Inicialmente muito relacionado ao repertório da violência de gênero, o termo “gaslighting” já está dicionarizado desde 2018 no Oxford e desde 2022 no Merriam-Webster. Essa modalidade de abuso consiste em desqualificar a memória, o entendimento e a lógica de quem esboce qualquer questionamento. Em matéria do jornal Valor, o assunto é trazido ao contexto das relações no trabalho, principalmente na comunicação com subordinados.
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A expressão vem do filme Gaslight (Geroge Cukor, 1944), em que o Gregory Anton (Charles Boyer) cria uma série de situações para que sua esposa Paula Alquist (Ingrid Bergman), assim como o entorno, duvide da própria sanidade. Na história, um inspetor da Scotland Yard que desconfia das intenções de Anton é ardilosamente impedido de falar com Paula. Entre as recomendações elencadas na matéria do Valor, embora não mencione essa particularidade da história do filme, a abertura de canais entre os funcionários e as áreas de compliance ou RH, paralelos à hierarquia, é apontada como forma de evitar que se chegue ao assédio moral.
Em matéria da CNN, psicólogas explicam como diferenciar conflitos legítimos ou simples falhas de comunicação de comportamentos destrutivos gerados por insegurança, má-fé ou pouca inteligência. “Mais comumente, o gaslighting — também conhecido como controle coercitivo — é realizado por alguém em uma posição de confiança”, diz Monica Vermani, psicóloga clínica do Canadá e autora de “A Deeper Wellness: Conquering Stress, Mood, Anxiety and Traumas”.
Em O Globo, se destacam os clichês dos manipuladores, tais como falas do tipo: “você está agindo como um louco(a); você está exagerando; ou “eu estou apenas brincando”.
Autodescredibilização: como o gaslighting mina a produtividade e a colaboração
O gaslighting não afeta “apenas” o bem-estar das vítimas. Regiane Ribeiro de Aquino Serralheiro, professora de psicologia da Universidade Cruzeiro do Sul ouvida pelo Valor, observa que as pessoas mais vulneráveis ao argumento de autoridade, mesmo sem subordinação formal, acabam se submetendo sem sequer identificar os contrassensos.
Laís Mascarenhas, psicóloga de uma empresa de treinamento, acrescenta que no caso de pessoas com autoestima e senso crítico íntegros, a empresa tem perdas. Afinal, diante da falta de confiança sobre a perspectiva de continuar empregada e a instabilidade em relação às demandas e expectativas, muitos profissionais se limitam ao fazer o mínimo, sem “desperdiçar” (ou gastar mais tempo e energia) com novas iniciativas que dependam de seu talento.
Outro problema sinalizado nas recomendações é que a informação e os registros deixam de ser facilitadores e se tornam instrumentos de “defesa”. Ou seja, o funcionário passa a registrar horários, mensagens, testemunhas e tudo que possa protegê-lo em contestações previsíveis.