono.
Esse mercado permite que empresas que superam seus limites de emissões comprem créditos de outras que operam abaixo desses índices. No Brasil, que tem cerca de 80% de sua matriz energética renovável, existe um potencial significativo para a geração de créditos de carbono, o que é uma oportunidade para o setor empresarial aderir a práticas mais sustentáveis e mitigar seus impactos ambientais.
Vale destacar que reduzir a pegada de carbono é não apenas uma responsabilidade ambiental, mas também uma oportunidade de negócios. Empresas que adotam práticas sustentáveis frequentemente obtêm benefícios adicionais, como redução de custos, melhoria da reputação e atração de investidores.
O combate ao desmatamento, a adoção de soluções baseadas na natureza e o planejamento urbano sustentável também são outras iniciativas para frear o avanço das mudanças climáticas e reduzir a incidência de eventos extremos.