Desde os anos 1960, as empresas adotam, em geral, o mesmo padrão de comportamento estratégico, chamado de preditivo. Segundo Heitor Coutinho, professor de estratégia da Fundação Dom Cabral (FDC), a ideia desse conceito era tentar prever o futuro com base nas tendências que, naquela época, eram mais precisas. Acontece que o mundo mudou nos últimos 60 anos e tornou-se muito mais dinâmico, o que requer uma nova mentalidade estratégica. 

O professor, que participou do podcast Saber em Ação #7 da FDC, estabeleceu quatro mindsets para alcançar esta nova mentalidade estratégica: aprendizagem, imaginação, colaboração e resiliência. 

Aprendizagem: um babuíno

Para Coutinho, a maioria dos profissionais tem dificuldade de aprender e o mesmo se aplica às empresas, uma vez que exercem a mesma atividade por tanto tempo que internalizam os processos. Ele compara as empresas consideradas líderes de mercado como leões, animais que representam a força e a coragem, mas que erram muitas vezes antes de capturar uma presa. Já os babuínos são primatas muito curiosos e que desenvolvem novas práticas continuamente, raramente sendo capturados por leões. A ideia por trás do mindset aprendizagem é buscar ser mais babuíno do que leão. 

Imaginação de artista

No caso da imaginação, a estratégia tradicional das empresas pode ser comparada ao xadrez, baseada na capacidade lógica de prever os movimentos futuros do concorrente. O professor sugere a mentalidade do artista, que cria algo novo a partir da imaginação e pode antecipar uma inovação. Esse foi o caso da Amazon, que levou a livraria para o ambiente online.

Colaboração como catraca

Ainda na descrição de uma mentalidade tradicional, Coutinho diz que ela é focada na proteção de mercado e não na colaboração. É como se fosse um fosso, onde a empresa impede que outras entrem em seu território. Essa lógica defensiva pode trocar o fosso pela catraca, permitindo que parceiros, que podem até ser concorrentes em algum nível, sejam autorizados a entrar no “terreno” da empresa para colaborar em algo maior e formar ecossistemas de negócio. Isso é muito comum no setor de tecnologia, onde companhias acabam tendo que se complementar com base em suas competências. 

Resiliência é melhor que previsibilidade

O quarto mindset é a resiliência, que muda o pensamento clássico de visão a longo prazo, com base na previsibilidade. O planejamento sempre foi importante e necessário, servindo como um roadmap para assegurar a execução do plano, mas num mundo imprevisível, a resiliência é melhor que o planejamento. “A resiliência aumenta a agilidade de uma empresa pela adaptação e pelos resultados precisos de antes das adversidades, que vão ser cada vez mais frequentes e inesperadas”, conclui Coutinho.