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Menopausa ainda é tabu e trabalhadoras têm pouco apoio das empresas

Pesquisa do Bank of America mostra que 51% das entrevistadas em fase pré e pós-menopausa sentiram impacto negativo no trabalho

menopausa © - Shutterstock
por Redação julho 1, 2023
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A menopausa ainda é um tema tabu no mercado de trabalho, no qual a maioria das mulheres não apenas não está à vontade de falar sobre, como também não se sente apoiada pelas empresas nesta fase da vida. Os empregadores, por sua vez, acreditam que lidam bem com a questão, mas essa não é a percepção das trabalhadoras, que acham que não recebem o que precisam das companhias neste momento delicado. O tema foi alvo de duas reportagens publicadas no site Fast Company Brasil.

A reportagem mais recente, de 8 de junho de 2023, publica resultado de pesquisa feita pelo Bank of America, na qual foram entrevistados 500 profissionais de Recursos Humanos e 200 trabalhadoras entre 40 e 65 anos, todos atuando em grandes empresas. Mais da metade (51%) das entrevistadas em fase pré e pós-menopausa disseram que a nova condição impactou seu trabalho de forma negativa.  

Das entrevistadas, 64% disseram que gostariam de receber benefícios relacionados à menopausa. Mas apenas 14% do total afirmaram que as empresas reconheciam a necessidade de apoio. Os principais benefícios desejados são acesso a profissionais de saúde (40%), horário flexível (38%) e cobertura para gastos com reposição hormonal (38%).

A menopausa e seu impacto no trabalho é um tema relevante em todo o mundo. Nos EUA, chegou a ser criada a National Menopause Foundation (Fundação Nacional da Menopausa). Para se ter uma ideia da abrangência da situação, somente nos EUA, segundo dados dessa fundação citados na reportagem, cerca de 1,3 milhão de mulheres entram na menopausa a cada ano.

Discrepância entre o que as empresas e o que as trabalhadoras pensam

Segundo a pesquisa do Bank of America, dentre os profissionais de RH ouvidos, 71% acreditam que suas empresas têm “uma cultura positiva em relação à menopausa”. Mas o índice não coincide com o que pensam as trabalhadoras ouvidas, pois só 32% têm essa percepção. Além disso, 76% dos gerentes de RH disseram ter falado sobre menopausa com as funcionárias, mas só 3% das entrevistadas disseram ter tido algum tipo de conversa sobre o assunto.

Ainda de acordo com a pesquisa, um terço dos empregadores disse oferecer benefícios para quem está na menopausa. Embora ainda pouco frequente, a iniciativa tem resultado relevante: dentre as entrevistadas que usufruem de algum benefício, 58% disseram que eles impactaram seu trabalho de forma positiva.

A fundadora da National Menopause Foundation, Claire Gill, critica o fato de a menopausa ainda ser tratada como tabu. “As mulheres não deveriam ficar constrangidas por experimentarem os sintomas da menopausa, nem sentir que são discriminadas no trabalho por conta disso. Esperamos que este estudo inspire mudanças no modo como as pessoas percebem e vivenciam a menopausa e que ele possa servir como guia para iniciativas que deem suporte às mulheres que se encontram nesse estágio da vida”, defendeu Claire Gill.

A Fundação Dom Cabral (FDC) também analisou o tema menopausa, na 4ª edição do trabalho Conexão Mulheres, em 2023, ligado ao Comitê Carreiras e elaborado pela professora Luciana Ferreira. Segundo o trabalho, cerca de 13% das mulheres dizem ter experimentado efeitos adversos no trabalho decorrentes dos sintomas da menopausa, tais como não trabalhar, trabalhar menos horas, demissão, desistência, aposentadoria e mudança de trabalho. O custo estimado das perdas é equivalente a US$ 1.8 bilhão.

Outra reportagem do site Fast Company Brasil, de 31 de maio de 2023, aborda mais facetas do problema, principalmente comportamentais. A reportagem, de Anne Marie Squeo, CEO da butique de marketing e comunicação Proof Point Communications, diz que o tema da menopausa insiste em permanecer “tabu ou motivo de piada”, mas isso está prestes a mudar. 

“À medida que as pessoas vivem mais e que as taxas de natalidade caem, homens e mulheres estão trabalhando mais. O que significa que muitas pessoas trabalharão por décadas depois da menopausa”, diz a autora.

Cenário tende a mudar

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© – Shutterstock

Na reportagem, Jaqueline Oliveira-Cella, líder global em saúde e seguros, que trabalhou em empresas como Kyndryl e Colgate-Palmolive, também diz que o cenário vai mudar.

“As mulheres estão ficando nos empregos por mais tempo. Quando é o ponto da carreira ideal, quando nos tornamos candidatas à liderança? É exatamente quando a menopausa chega”, argumenta.

Mary Jane Minkin, professora clínica de obstetrícia e ginecologia na Escola de Medicina da Universidade de Yale, concorda com Oliveira-Cella.

“Este é um grupo de pessoas muito produtivo, com muita experiência. Nenhuma empresa deveria arriscar perder essas profissionais”, defende Minkin.

A menopausa vai continuar sendo um grande desafio para empregadores e empregadas. Segundo a reportagem, a população mundial de mulheres na menopausa e na pós-menopausa – não incluindo aquelas na pré-menopausa – deve chegar a 1,2 bilhão até 2030, com 47 milhões de novas mulheres a cada ano, de acordo com o National Institutes of Health.

Em abril deste ano, a Mayo Clinic divulgou um estudo, o maior do gênero nos EUA, que apontou que a economia do país perde US$ 26,6 bilhões por ano devido à perda de produtividade e às despesas com saúde resultantes de funcionárias com sintomas de menopausa.

Dentre os benefícios que podem ser concedidos pelas empresas, porém, há alguns bem simples, como aumentar a proximidade do banheiro ou permitir que as mulheres controlem a temperatura ambiente, devido às ondas de calor da menopausa.




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