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Estratégia e governança
O chamado mindset global, ou habilidades profissionais para entender e resolver as situações empresariais, mesmo locais, sob uma ótica mais abrangente, está ganhando espaço dentre as características esperadas dos trabalhadores pelas corporações, especialmente em cargos de liderança.
A novidade é que o mindset global poderia ajudar as empresas a enfrentarem as recentes mudanças no modo de trabalhar, com os modelos remoto, híbrido ou presencial. O mindset global poderia facilitar a construção de redes de relacionamento entre os profissionais, fundamentais para a criação e manutenção da cultura organizacional.
Vitor Cavalcanti, ex-Sócio-Diretor da IT Mídia e mestrando em Administração de Empresas (MPA) na Fundação Dom Cabral (FDC), com foco de pesquisa na cultura organizacional de empresas virtuais, aborda o tema em um artigo sobre o crescente papel do mindset global e as mudanças nas relações de trabalho.
Confiança na ausência do fator “olho no olho”
O mestrando observa que não há um estudo específico que ligue diretamente o mindset global ao bom desempenho das equipes remotas, mas já há pesquisas que apontam que ele contribui para gerar mais confiança, o que é fundamental na inexistência do trabalho presencial, com a ausência do fator “olho no olho”.
Outro estudioso do assunto, Higor Sarracini Lima, Sócio-Diretor da Joint Company e profissional de Relações Internacionais e Comércio Exterior com ênfase em Internacionalização de Entidades e Organizações, define o que é global mindset: “em um cenário de alta competitividade e conectividade global, é requerido dos gestores que sejam capazes de lidar com situações de grande complexidade estratégica, de pensar globalmente e agir localmente, envolvendo diferenças culturais, institucionais, econômicas e industriais, de linguagem, de religiões e educacionais”.
Mudanças de modelo de trabalho exigem planejamento
De volta a Vitor Cavalcanti, o mestrando elenca uma série de características que um profissional com alto nível de mindset global deve ter: confiança, adaptabilidade, aculturação e amplitude de conhecimento de realidades locais. As características de mindset global são fundamentais para a transição para o trabalho remoto ou híbrido, especialmente para empresas que nasceram 100% presenciais, e é imprescindível que haja um planejamento detalhado para a mudança.
“Mudar a forma de operar a empresa, sem um bom plano ou um manual explicando como executar determinadas tarefas, pode ser fatal”, afirma Vitor.
As mudanças nas relações de trabalho estão cada vez mais em evidência. Estudo global da consultoria Mercer aponta que 43% dos brasileiros preferem o modelo de trabalho remoto. No mundo, o percentual é ainda maior, com 60% das pessoas preferindo modelos mais flexíveis de trabalho.
Já uma pesquisa conduzida pelo Instituto Datafolha, em dezembro de 2022, mostra que, se pudessem optar, 24% dos brasileiros escolheriam o modelo remoto. Outros 28% preferem o sistema híbrido. Os dois grupos que optam pelas formas de trabalho que se destacaram desde o início da pandemia de Covid-19 somam 52% dos entrevistados. Mas, há 45% que defendem a jornada somente presencial.
Prejuízos à cultura organizacional
Vitor destaca que, dentre as preocupações apuradas na pesquisa da Mercer, sobretudo por lideranças à frente dos recursos humanos, estão a falta de construção de uma rede de relacionamento entre os profissionais e também os prejuízos a aspectos da cultura organizacional.
O profissional afirma que uma equipe com mindset global pode auxiliar no processo de reestruturação pós-Covid. “Pode ajudar, sobretudo, no desafio dos aspectos da cultura e no acolhimento e integração de pessoas de diferentes regiões, países e classes sociais. O digital permite ampliar a diversidade, mas não necessariamente a convivência e a construção de redes de relacionamento com essas pessoas. Assim, a inteligência cultural, amplamente atrelada à mentalidade global, permitiria uma melhor integração entre a equipe, seja ela digital, presencial ou atuando em regime híbrido”, defende.
