O uso de GenAI (inteligência artificial generativa) para consultas por prompt, cocriação de arquivos, geração de códigos e outras rotinas que drenam tempo de trabalho é fato consumado. Segundo a relatório Work Trend Index, produzido pela Microsoft e LinkedIn, 75% dos trabalhadores intelectuais usam GenAI no expediente. Dentre eles, 78% acessam suas próprias ferramentas (BYOAI). Contudo, a lista Top 100 Use-cases for Generative AI traz insights sobre os casos de uso mais comuns e revela aplicações inusitadas.

“O uso dessa tecnologia é tão abrangente quanto os problemas que encontramos em nossas vidas”, afirma Marc Zao-Sanders, CEO da Filtered, em artigo na Havard Business Review. Uma seleção de alguns dos milhares de comentários pesquisados pela empresa em sites como Reddit e Quora evidencia que as pessoas conseguem criar e antecipar casos de uso. Uma leitura mais crítica também sinaliza alguns riscos.

“As pessoas estão ignorando os especialistas médicos com a IA generativa. Os especialistas são caros, inacessíveis para muitos e, normalmente, não estão disponíveis sob demanda, 24 horas por dia, 7 dias por semana. E a web é incapaz de fornecer aconselhamento e suporte personalizados. Então, as pessoas estão começando a ver a IA generativa como a melhor das duas: barata, acessível, sempre ativa, instantânea e personalizada”, diz o autor.

Entre os depoimentos, a GenAI para “terapia e companhia” já era uma aplicação previsível para a tecnologia, principalmente para idosos com deficiência cognitiva. A paciência para responder seguidamente a mesma pergunta torna o robô um interlocutor perfeito. Todavia, há também quem use como um substituto do terapeuta ou dos amigos.

A GenAI também é usada como mediadora de conflitos e negociações. Além de gerar avaliações e propostas imparciais, outra função, nesse contexto, é a estimativa de valores justos para o fechamento de acordos.

Outro exercício interessante, descoberto por muitas pessoas, é aplicar a IA para criticar falácias lógicas, imprecisões e gerar contra-argumentos, aproveitando a criatividade destrutiva para depurar as convicções, argumentos e tomadas de decisão.

Além de ganhar produtividade e estudar a tecnologia, muitos usam a ferramenta para pura diversão. “Crie um debate entre Mrs Piggy e Abraham Lincoln”, aparece entre os prompts da lista de Filtered. Questões como “quanto o Seu Madruga deve de aluguel em valores atualizados?” também devem consumir vários megawatts nos datacenters, com a sessão de IA aberta nas horas vagas.

O que os usuários realmente fazem

Entre as 100 categorias, a pesquisa mediu o uso em seis macrotemas:

  • assistência técnica e solução de problemas (23%);
  • criação e edição de conteúdo (22%);
  • suporte pessoal e profissional (17%);
  • aprendizagem e educação (15%);
  • criatividade e recreação (13%);
  • pesquisa, análise e tomada de decisão (10%).

Marc Zao-Sanders avalia que os discursos apocalípticos em relação a IA partem de quem menos usa e ainda subestima quem utiliza. Ele nota que a maioria dos usuários habituais executam a maior parte das atividades de IA com atenção à supervisão. “Essa colaboração entre homem e máquina a faz parecer menos ameaçadora. De fato, para quase todos os casos de uso da lista, há um humano em algum ponto do processo para verificar, aprovar e utilizar os resultados que a IA gera”, destaca.

“Os funcionários querem usar IA no trabalho e não vão esperar pela empresa”, resume a “descoberta nº 1” no Work Trend Index. O relatório esclarece que essa tendência permeia pessoas de todas as faixas etárias.

O macrotema que fica no topo da lista também é um dos principais casos de uso explorado em iniciativas direcionadas pelas empresas. Em atividades que envolvem intensa consulta a extensas fontes de documentação, as organizações buscam reduzir riscos com maior controle do conteúdo e treinamento da GenAI.

Em um post no LinkedIn, André Proença, vice-presidente executivo da FDC, exemplifica a experiência com o ChatGPT para redigir uma carta de recomendação. Ele lembra que foram necessários alguns ajustes no prompt para chegar a “uma carta clara, objetiva e que refletiu o estilo da minha interlocutora”. A entrada de dados ficou por conta do autor. “Nos prompts, expliquei o tipo de texto que precisava e listei algumas características da personalidade dela”, conta.

Noelle Russell, diretorado AI Leadership Institute, avalia que, no segundo ano de uso de GenAI, as empresas já superaram o hype e fazem questionamentos mais objetivos sobre segurança, precisão, justiça e desempenho. Ao mesmo tempo, ela recomenda atenção, suporte e incentivo ao aprendizado já empreendido por iniciativas pessoais. “Os casos de uso impulsionam a compreensão, o escrutínio e a maturidade para alcançar a escala corporativa, diz.