Em meio a muita polêmica sobre vantagens e desvantagens de cada modelo de trabalho, o home office pode estar em escala descendente no Brasil e no mundo, segundo apontam pesquisas e tendências observadas por empresas de contratação. Embora o trabalho remoto seja a forma preferida de dedicação dos funcionários, a volta do modelo presencial vem sendo exigida por grandes empresas, em especial as big techs, que acreditam em melhores resultados com a presença dos trabalhadores nos escritórios.

O modelo futuro do trabalho ainda não está claramente definido, havendo muitas nuances em relação ao home office, trabalho presencial e híbrido. Mas as últimas pesquisas revelam um passo à frente para o trabalho em escritório. Desde a pandemia, mais de 90% das organizações no Brasil adotaram modelos híbridos, segundo a pesquisa OrgBRtrends, da consultoria McKinsey. Atualmente, no entanto, 51% das organizações operam presencialmente, enquanto 45% adotam o formato híbrido, de acordo com um levantamento da Deel, plataforma de contratação global, com a empresa de pesquisa Opinion Box.

Futuro do trabalho ainda está em debate

“Se, no início de 2024, o híbrido era considerado o ‘novo normal’, movimentos recentes de grandes empresas mostram que o futuro do trabalho ainda está em debate e evolução”, afirma Fernanda Mayol, sócia da McKinsey, em reportagem publicada pela Forbes.

Na contramão da tendência de queda do home office, o modelo remoto tornou-se o queridinho dos trabalhadores. Pesquisa da FIA Business School e da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo entrevistou mais de 1.300 pessoas de diversas áreas em novembro de 2024. O resultado é que 94% dos entrevistados afirmaram que o trabalho remoto melhorou suas vidas, livrando-os do tempo gasto no trânsito, por exemplo.

Gigantes querem retorno dos funcionários

Foto: Adobe Stock

Mas gigantes como Amazon, AT&T e JPMorgan estão exigindo que seus funcionários retornem ao escritório cinco dias na semana, e especialistas sugerem que outras empresas devem aderir a esse movimento em 2025. Executivos de empresas que defendem o fim do trabalho remoto, como o JPMorgan e a Amazon, além do bilionário Elon Musk (dono de marcas como SpaceX, Tesla, Neuralink e X, ex Twitter), afirmam que o modelo prejudica a colaboração e a inovação.

Um dos principais líderes da Amazon, o CEO da AWS, Matt Garman, defendeu a política de retorno obrigatório ao escritório cinco dias por semana, afirmando que aqueles que não concordam podem procurar outra empresa para trabalhar.

“Queremos realmente inovar em produtos interessantes, e eu ainda não vi a capacidade de fazer isso sem estarmos presencialmente”, disse Garman.

Expectativa das empresas X trabalhadores

No Brasil, uma pesquisa recente da Deel aponta que 54% dos profissionais que trabalham presencialmente gostariam de migrar para o modelo híbrido ou remoto.

“Há um descasamento de expectativas: enquanto as organizações buscam modelos mais presenciais, os funcionários valorizam o trabalho remoto”, diz Fernanda Mayol.

Os números parecem confirmar a tendência de queda do trabalho remoto. Até junho de 2024, do total de vagas na plataforma de empregos Guppy, 7% eram híbridas, 5% remotas e 87,2% presenciais. As contratações em modelo presencial saltaram de 55,4 mil em abril de 2023 para 87,1 mil no mesmo mês de 2024.

Modelo híbrido em discussão

Para muitos funcionários, a flexibilidade é tão importante quanto a remuneração — quando não é mais relevante. O modelo híbrido é considerado o mais eficiente por 59% dos líderes de RH, seguido pelo formato presencial (35%), de acordo com levantamento da Deel com a Opinion Box. Mas os modelos de trabalho flexíveis parecem estar em extinção, apontam especialistas.

“A maioria das empresas híbridas vai reduzir essa prática a algo esporádico — um dia por semana em casa ou concessões limitadas pelos gestores”, diz Sylvia Hartmann, CEO e fundadora da Remota, startup especializada em trabalho híbrido e remoto. A executiva acrescenta que “o mercado está caminhando para definições mais claras: nos próximos dois a três anos, veremos empresas decididas e consolidadas em modelos totalmente remotos ou totalmente presenciais”, afirma.

Novas realidades do mercado

O site do Bold, instituto que visa acelerar o futuro profissional de jovens de baixa renda, também entrou nas discussões do fim ou não do trabalho remoto. Para o instituto, o modelo remoto não está desaparecendo, mas se adaptando às novas realidades do mercado. O trabalho híbrido, com flexibilidade e benefícios mútuos para empresas e colaboradores, seria a grande aposta para o futuro.

Por sua vez, matéria publicada na Você S/A já apresenta em seu título sua crença na decadência do trabalho remoto – “R.I.P. (o equivalente a descanse em paz em português) home office: entenda por que empresas estão voltando para o escritório”. A matéria cita diversas grandes empresas, como Disney, Salesforce, BlackRock e Goldman Sachs, que exigiram a volta ao escritório, integral ou parcialmente.

A reportagem cita um levantamento da empresa Unispace, que entrevistou 9.500 funcionários e 6.650 empregadores de 17 países, e descobriu que 72% das companhias já implantaram políticas de retorno ao escritório, seja aumentando o número de dias presenciais, seja excluindo o home office.

Zoom é caso emblemático

O caso mais emblemático citado pela matéria é o da Zoom, empresa de chamadas de vídeo. A marca se tornou símbolo do trabalho remoto na pandemia de Covid-19. Em 2019, eram 10 milhões de participantes de reuniões diárias pela plataforma, contra 300 milhões em 2020. Mas agora, a própria Zoom quer que seus funcionários voltem ao escritório ao menos duas vezes por semana, alegando que isso seria “mais efetivo para a empresa”.

A matéria cita ainda declaração de Ana Paula Prado, CEO da plataforma de empregos Infojobs. “Até empresas que, no passado, disseram que continuariam 100% home office, estão voltando para o escritório”, diz a executiva. “É, acima de tudo, uma mudança de opinião sobre os regimes”, acrescenta.