A Amazônia é alvo de muitas discussões em torno de seu papel ambiental para o planeta, mas essa percepção precisa incluir as questões sociais e econômicas da região, que costumam ficar em segundo plano nos debates. Esse é um dos principais paradigmas da recém-criada Rede Escolas de Negócios por uma Amazônia Sustentável, que tem como sonho ser uma ‘voz da região’ nas discussões globais em torno dela. A Rede propõe uma mudança de atitude em relação à Amazônia, na qual as empresas podem prosperar sem sacrificar a riqueza ambiental.

A Rede terá pelo menos um representante de escola de negócios de cada um dos países cobertos pela Floresta Amazônica. Atualmente, a Rede inclui a Fundação Dom Cabral (Brasil), a Universidad de los Andes (Colômbia), a ESAN (Peru), a IESA (Venezuela) e a Universidad San Francisco de Quito-USFQ (Equador). O objetivo é que as escolas de negócios atuem como facilitadoras da mudança, promovendo um ambiente em que as empresas respeitem e coexistam com a natureza. A Rede visa unir os esforços que as escolas de negócios desenvolvem em pesquisa, educação e empreendedorismo, convidando o mundo empresarial e a comunidade global a vislumbrar um futuro positivo da região.

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Povos precisam de fontes de renda

Em artigo publicado na Global Focus, revista da EFMD (comunidade de gerenciamento global de educação e desenvolvimento de negócios), Viviane Barreto, Diretora Associada de Estratégia Global e Assuntos Internacionais da Fundação Dom Cabral (FDC) e coordenadora da Iniciativa FDC Imagine Brasil, e Juan Pablo Soto, Vice-Reitor de Relações Corporativas e Professor Associado da Escola de Administração da Universidad de los Andes, abordam uma questão pouco discutida: como proteger os habitantes da Amazônia. “Os guardiões da floresta precisam de fontes de renda”, defendem.

“Como podemos agir sem uma compreensão real do que é a Amazônia? Há uma falta significativa de conhecimento sobre a região. Como o mundo pode falar sobre o futuro da região sem incluir os povos amazônicos?, indagam os autores. “Se alguém vai impedir os povos da floresta de cortar árvores, que antes eram sua fonte de renda, qual será sua nova fonte de renda? Quais serão os modelos de arranjos produtivos? Se quisermos fomentar o turismo ou aumentar a produção e comercialização de produtos típicos regionais, precisamos de infraestruturas e meios de escoar a produção para os grandes centros”, acrescentam.

O papel de empresas, investidores e políticos

Neste contexto, as escolas de negócios visam criar a discussão de como gerar prosperidade social, ambiental e econômica. E defendem que o desenvolvimento sustentável deve ser promovido por empresas, investidores e formuladores de políticas.

“O objetivo da Rede é que as escolas de negócios atuem como facilitadoras da mudança, promovendo um ambiente em que as empresas respeitem e coexistam com a natureza”, diz o artigo.

Território equivalente à Austrália

A Amazônia é considerada a maior floresta tropical do mundo e abrange a bacia do rio Amazonas, que cobre quase sete milhões de quilômetros quadrados em oito países (Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Venezuela e Suriname, bem como o território da Guiana Francesa), o que equivale à área da Austrália. Se a Amazônia fosse um país, seria o 7º maior do mundo.

O rio Amazonas é a força vital da Região Amazônica. É o segundo rio mais longo do mundo, estendendo-se por mais de 6.400 km. A Amazônia abriga um enorme número de plantas e animais, muitos dos quais ainda precisam ser estudados por cientistas. A vida selvagem da Amazônia divide espaço com cerca de 30 milhões de pessoas. Essa população inclui mais de 220 grupos indígenas apenas na Amazônia brasileira, bem como comunidades tradicionais que dependem dos recursos naturais para sua subsistência.

Rede fará seminário na COP30

Em novembro, o Brasil sediará a COP 30, em Belém, na Amazônia. Como parte das discussões sobre clima e desenvolvimento sustentável na Amazônia, a Rede realizará seu primeiro seminário no Brasil, para discutir e apresentar pesquisas, estudos de caso e melhores práticas para o desenvolvimento sustentável e inclusivo na região, reunindo as perspectivas e experiências de cada um dos países membros. “Este é um passo significativo para promover a colaboração e o compartilhamento de conhecimento além das fronteiras, para garantir o futuro sustentável da Amazônia”, diz o artigo.

As versões mais recentes do Relatório do Fórum Econômico Mundial identificaram as mudanças climáticas como um dos cinco riscos mais significativos para a economia global. Na edição de 2024 deste relatório, o clima é classificado como o risco número um. De acordo com o Edelman Trust Barometer 2024, essa questão é uma das três principais preocupações dos 32.000 entrevistados em 28 países. No entanto, estimativas das Nações Unidas apontam para um cenário de aumento de 2,8°C na temperatura em relação ao século 19, bem acima da meta de 1,5°C. Para limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C, devemos reduzir as emissões globais em 9% a cada ano – até 2030 elas devem cair 43% em relação aos níveis de 2019. Infelizmente, elas ainda estão aumentando. “O relógio está correndo”, alerta o artigo.